sexta-feira, julho 13, 2018

Aquela linha que divide uma década


Foto-colagem de Sammy Slabbinck


Quando eu completei 30 anos, uma amiga também prestes a virar balzaca, me perguntou:

·        -  E aí, Mayra, sentiu alguma diferença?
A única coisa que consegui pensar e dizer, foi:

·       -  Sabe quando você dorme de lado e acorda com uma marca na pele entre os dois peitos? Pois é, aquela linha agora demora mais pra desaparecer.
Ao fazer 40, fui novamente indagada com a mesma pergunta, à qual respondi:

·       -  Lembra daquela linha entre os peitos de que falei? Esquece. Fazer 40 é se conformar com os cabelos brancos que começam a dar o ar da graça em todos os lugares do seu corpo, de surpresa, sem aviso prévio. Eu disse TODOS os lugares do seu corpo. Receba e aceite.
Já se passaram dois anos que completei 40 e hoje percebo que vai muito além de brigar com fios ou pentelhos brancos que surgem desavisados. Sim, eu disse “pentelhos brancos”, aquela coisa que causa repulsa, medo, um certo nojinho, aquela dificuldade vaidosa de admitir que eles existem e vão insistir em ficar. Eles chegam como aquela prima distante que vem te visitar pra passar uma semana e nunca mais vai embora. Fazer 40 anos, pra mim, foi entender que a importância que se dá ao que se diz e ao que se pensa sobre muita coisa é infinitamente menor ao que se quer da vida. Explico.

Aos 40, eu faço exercício pra não sentir dor e porque eu finalmente entendi que esse troço faz bem pra minha saúde. Ficar gata e gostosa é uma consequência. Não que eu esteja gata e gostosa, mas é como eu me sinto (ponto pros 40!). A gente não precisa mais se preocupar em ser linda, perfeita e ter a pele maravilhosa pra conquistar ninguém. A gente tem certeza que conquista. Parece que o botão "eu me acho" é acionado e a gente fica se sentindo o último fio de espaguete da Dama e o Vagabundo. Nem sempre é assim, é claro, mas o ego dá uma inflamada bem boa.

Para ficar parecendo uma boneca, aplicativos te garantem pele de bebê e vários coraçõezinhos no Tinder (o que, aliás, aos 40, passa a não ter a menor graça e a porção de paciência pra encontrar alguém com uma conversa razoável diminui consideravelmente - não há inteligência artificial que substitua a emoção do ser humano). Eu sou tempo em que Crush era refrigerante. Pretendente a gente continua ganhando no bom papo, porque “quem sabe, faz ao vivo”, já diria aquele apresentador dominical.

Com 40 anos eu notei que a vida corre em outro ritmo. O que antes era imprescindível, torna-se algo que pode esperar. As prioridades mudam. Aos 30, a gente acha que o tempo urge. Fazemos mil planos pra vida, pra carreira, pensamos se queremos construir família, ter filhos, rodar o mundo, sair ou não de casa para morar sozinhos e fazer festa todas as noites. Decidir largar tudo pra ir morar na praia fazendo artesanato de Durepox e viver da própria arte não é um impedimento. Pelo menos não era. Quando eu tinha 30 a gente se permitia muito mais que ficar obcecado em passar em um concurso público. Não havia tanta preocupação com o tempo (assim como era aos 20). 

Aos 40, o direcionamento do foco de uso do tempo muda e a tomada de algumas decisões passam a ser fundamentais, principalmente pra nós, mulheres. O relógio biológico bate, a família pressiona, as redes sociais julgam e aquela que talvez nem fosse uma preocupação, vira um revólver apontado pra você dizendo “ou dá ou desce, minha filha”. Há que se pensar se quer ou não engravidar e ser mãe. E se não quiser, haja discurso pronto no gogó pra justificar sua decisão. Nem o saco do Papai Noel dá conta de tanta cobrança.

Geralmente, as experiências amorosas já se fizeram e construíram uma parte de quem você é hoje, dentro das realizações e frustrações (to-do-mun-do já se ferrou nesse quesito, concordam?). A definição do que “eu vou ser quando crescer” provavelmente já existe. Sempre há a chance de mudar de ideia, mas o receio de arriscar e os desdobramentos disso fazem com que aquele córrego necessário não seja pulado. E se pular, você pode se afogar até mesmo no raso.

Com 40 anos outras coisas se colocam como primordiais: os aspectos físico, espiritual, psíquico e moral. Não necessariamente nessa ordem. Ao mesmo tempo que decisões se mostram essenciais, outras perguntas aparecem (acho que isso prova que estamos vivos, não é mesmo, minha gente?). Começamos a questionar até a existência do carteiro que não aparece mais nem pra trazer um boleto. Não, pera, boletos são o mal dos 40!!!

O medo de se dizer “não!” vai se dissolvendo. Relações vão se firmando como eternas ou encontram sua finitude. Descobre-se que muitas delas têm um prazo de validade que se define sozinho. E esse período de transição dos temidos “enta”, nos faz entender que ciclos se fecharem e outros reabrirem são mais que necessários. Porque quem anda em rodinha que não sai do lugar é hamster. Buda já dizia que o "sofrimento é opcional mas a dor é inevitável". Aos 40 a gente começa a aprender como lidar com ela. Ou pelo menos tem disposição pra tentar.

Mas fazer 40 anos não se resume só à medida do tempo da pele desamassar ou à aceitação de cabelos brancos que surgem. É claro que cada idade tem seu tempo e seu aprendizado. Aos 20 e aos 30 eu não fiz nem um terço das reflexões que faço agora. Talvez isso já seja alguma mudança que essa fase me sinaliza. Tenho certeza que os anos que me aguardam - se eu chegar muito adiante com essa vida louca que eu escolhi ter até aqui - ainda prometem muitas emoções. Até lá, a gente capricha no hidratante entre os peitos e vai aceitando as surpresas do corpo e vai em frente. Porque se com toda a cama e com toda a lama a gente já chegou até aqui, confiemos em Chico: a gente vai levando.

quarta-feira, dezembro 24, 2014

Para ler na ressaca do Natal


Eu não estou aqui para fazer um texto meloso ou cheio de palavrinhas bonitas. Isso os cartões de natal da Hallmark já se encarregam de fazer há anos. Eu estou aqui pra te dar toda a minha solidariedade e apoio neste momento tão difícil: a ressaca pós-ceia. Sim, se você ainda não teve, vai ter. Eu sei do que se trata e posso dizer: não é fácil. Dia 24 de dezembro celebra-se, mundialmente, o Dia Internacional da Comilança e da Bebelança. Os excessos a gente vai cometendo ao longo do mês com as tais confraternizações. Apenas desculpas pra gente se reunir, encher a cara e a pança. E reclamar no dia seguinte que exagerou.

Eu não confraternizei muito este ano. Um pouco por falta de tempo e disposição; uma parte por preguiça de fingir que gosto de determinadas pessoas que não se relacionam direito com você o ano inteiro e em dezembro querem fingir que te amam; outro tantinho porque eu tô ficando velha mesmo e, como diz a minha mãe, "eu só dou conta de um passeio por final de semana". Porque ela sempre vem, implacável: a ressaca. E depois dos 30, dos 40 anos, aquela que era sua melhor amiga aos 20, se torna sua maior rival. Você faz de tudo pra não se encontrar com ela no dia seguinte e fica se entupindo de Engov, põe na bolsa um Epocler e pensa duas vezes antes de pedir a saideira num final de semana. A idade pesa, meu amigo.

Mas nem por isso você deve se comportar como uma freira. Até as renas têm cara de loucas. Falta de juízo é bom e eu gosto e de gente chata e sem graça o mundo já está cheio. Eu fiquei atolada de trabalhos da pós pra entregar e, quando finalmente me vi de "férias" dos estudos, uma crise de asma bacana me pegou. Só não me derrubou porque sou uma mocinha crescida que já sabe o que fazer quando ela vem. E cá estou, me economizando pra dar conta dessa última e fatídica semana do ano. Meu fígado é meu amigo e unidos venceremos. Prepara a jaca porque eu vou dar uma pisadinha nela.

E como eu sei que quando estamos de ressaca temos preguiça de existir, não vou ficar te enchendo com um monte de texto que nem dá ânimo pra ler. Estou aqui para lhe desejar muitas alegrias nas suas comemorações, um Natal de paz e boa digestão. E muita água, o elixir sagrado da recuperação.

Feliz Ressaca!! Esses são meus votos mais sinceros, porque sou sua amiga e tenho consideração por você, acredite. E não se iluda, ainda tem mais uma semana de arregaço pela frente. Quem se comportar por último, é mulher do padre.

Beijinhos de boas festas, com um kit remedinhos na bolsa pra curar o que ainda está por vir.

quarta-feira, novembro 26, 2014

Live and let die


Eu já fui melhor nisso. Nessa coisa de me animar pra assistir grandes shows. Não que eu não goste, pelo contrário, mas quando penso em toda logística envolvida, no tempo gasto e no cansaço que vou ter, eu penso duas ou três vezes antes de ir. E geralmente desisto. Mas era o Paul McCartney e na minha cidade.

Dito e feito. Foram quase sete horas em pé na chuva. Duas horas de antecedência pra evitar filas e garantir um lugar razoável, fichas de bebida e ida ao banheiro. Uma hora e dez de atraso, quase três de show e mais uma hora e pouco pra conseguir ir embora e pegar um táxi pra casa. Ah, esqueci de dizer que incluí minha mãe nessa história toda. Dizem que ser mãe é padecer no Paraíso. Nesse caso, o "Paraíso" se chamava Mané Garrincha.

Eu nem vou perder tempo aqui dizendo que o show foi lindo, que o Paul é ótimo, coisa e tal. Isso dispensa comentários. Foi meu segundo show dele, eu já esperava por isso. Bacana foi vê-lo na minha cidade (ou outro eu vi em Recife) e com meus amigos. Tudo bem que não conseguimos nos encontrar direito porque celular nenhum falava lá dentro, mas a gente finge que conseguiu ver junto e pronto.

Cismei que um dos guitarristas do Paul parecia com o McFly, o pai pateta de "De Volta Para o Futuro" e não conseguia tirar o olho dele. Tá, confesso que achei ele gatinho. Enquanto a amiga babava pelo guitarrista loiro que eu achei parecido com um David Bowie depois de um tornado. O Paul entrou no palco vestido de garçom do Beirute, achei lindo aquilo. Glaro que não foi de propósito, mas pra mim foi. Brasília agradeceu imensamente. Cícero que se cuide.


Ir embora foi uma saga. A gente quase se jogou no meio do Eixo Monumental pra conseguir um táxi. Cheguei a cogitar de nós irmos de bicicletinha laranja do Itaú, tamanha dificuldade por um transporte. Imaginei a cena: nós todas com capa de chuva, pedalando pela cidade de madrugada. Seria uma cena perfeita do E.T. Seria demais colocar mamãe numa dessas. Só ia faltar o Spielberg.

Eu não sei se estou ficando velha ou se já passe por isso demais na minha vida e não tenho mais saco mesmo. Mas ir pra esses eventos e enfrentar essa mão-de-obra toda dá uma canseira que chega desanima. Tem que valer muito a pena. Esse show valeu. Já andam falando dos Rolling Stones virem pra cá ano que vem. Já tô me vendo de novo nesse esquema. E lá vou eu carregar mamãe comigo mais uma vez, querem ver só?

Beijinhos de velha caquética e reclamona.

terça-feira, novembro 18, 2014

A Caverna do Dragão


Eu sou uma pessoa que tem fome por natureza. Eu gosto de comer, isso é um fato. Tenho prazer pela comida. Fazer dieta pra mim é uma tortura. Não me venham com papinho de que dá pra fazer dieta com comidas boas e saudáveis. Não, não dá. O que é bom engorda mesmo. Caso encerrado. Eu gosto é de bacon. Ainda assim, eu não sou uma glutona, como com (alguma) moderação.

Fiquei agora duas semanas de molho por conta da cirurgia, tomando antibiótico e sem beber. E tive que ficar em casa pra cuidar do curativo. Pronto, chegamos no problema.

Essa história de ficar em casa é um caso sério. Você fica lá cercada de coisas bacanas e de tentações: computador, televisão e livros. Mas o que você não lembra é do dragão e da sua caverna. Sim. Toda casa tem e ninguém se lembra disso: a geladeira e a cozinha. E pra quem gosta de cozinhar, como eu, isso é um verdadeiro desespero. Caso de polícia, eu diria.

Eu sentava na frente da televisão pra ver novela e ficava pensando no que eu poderia fazer pra jantar. Mal me concentrava no Comendador e no diamante cor-de-rosa, já começava a pensar que tinha salmão no freezer, requeijão, alcaparra e batata na geladeira e que dava pra rolar um escondidinho show. Lá ia eu pra caverna do dragão. A novela que esperasse.

Sentava pra ler os livros da pós-graduação e em meio às histórias sobre eleições presidenciais e a vida do Roberto Marinho, pensava no carpaccio abandonado no congelador, coitado, na mostarda na porta da geladeira e na rúcula que ia estragar. O dragão já tava lá me esperando com um risinho maroto.

Colocava um filme bestinha pra assistir, esquecer da vida, chuvinha caindo no meio da tarde. Lembrava da banana na fruteira que ia perder, daquele chocolate com 85% de cacau que a irmãzinha trouxe da Europa e que ia ficar lindo dentro dela assada no forno, assim, todo derretido e esparramado, escorrendo na minha boca. Dragão já com lixa de unha e perna cruzada me olhando de soslaio e ironia nos olhos, me aguardando sentado no banquinho. Palhaço.

E assim a minha vida de enferma se seguiu. Um quitute atrás do outro e nenhum remorso. Concluí que antibiótico dá larica. Pensem nisso quando o médico receitar pra vocês, viu? E olha que eu nem fumei o remédio. A fumaça eu deixei pro dragão, aquele safado que nem dividia comigo as calorias, só me olhava e dava uns risinhos. Ainda bem que São Jorge apareceu pra dar um jeito nele.

Beijinhos de quem agora precisa correr pra academia pra dar cabo do prejuízo.

terça-feira, novembro 11, 2014

Meu Querido Alien


Aí que um dia eu acordei e tinha um amendoim saindo no meu ombro. Tomei um susto daqueles e achei que o caroço que outrora aparecera no meu estômago tinha resolvido se libertar por conta própria pelo andar de cima. Desesperei, dramática que sou. Afinal, estava bastante dolorido e inflamado. E como eu sou muito mole pra dor, achei que já estava com meus dias contados.

Corri pra emergência de um hospital do Lago Sul, onde esperei quase DUAS HORAS pra ser atendida. Era um domingo e minha mãe me esperava pro almoço. Desisti de esperar e fui atrás de colo materno. Nessas horas, se você não está morrendo, grávida-perto-de-parir ou idosa, você perde seu lugar na senha pra todos os preferenciais que aparecem. E eles aparecem, acredite, em quantidades industriais. Mamãe tratou meu amendoim com arnica e muito carinho. Deu uma boa aliviada. No dia seguinte, fui ao médico ver o que era, pois incomodava muito e parecia mais inflamado ainda. "Compressa e pomada", ele receitou. Achei estranho não me dar nenhuma droga pra tomar. Consenti. Afinal, eu sou jornalista, não sou médica.

Três dias depois, o amendoim tinha crescido e sido promovido pra pistache. E eu não aguentava mais de dor. Meu braço mal levantava e então corri para a emergência de mais um hospital. Depois de outras duas horas de espera, o clínico geral olhou, examinou, pressionou, e quando menos esperei, ele estava ESPREMENDO, assim, sem dó nem piedade. Eu gritei com nunca mais tinha gritado na minha vida. Fiquei toda contorcida de tanta dor que cheguei a tremer. Então ele me falou que eu tinha que tomar anti-inflamatório, antibiótico, fazer compressa e continuar espremendo em casa, como se isso fosse fácil. "Eu não sou nenhuma divindade hindu, só tenho dois braços e dois olhos, difícil fazer isso que o senhor tá pedindo, dotô".

Quatro dias depois, o remédio tinha feito efeito (adoro esse som de repetição!) mas a bolota continuava aqui, firme e forte. Determinada. Parecia uma bola de gude meio que derretendo na minha pele. Se vira aí pra imaginar. Algo muito estranho. Passei a chamar carinhosamente de "Meu Querido Alien". Mostrei pro meu pai e pedi pra ele espremer, já que o médico tinha mandado fazer isso. Ele recuou e disse: "isso é coisa pra profissional. Procure um dermatologista amanhã mesmo". Lá fui eu. O pai manda, a gente obedece.

A médica, de minha confiança, examinou minuciosamente e delicadamente (se espremesse eu juro que faria um escândalo) e me falou que era caso para uma micro-cirurgia. Marcamos para o dia seguinte, no caso, hoje.

Encarei anestesia local, bisturi e levei pontos. Quando abriu ela se certificou de que Meu Querido Alien se tratava de um cisto sebáceo que criou vida própria e inflamou (muito). Segundo ela, saiu tanta coisa lá de dentro que eu chamaria de pasta de amendoim pra ficar menos nojento. Tô aqui de molho, curativo nas costas e medicada. Aliviada de pensar que poderei dormir de forma mais confortável (só daqui a uns dias, eu sei) e livre desse incômodo. Mas pra uma coisa esse caroço serviu: o blog voltou! Vamos comemorar? Sem brinde porque eu tô sem beber, please.

Beijinhos de mulher remendada, que tarda mas não falha.

sexta-feira, novembro 29, 2013

Sem lenço nem documento



Outro dia, depois de uns vinhos e da notícia de promoção de passagens aéreas internacionais, sentei com um amigo em frente ao computador e desandamos a testar destinos, assim... ao léu. Enquanto o preço estava acima do que considerávamos justo, tentávamos outro país, até pararmos no México. Vamos pra lá ver a festa dos mortos? Só se for agora! E assim, compramos. Na empolgação, mais gente animou e resolveu nos acompanhar. E viva as promoções da TAM!

Minha fama de instável é tanta que tenho um amigo que sempre me disse: "só vou acreditar que você vai pro México quando comprar as passagens, porque sempre planeja e nunca efetiva". Tudo bem que essa foi a TERCEIRA vez que eu planejei ir pra lá nessa época, já tinha cancelado anteriormente depois de passar o ano inteiro falando no assunto. Pois pronto. Passagens compradas e hotel reservado. Vai duvidar agora?

Faltando duas semanas pra viagem, descubro que vai rolar um curso de pós-graduação que muito me interessa e me animei toda. Descubro então que a prova de seleção seria bem no meio da viagem. Oh dúvida cruel!!! Que nada, não demorei nem meia hora pra decidir cancelar a viagem toda pra tentar uma vaga. Pois é, sou desse modelo: instável emocionalmente. Ou louca. Você decide aí.

Conversei com os companheiros de viagem, que foram compreensivos, e mais uma vez, mesmo de passagem comprada, eu desisti. Se um terremoto não tirar ele do lugar, o México continuará lá. Minha credibilidade foi pro espaço depois dessa, eu sei. Mas enfim, que se há de fazer? Mesmo correndo o risco de não passar na prova, eu arrisquei. Pois bem, eu fiz e passei. Ufa!

Aí veio a parte mais divertida: recolher os documentos pra fazer a matrícula. Aviso logo: eu sou uma desorganizada funcional. Explico. Tenho tudo guardado mas não sei onde as coisas estão quando mais preciso delas. Pior: guardo tudo espalhado, mas muito bem guardado. Devo ser doida, mas sei que não sou a única.

Primeiro me dou conta de que não tenho mais cópia do meu histórico escolar. Ligo pra UnB pra pedir uma segunda via e pedem minha matrícula. Porra! Saí de lá tem 8 anos!!! Eu lá me lembro desse número??? Vai com meu nome completo aí e se vira. Pronto. Histórico na mão, fui pra casa feliz.

E o diploma, onde eu guardei? Cara, a última vez que mexi nesse papel foi pra tomar posse no Senado, isso já vai fazer 5 anos e eu fiz duas mudanças no meio disso. Quem disse que eu sei onde é que ele está? Tinha que estar na pasta de sempre, mas É LÓGICO que não estava lá. Pedir segunda via ia demorar muito, o jeito foi desbravar a casa. Já quase sentando pra chorar, finalmente encontrei o dito cujo dentro de uma sacola da Renner, no meio de outros papéis, guardado no meu armário de roupas. Não me perguntem como foi parar lá, ou melhor, perguntem pra minha diarista, que adora brincar de Saci e esconder minhas coisas. Dessa vez a culpa não foi minha, juro!

Ok. Histórico e diploma em mãos, o resto tá fácil. Lá vou eu sentar pra reunir tudo num envelope pra fazer a matrícula e vem a terceira etapa dessa jornada: que fim levou minha certidão de nascimento?? Ai cacete!! A coitada tava se desmontando inteira da última vez que mexi (tô velha, gente, o papel tem 37 anos bem vividos) e lembro de ter dobrado pra não rasgar e guardar bem guardadinha. Mas onde??? Não achei. Não mesmo. Pois é, perdi. Liguei pro RH do Senado e pedi uma segunda via da cópia que tinham lá. Já me convenci de que terei que ir em breve ao cartório pedir outra nova. Ou casar pra arrumar uma substituta.

E quando eu acho que acabou meu desespero e que posso, finalmente me matricular, dou falta do título de eleitor. Podem me bater. Durante as férias (que eu tirei pra ir pro México mas não viajei), fiz o recadastramento biométrico e... sei lá, onde pus o novo, minha gente!!! Que coisa mais difícil ter que pensar nisso tudo... Em completo desespero, pus minha diarista maluca junto comigo a procurar. Saí pra trabalhar já pensando em pedir pro RH de novo, quando ela me liga dizendo que encontrou socada dentro de uma bolsa. Santo Saci!

E hoje eu saí pela estrada fora bem contente pra me matricular, aos 45 do segundo tempo. Com aquela sensação que a gente tem sempre que viaja: será que esqueci alguma coisa? Felizmente, tava tudo em ordem. Depois dessa eu resolvi que vou fazer uma faxina na minha papelada e tentarei ser uma pessoa que se organiza com pastas, prometo. Até a minha próxima viagem pro México, eu juro que faço isso. Hihihihihi.  Ou não. Quem se importa? Afinal, a vida é muito mais interessante quando se vive perigosamente, não é mesmo? Quero ver onde vou colocar o certificado dessa pós quando terminá-la. E não, não precisa me dar sugestões. Eu já sei que vou perder essa também. Ou essa não seria eu.

Beijinhos de quem se arrisca e se diverte no final.

quinta-feira, maio 02, 2013

Ai, ai, Banksy! Assim você me mata!




Aí a pessoa deixa o celular cair no táxi na hora de pagar a passagem. Ok.

Aí a pessoa se dá conta, liga pra empresa de táxi e dizem que não, que você tá doida e que nada foi esquecido lá. Você se contenta, triste.

Mas aí a pessoa TEM CERTEZA que não tá doida, liga vinte vezes pro próprio celular, que só chama e não atende, e resolve dormir com o aparelho fixo do lado da cama. Afinal, quem rouba desliga logo, né?

De manhã, tipo umas cinco horas depois, uma manicure te liga (e você assim... ainda meio bêbada, bora combinar) dizendo que você esqueceu o celular no táxi do irmão dela. Pega o número do seu primo de contato e tudo fica lindo, dizendo que te liga quando sair de Valparaízo. Hein ? Tá, né?

Aí você relaxa, fazer o que?

Então você, dona do celular, fica tranquila - afinal, acharam ele -, pega a prima no aeroporto e vai encher a cara no boteco. NUNCA RECEBE um feedback da porra do celular da manicure. Já acha que é pessoal. Não acha. Tem certeza.

Aí liga pra central de táxi pra localizar quem-quer-que-seja e dizem "ele disse que nada foi encontrado no veículo". Hein? Não foi nenhum parente???

Aí você surta, afinal, já bebeu. E perdeu a merda do celular.

Agora não tem nada pra dizer.

(Uns três shots de qualquer bebida são virados por conta da otarice da qual você se sentiu passar)

(...)

Você faria o que? Bloquearia o telefone? Pois é. Feito isso...

O taxista, que antes falou que não conhecia ninguém que tivesse encontrado o celular no carro dele, muda de ideia:

- Minha irmã achou, tá na casa dela, no endereço tal.

Aí a pessoa larga o bar e se taca pro tal endereço. Encontra uma porta toda fofa com Calvin e Haroldo de decoração. Bate uma, bate duas, bate três. Um garoto abre e diz que ninguém com aquele nome mora lá. Meus olhos, já prontos pra chorar, são acalentados por uma vizinha que abre a porta e diz: "Mayra"?

Sério. Quase morri. E aí, sem muita conversa,ela  me entrega meu celular.

Voltei pro boteco. Semi-morta. Calada. Quieta. Tranquila. Celular agora tá bloqueado e a pessoa (no caso, eu) precisa se dirigir a uma loja física pra resolver o problema.

Fiz a coisa certa? Ou não? Não sei, só sei que foi assim.

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Uma Grande Maçã gelada



Depois de dias de ansiedade, cheguei de férias em Nova Iorque super gripada. Depois de enfrentar nove horas de voo sem um único remédio pra tomar, fui esperar meu amigo-anfitrião numa simpática praça de Chinatown sob chuva e muito frio. Ainda assim, achei tudo lindo.

- Mayra, seja bem-vinda! Que pena que você está gripada, achei que iríamos tomar uma cerveja hoje.
- Ué, quem disse que não vamos? Estou em Nova Iorque!!!

E assim foi. Carinho do amigo de muitos anos, encontro com a pequena irmã, passeios, risadas, comprinhas e muito, muito frio.

Eu nunca tinha visto neve e confesso que estava bem preocupada com as temperaturas abaixo de zero que me aguardavam. Checava a previsão todos os dias. Mesmo os sete graus negativos não me assustaram nem me impediram de sair de casa. Dizem que a vitamina C americana é excelente. Usei e abusei. Afinal, eu estava de férias nos Estados Unidos, néam?

Consegui fazer amizade em bares a cada saída. Treinei o inglês, conheci cervejas e pessoas novas. Deixei até escapar, certa noite, que nunca tinha visto a tal chuva congelada e seus flocos brancos. Na mesma noite, por obra do destino, começou a nevar de uma forma poética. Alvo e lento. Então as pessoas da casa de jazz onde eu me encontrava se mobilizaram para mostrar pra gringa (no caso, eu) como era a neve. Me levaram lá pra fora, tiraram fotos da minha cara de boba, me abraçaram e brindamos à minha mais nova experiência. Pronto, perdi ali a virgindade "nevística".

Depois disso a neve se tornou uma constante. Eu já estava íntima. De repente, fico sabendo que está vindo uma tempestade com direito a nevasca. Vejo notícias na imprensa brasileira fazendo alarde, avisando que os moradores deveriam fazer reserva de suprimentos, se proteger e evitar sair de casa. Oi?? Pois no dia da tal nevasca eu estava perambulando pelas ruas, visitando museus, indo a restaurantes e passeando debaixo da tempestade de neve. Ríamos encantadas. Tive o prazer de pisar naqueles flocos macios espalhados no chão, caminhar sobre o chão branco aprendendo a não escorregar naquele gelo todo. Verdadeiras aulas de malabarismo e jogo de cintura.

Nevou muito. O frio não deu trégua. E eu parecia uma menininha. Minha infância no calor de Teresina não previa estar num lugar tão gelado e me divertindo tanto. A neve é linda enquanto cai, mas depois que cai, vira um suplício. As ruas ficam cheias de gelo, há o medo de escorregar na rua, o frio que piora e a umidade do ar que despenca e faz os lábios racharem. Mesmo assim eu achei tudo divino e maravilhoso.

Sim, eu vi poesia na neve, mas voltei com uma certeza: sonho realizado but it was enough! Não quero saber de neve tão cedo na minha vida. A viagem foi mágica e eu me diverti muito, mas chegar no Brasil no meio do carnaval e fazendo dias lindos de sol e temperaturas altas não teve preço. Nessas horas é que a gente se dá conta de que um país tropical tem seus encantos e vantagens. E eu adoro isso.

Mas decidi também que quero voltar a Nova Iorque muitas e muitas vezes. Mas sem neve, por favor! Como diz meu pai: tudo que é demais, cansa! Mesmo que seja mágico e bonito.

Beijinhos aquecidos pelo calor humano recebido na minha volta pra casa e com muuuuuitas histórias pra contar.

segunda-feira, novembro 12, 2012

Porque eu sou como o Jack, prefiro ir por partes...


Diz aí pra mim: você levaria pra sua cama uma fatia do bolo ou o bolo inteiro pra comer? O que é mais prático pra você, a parte ou o todo? Livros deveriam ser pensados da mesma maneira pelas editoras. Tenho visto muito em livrarias edições unindo todos os volumes de uma série de uma vez com poucas opções de venda em separado. E quando elas existem, são extremamente caras, te obrigando a levar o tijolão pra casa pra "economizar". 

Aí vem a questão: comprar volumes separados ou coleções inteiras em edições especiais? Sinceramente? Eu acho que quando reunidos, deveriam vir acompanhados de um vale-academia: cada capítulo, 3 aulas de musculação. Se a pessoa ler deitada, é claro. Malha o bíceps e o tríceps que é uma maravilha. Agora se ler sentada, tem que rolar mesmo é um vale-Pilates, no mínimo. Porque haja preparo físico pra tantas páginas de uma vez só e postura física pra dar conta disso tudo.

Edições de luxo são lindas (eu mesma, adoro!), principalmente na prateleira. Ou em cima daquela mesa de centro da sala pra fingir que o dono da casa é cult. Mas só serve pra isso. Falo sério Tô pra ver quem se senta e lê tijolos de capa dura e fios dourados lindos com 40 cm de altura e 10 cm de grossura deitado na cama. Se você consegue folhear isso com o corpo na horizontal, meus parabéns!, tenho certeza que irei te ver no próximo Iron Power Super Fitness Club Body Shape Championship. Uhuuuu!

Cansei só de pensar.

Isso me lembra quem diz que ler cansa, né? Ô, se cansa! Ainda mais nessas condições. Se as editoras pensarem mais nisso e não em como é mais fácil ganhar dinheiro, talvez seja menos cansativo que algumas horas na academia. Aliás, se academia fosse ruim, a principal e mais respeitada do Brasil não seria a de Letras e, muito menos, seriam imortais aqueles que fazem parte dela, não é mesmo? Tá, já tô misturando as bolas. Voltemos à pauta.

Livro bom é aquele que a gente carrega com a gente, leva na bolsa, lê no metrô, na sala de espera do dentista. Aquele que fica te esperando na cabeceira da cama pra ser consumido antes de apagar o abajur. É o que você leva pro banheiro na hora do aperto, lê no café enquanto espera a trufa, coloca na bolsa pra qualquer imprevisto ou espera que venha a ocorrer. 

Como ter vários volumes em um só nesses momentos? Imagine os três volumes de O Senhor dos Anéis em um só? Inventei de dar de presente pra mamãe quando estreou o primeiro filme pouco antes de ela viajar de férias. Depois de muito me enrolar ela confessou o tormento que foi levar aquele livro no avião, o suplício que era segurá-lo na cama pra ler, o peso que fazia na sacola de viagem. E eu lá, achando que tinha feito um bom negócio e a coitada carregando uma mala a mais. Entenderam o que eu tô querendo dizer?

Editoras!!! Atentai bem!!! Existem leitores e eles gostam de vocês. Que tal um agradinho de vez em quando? A gente promete retribuir com boas recomendações, presentes sinceros e publicações em redes sociais. Vamos fazer edições separadas legais também e a preços justos? Eu continuo amando vocês e suas edições especiais, aliás, minha mesa de centro e a professora de Pilates super agradecem, mas poder carregar um livrinho mais leve e optar pelos volumes em separado ou não é um livre arbítrio do leitor, concordam? Vou ficar de olho, hein?

Beijinhos de leitora de cabeceira e colecionadora de prateleira ranzinza.

segunda-feira, agosto 13, 2012

Amar é...


Acho que Domenico De Masi, quando inventou o termo "ócio criativo", não imaginou como seria usado. Entrei de recesso de uma semana em julho e não fiz nada, absolutamente nada. Tá, eu dormi. Dormi, li, vi televisão e comi (porque saco vazio não pára em pé). Para alguns, isso pode ser considerado alguma coisa, mas pra um ser inquieto e hiperativo como eu, é o mesmo que ter jiboiado por horas depois de comer e criado raízes na cama de tanto preguiçar. Ou seja, ócio puro. E nada criativo, confesso.

Tive um momento de insight quando vi no Facebook, numa página de coisas antigas que acompanho (sou daquelas que diz que nasceu na época errada, adoro coisa velha), um álbum de figurinhas do saudoso Amar É. Quem tem mais de 30 anos sabe do que se trata. Nostálgica como sou e ociosa como estava, logo pensei se ainda existiam esses álbuns onde a gente comprava cromos auto-colantes e os trocava com os amigos, às vezes até num jogo de "bafo" (rá! não leu Luluzinha e Bolinha, né? Procura no Google!).

Aí eu resolvi que a única coisa útil (oi? útil?) que eu faria no meu recesso seria procurar um álbum bem bacana pra eu preencher como nos velhos tempos. Então eu me dei conta que colecionar figurinhas não é divertido se não tiver ninguém pra trocar as repetidas com você, concorda? "Tem problema não", pensei, "É só eu escolher alguém pra ser meu coleguinha e pronto". A pessoa estar a fim disso ou disposta é oooutra história. E elegi o mais lúdico dos meus amigos.

Pus meu plano em prática: combinei de almoçarmos juntos e cantei a pedra. Ele gostou da idéia (ah, tinha que gostar, ia brincar mesmo se não gostasse, garanto!) e me deixou escolher algum álbum legal pra gente comprar. A gente? Opa! Quem tava ociosa era eu. Saí do almoço em busca das bancas perdidas, perguntando e vasculhando prateleiras. Tudo o que eu achava interessante, ligava pra ele - que de ocioso não tinha nada, estava trabalhando loucamente - pra dizer: "Harry Potter ou Batman? Angry Birds ou Valente?". Até que ele não atendia mais minhas ligações e comecei a me comunicar por torpedo. Sem respostas - claro, ele não tinha obrigação nenhuma de compartilhar da minha loucura - resolvi que ia decidir sozinha. Sempre fui independente, oras. Até porque eu tinha esquecido que tinha escolhido o amigo mais lúdico e mais exigente também. "Mayra. não tem um tema também da nossa época, tipo Snoopy ou Turma da Mônica?". Não, não tinha. Tá pedindo muito, já.

Na primeira banca que entrei, fui hostilizada porque não sabia ao certo qual álbum eu queria e pedi pra ver todos. Afinal, eu estava enferrujada há anos!!! A vendedora mal-humorada me disse:

- Ah, minha filha, mas são muitos pra eu pegar pra você ver.
- Tem problema não, tô com tempo de sobra pra ver.
- É, mas eu não tô com tempo de sobra pra te mostrar.

Tratar assim uma mulher de 36 anos que quer brincar de figurinhas pode, Arnaldo? Na Banca da Rodoviária pode. Saí de lá puta da vida e me debandei pra asa sul. Onde já se viu?? Decidida a voltar pra casa com meu álbum em mãos, fui parando de banca em banca. Quando eu já estava lá pela décima terceira ou quarta, encontrei, finalmente, algo que "nos" agradaria: Mundo Mágico Disney. Conta desde o primeiro filme de animação até os atuais, da Pixar. Da Branca de Neve ao Carros 2. Super bacana, bonitinho e colorido. Pronto, resolvi. Dois álbuns pra viagem por favor! E não reclama não, Marcelo!

Foi aí que veio a segunda parte e a mais difícil: encontrar as figurinhas. Rodei mais umas dez ou doze bancas (eita falta do que fazer, hein?!) até encontrar pra comprar uns 30 pacotinhos ao todo. Eu, que tinha saído de casa pra almoçar, cheguei com o sol se pondo e looouca pra sentar e colar meus cromos. Cada vez que colava um mais torto eu tinha vontade de morrer. Pô! Assim meu álbum vai ficar feio, né? Pode não.

Então liguei pro coleguinha e avisei: "Tô com teu álbum aqui. Temos que almoçar de novo pra eu te entregar". E como todo ócio criativo que se preze, eu fui a pessoa mais empolgada do mundo até cansar. Quando fico muito tempo sem comprar figurinhas, olho pro álbum e penso: "Será que o Marcelo já trocou com alguém? Será que eu saio pra comprar figurinhas e ligo só pra contar que já tenho mais do que ele? Hihihi".

Mas a brincadeira nos tempos de hoje está sem graça. Se você não trocar os cromos ou ganhar dos amigos no bafo, basta entrar na internet, marcar os números que faltam e pronto, chega tudo na sua casa bonitinho e completinho. Mas como eu sou nostálgica, vou continuar tentando completar o meu sozinha. Só assim pra eu entrar em bancas de revista e reviver meus tempos de menina. Se alguém quiser brincar comigo, ficam a dica e o convite. Conheço um bando de gente que compra álbuns dizendo que é pros filhos só pra ter o prazer de brincar. Ahã. O importante é se divertir, não é mesmo?

Beijinhos autoadesivos pra vocês.

quarta-feira, julho 04, 2012

The Book is on the Table, EVER!



(Texto publicado em 30 de abril de 2005)


Eu não sei falar inglês. Eu finjo que sei. Aliás, finjo muito bem, se querem saber. Pra não pensarem que sou uma completa ignorante no assunto, posso dizer que me saio muito bem quando tomo umas e outras ou quando estou sob pressão. Aí viro poliglota. Faço até tradução simultânea. Ahã. 


A coisa funciona assim: no meu estado normal (sim, ele existe) eu entendo até bem quando ouço alguém falando e leio em inglês direitinho. O problema é que eu moooorro de vergonha de falar. O pouco que eu aprendi me garante a comunicação (gente, eu me comunico sempre e de qualquer jeito, é bom que isso fique claro!), mas eu não sei construir frases muito bem. Para acabar com essa vergonha, só (muito) álcool. Ou a necessidade pura e simples. Oh yes!


Momento será-que-dá-pra-chamar-ela-ou-tá-difícil?? 


Há alguns anos, minha adorável prima foi fazer um curso no Japão. Nessa época, eu morava sozinha e adorava dar telefonemas de madrugada pra todo mundo, uma vez que eu chegava tarde em casa das baladas e a tarifa era mais barata. Imaginem então pro Japão, já que rolava sempre a diferença de fuso e aquela sensação de não acordar ninguém, pois era dia lá!!! Até que Ana Paula Arósio me aparece com aquele rostinho de boneca na tv e me conta que ligar pro Japão tá com um precinho ótimo com o 21. Ôpa!!! Vamos nessa!! Cheguei em casa por volta das 4h da manhã já animadíssima de tanta cerveja e decidi matar saudades da priminha. Liguei pra escola dela e uma voz ajaponezada atendeu falando-qualquer-coisa-que-eu-não-entendi (ah, gente, entender inglês já é difícil, falado por um japonês então... tão querendo muito!!), supus ser algo tipo "Escola Japonesa Que Ensina Brasileiros, boa tarde". Fiz voz de aeroporto e falei (vagarosamente): 


- Please, I want to talk with Clarissa Carvalho. Room eight-eight-seven. (ufa! Acho que consegui!). 

- Origami sukiyaki ikebana karate. 
- Helloo-ôu! I said room eight-eight-seven, please! 

- Cri-cri-cri...
- Helloo-ôu! I said room eight-eight-seven, please! - Sushi sashimi tai chi chuan sayonara. 

Eu tava quase ficando louca e me convencendo que um sobrinho do Buda tinha atendido ao telefone, até que um ser falou comigo em inglês e me disse que minha prima tava viajando pra Tóquio, a passeio (chato, né?). Pra não perder a ligação, passei boa parte da noite conversando como o fulano, um tal de André. Não entendi bem de onde ele era nem que curso tava fazendo. Mas dei boas gargalhadas (garanto que ele também) depois de meia hora de papo. Tive a certeza de que tinha me saído bem quando falei com minha prima num outro telefonema e ela me disse tudo o que nós tínhamos conversado (ele contou pra ela). Ponto pra mim! A coisa foi tão bacana que eu até pedia pra chamá-lo quando ligava e ela não podia atender. Virou meu melhor amigo (ahã).  O que a cachaça não faz... 


Momento pra-holandês-ver: 


1997, carnaval em Olinda. Eu e Mrs. Aviani chegamos com nossas mochilonas e fomos procurar a casa onde iríamos nos hospedar. Como não tínhamos compromisso com nada, o calor tava grande e as ladeiras não acabavam nunca, decidimos sentar num boteco e tomar uma gelada para descansar um pouco e continuar a jornada (tão pensando que é fácil desfilar por aquelas ruas com um peso enorme nas costas??). Relaxamos tanto que encontrar a casa virou um mero detalhe. Eis que passa na nossa frente um cara leeeeiiiindo, sem camisa, com umas tatuagens bacanérrimas e um bronzeado-de-gringo sem igual, com cara de perdido. Como nós. Ficamos só babando. Eita que esse carnaval promete... 


Quando encontramos a casa que tínhamos alugado junto com a torcida do Flamengo, a do Corinthians e a do Sport Club do Recife (affe, nunca vi tanta gente num lugar só!), demos de cara com quem, com quem???? Uma nota, Maestro Zezinho!!! O cidadão-tatuado-no-braço-calção-corpo-aberto-no-espaço-coraçãããão!!! Isso mesmo, o gringo gato com cara de perdido que tínhamos visto lá no bar. O mocinho também estava hospedado na nossa casa. (Batendo palmas, clap clap. Dando um grito uuuuuu. Levanta a mão passando energia!!!). Só nos restou fazer amizade, é claro (depois das cervejas, tudo é possível). 


Descobri que o bofe era holandês, morto de lindo e gente boa (muito boa), estava no Brasil há dois meses, rodando todo o litoral. Conversei horroooooooooooooores com ele. Não sei de onde saiu tanto vocabulário. O inglês saiu com uma naturalidade incrível (o que não é a necessidade misturada com o álcool, hein?). Eu estava me sentindo a própria colaboradora da revista Speak Up naquele momento. A sintonia foi tanta que arrumei um namoradinho holandês de quebra pra passar o carnaval inteiro (boba, eu???) e ainda treinar a "língua". Hohohoho.. Afinal, eu estava ali de passagem... 


Momento help-I-need-somebody! 



2002, Festival Internacional de Cinema de Brasília, na Academia de Tênis. Eu trabalhava na produção e minha amiga Marina trabalhava como hostess dos diretores, atores, produtores do mundo todo que participaram do evento. Um deles era ninguém menos que Morgan Freeman. Marina era a responsável por andar com ele pra cima e pra baixo, traduzindo tudo que ele dizia. Tinha vindo pra lançar o filme (péssimo, por sinal) Crimes em Primeiro Grau, que seria exibido no antigo Americel Hall, a maior sala de espetáculos de Brasília. 

Sala lotada de gente ansiosa e todo mundo do staff nervoso. Marina deixou Morgan (para os íntimos, tá?) comigo enquanto organizava tudo no restaurante para onde ele iria na seqüência, depois de apresentar o filme pro público. Até aí, tudo bem. Eu só precisava dizer algo tipo "Come here, Morgan. Follow me". Ele só tinha que me seguir até o camarim. Fácil essa parte. Tiraria de letra.


Faltando 40 minutos para ele entrar em cena e o filme ser projetado, cai uma fase de luz e o teatro fica quase às escuras. Pânico na torre. Ou seria no camarim??? Eu lá com Morgan, tentando manter a calma e fingindo naturalidade. Pelo rádio, chamei o pessoal da produção e em bom português perguntei o que estava acontecendo (e ele me olhando do alto de seus quase 2 metros de altura). Pediram pra eu manter a calma pois a CEB já estava a caminho para resolver o problema. Oh my Gawd!! 


Agora imaginem aí uma mulher-que-não-fala-inglês, sozinha num camarim com Morgan Freeman. Pois é. Ele, a simpatia em pessoa, olha pra mim e pergunta se estou bem. Digo "yes". Ele pergunta se estou nervosa. "Yes", novamente. E se pode me ajudar. Gaguejei "No, yes, no, yes...". Foi aí que me denunciei. Olhei pra ele e disse que meu inglês não era muito bom, mas que eu faria o possível para ele me entender direitinho. Ele respondeu com voz de ator-do-Seven "tenho certeza que seu inglês é muito melhor que meu português" (ai que fofo!). Falei macarrônicamente o que estava ocorrendo e que só nos restava aguardar. Ufa!! Consegui de novo!! 


Até que entram no camarim a mulher dele, a filha, a empresária e o Peter (até hoje não entendi se era amigo ou segurança ou os dois juntos). Juro pra vocês que nessa hora eu quis sair correndo e me atirar de cima do palco dando um moche pra platéia. Como assim eu vou ter que me comunicar com esse tanto de gente ao mesmo tempo??? Cadê a Marina???? Eu quero a minha mãe!!! Putz. 


Resumo da ópera: Morgan falou pra eles o que estava acontecendo, ficaram todos esperando animadamente, contando piadas (que eu entendia!!! Rá!) e rindo à beça. Foi lindo!!! E eu lá, jurando amizade. Falando inglês "fluentemente" e contando mil histórias (e sem álcool, afinal, eu estava trabalhando!!!). Até que a luz voltou, tudo deu certo e a cortina fechou. Aplausos, por favor! 


Depois disso tudo, me convenci que não tem escola de línguas melhor do que você se deparar frente a frente com a situação e abraçar a causa (ou o holandês, aí você escolhe). Me diverti muito, sempre. Vai ver as sopas de letrinhas que mamãe me deu quando era criança eram importadas... risos. Pra não dizerem por aí que sou mentirosa, taí a foto do dia fatídico: 


Beijinhos em várias línguas, canções e gestos. Afinal, a comunicação é uma coisa universal.

sexta-feira, maio 18, 2012

Me dê a mão, vamos sair pra ver o Sol



Eu tenho um mundo, um mundo só meu. Um mundo moderno, bonito e cheio de pessoas bacanas. Um mundo com nome e localização: a Mayralândia, no País das Ideias. Fica aqui, bem pertinho de mim.

Ora, se o Calvin pode ter um amigo só dele e a Alice um país maravilhoso só pra ela, por que eu não posso ter um mundo mais fantástico que o do Bobby? E o meu é fantástico e meio. Muito, mas muito mais legal mesmo.

Na Mayralândia não há tempo ruim. O nascer e o pôr-do-sol são os mais sensacionais de todos. Até que o de Brasília, garanto. Lá, não batemos palmas quando o Sol vai embora, isso é coisa do Arpoador. Lá a gente grita "Uhuuu!!! Sol, seu lindo!!". E o Sol sorri e se despede com um tchauzinho. Juro pra vocês.

No meu mundo as pessoas não se magooam, não se ferem, não são cruéis. As pessoas celebram a vida e o amor. Brindam pelas conquistas de cada dia, pelas boas lembranças e histórias que vivem pra contar depois. Na Mayralândia não há rancor, não há ódio nem incompreensão. Há o desejo de ser feliz. Pura e simplesmente.

Nesse mundo que eu criei só pra mim, tem praias, montanhas, cachoeiras, desertos e jardins. E flores nascem todos os dias pra enfeitar a vida de quem se quer bem. As orquídeas enfeitam o dia e as rosas perfumam a noite. Há varandas para serestas e serenatas. Há histórias de amor. Há crianças, adultos e velhos convivendo em harmonia. Há prazer.

Na Mayralândia todos nascem bonitos, simpáticos e já sabendo ler. Os moradores se presenteiam com trechos de bons livros e também oferecem uns aos outros o cantarolar de músicas, que fazem soar aos ouvidos de quem mora lá, as melodias do amor-demais, aquele do Poetinha.

No meu mundo acontecem as melhores baladas e festas que já se ouviu falar. Há sorrisos, registros mágicos e muita, muita cumplicidade no ar. Há sexo, desejo e vontade. Há amor, carinho e afeto. Há casas feitas de doces sem bruxas morando dentro. E sim, existem bruxas, porque sabemos que las hay. Mas são bruxas munidas de vassouras que limpam a sujeira de quem faz mal para o mundo e voam pra bem longe com ela.

Na Mayralândia os acepipes são todos gostosos e suculentos. Há cheiro de gostosuras pelo ar e há travessuras por suas ruas. Lá todos os dias são feriados e também a véspera deles. Não há relógio, não há portas, não há pressa... a não ser a de ser feliz sempre.

No meu mundo eu me fecho quando quero ficar bem e também quando quero me preservar dos males deste nosso mundo real. Lá, sinto o abraço quente de quem gosta de mim, de quem me ama e me quer muito bem. Na Mayralândia não há vazio. Todos os espaços são preenchidos com euforia e vontade de viver. Viajar pra lá é fácil, basta fechar os olhos e sentir. Rapidinho você desembarca e percebe como o Maestro estava errado: é possível sim ser feliz sozinho.

Beijinhos do lado de lá.

terça-feira, maio 15, 2012

Isto merece um brinde!


Nada melhor do que receber recompensas na vida. Escrevo despretensiosamente neste blog, me exponho, me abro, me acabo. Ainda assim, há compensações. 

Hoje fui surpreendida por uma mensagem de um ilustre desconhecido no Facebook que me dizia que tinha "baculejado" o Milk Shake. Não entendi e indaguei o que aquilo significava. Então obtive como resposta: "Só que li teu blog, gostei e resolvi divulgar no meu... Vc escreve muito bem e é muito divertida. Parabéns!". Dei um riso amarelo e fui atrás pra saber o que havia escrito a meu respeito. Delicinha de texto e elogios adoráveis. Mas gostei mesmo foi da perspicácia do rapaz em desconfiar que eu sou hiperativa. Hã? Logo eu que sou tão pacata e discreta?? Hahahahaha. 


Compartilho com vocês a boa surpresa do dia. Aproveitem pra incluir o blog dele (Breique) na lista de vocês, porque vale a pena.

Beijinhos convencidos fazendo tim-tim.

Acho simplesmente adorável quando a vida se apresenta mais surpreendente que arte – por “arte”, entendam tudo de duvidoso que costumo escrever aqui no Breique. Só que para isso é preciso viver intensamente e, ao mesmo tempo, saber enxergar a riqueza em cada gesto, em cada ocasião, de forma a traduzir estas pequenas vastidões em palavras.
Escrever sobre minhaa própria vida nunca foi meu forte, e raramente o faço. Não se trata preservar a intimidade ou qualquer bobagem assim. Minha dificuldade resulta do fato de que sempre achei minha própria vida bem desinteressante. Entendam bem a situação: a vida em si não é desinteressante, mas para falar dela com genialidade é necessário encontrar o ponto forte nas coisas comuns que recheiam os dias.
É exatamente esta epifania que tive quando conheci o alvo do nosso Big Blog Baculejo de hoje, o Milk-Shake, um blog onde Mayra Cunha fala sobre aventuras e acontecimentos de sua vida com um humor calórico de adjetivos e saboroso de criatividade.
É certo que a moça deve ser meio hiperativa para viver tantas aventuras ali descritas, mas sem dúvida é o seu olhar que dá o tom descontraído quando fala do seu aniversário, é a sua interpretação que torna hilária uma história sobre uma carteira encontrada num taxi (e seu dono misterioso), assim como é o seu ângulo de abordagem que nos faz ler de um tiro sua descoberta de que se torna abstêmia em grandes ocasiões alcoólicas – deve ser por isso que nunca nos conhecemos, eu sempre desconfio de quem não bebe…
Está achando pouco? Então beba esta batida: sabe o que é adorar leite e seus colegas derivados, mas ter intolerância à lactose, e ainda por cima se dedicar a escrever um blog chamado justamente Milk-Shake? Para quem é chegado numa ironia assim como eu, isso é o must da modernidade humorística!
E já que o nome do blog é o da tal batidinha de leite com sorvete, Mayra decora sua página com temas de cozinha, outra de suas paixões. Se ficasse só na cozinha já estava bem bão, mas o vai além: está cheio de ilustrações da década de 50, do tipo comercial da General-Electric com aquelas donas de casa american way of life que parecem saídas dos seriados “A feiticeira” e “Jeannie é um Gênio”. Quem não adora?
Jornalista, publicitária e outras coisinhas mais, me parece infrutífero falar sobre a autora quando ela já se apresenta tão eloquentemente; vejamos uma partezinha de Mayra por ela mesma:
“Comecei a falar aos 9 meses de vida e não parei até hoje. Coloco alho e azeite em tudo. Tenho intolerância à lactose mas abstraio. A vida sem queijo fica muito sem graça. Meu estômago não agradece. Gosto de ir passear no Extra e no Pão de Açúcar quando não tenho nada pra fazer, só pra ver o que tem de novo no mercado. Adoro os rótulos e as embalagens. Devo ser mesmo doida. Mas tem gente pior. Acredite.
Puxa, ainda não te convenci a visitá-la? Quem sabe então você se decida a partir da avaliação do Big Blog Baculejo: Milk Shake é gostoso que nem o nome, divertido como sua autora e hilário como… Intolerância à lactose!

quarta-feira, abril 18, 2012

Constatações de uma vida inquieta


Aí que eu fiz 36 anos há umas duas semanas e encontrei um post deste blog que escrevi no meu aniversário de 29 (isso mesmo, há sete anos, direto do túnel do tempo). Achei divertido postá-lo novamente com as devidas atualizações. Quem teve a oportunidade de lê-lo na época, vai lembrar e perceber o que surgiu de novo. Os mais sensíveis, não se ofendam. Afinal, quem viveu tudo isso fui eu, né? E como vivi!!! =)

colei na escola, matei aula, fiquei de recuperação e até calotei ônibus na adolescência;

quis fazer História, Letras, Ciências Políticas e até Medicina depois de formada em Comunicação (viram que não rolou, né?);

dividi apartamento e morei sozinha por 6 anos. Voltei pra casa por mais 6 e já estou há 3 morando sozinha de novo; 

Já ganhei beijinho do Chico Buarque, os telefones dele e um pedido de "não deixe de me ligar", do próprio;

fiz jazz, balé, ginástica olímpica, yoga e natação. Tentei fazer tai chi chuan, capoeira, kung fu e sapateado, mas meu talento não permite tanto. Parei no Pilates;

tive 6 namorados e 1 namorido;

Já dei, doei, emprestei, mas nunca aluguei ou vendi;

fui metida a hippie, metaleira, comunista e, pasmem!, freqüentadora de exposições agropecuárias na adolescência;

entrei com tudo numa elétrica na rua do Beirute, achando que fosse uma garagem, em plena Sexta-Feira Santa, na primeira vez que dirigi um carro e quase destruí a loja;

tive catapora, nefrite, rubéola, varizes, hematomas oriundos de falta de equilíbrio, rasguei o queixo três vezes, mas nunca engessei nenhuma parte do corpo;

quis me chamar Mayra Cunha Fernandes, Souza, Fonseca, Pitt, Cruise e até Buarque de Holanda;

quis morar no Rio, São Paulo, Recife, Paris e Piauí, mas nunca arredei o pé daqui;

Posso tirar onda e dizer que já abracei, dei beijinho e troquei um lero com Morgan Freeman, Bruno Garcia, Luís Fernando Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro, Palhaço Carequinha e até com o Gianechinni (sim, sim, sim);

fui amadora, locutora, apresentadora, produtora e raladora. Hoje sou servidora;

li Paulo Coelho e Lair Ribeiro (ah, são pérolas da literatura tosca totalmente recomendáveis);

pulei cerca, subi muro, trepei em árvore e fui campeã de bolinha de gude e pião na minha quadra;

fui pra Ouro Preto ver o Festival de Cultura e Arte da UNE como "carregadora oficial de pratos de bateria" só pra ter uma função e conseguir carona no ônibus da banda que ia se apresentar lá, aos 16 anos;

viajei de Fusca de Recife para Brasília, depois de um carnaval, e demorei mais de uma semana pra chegar porque achava divertido acampar na areia de todas as praias do caminho, aos 19;

quebrei meu nariz de férias em Barcelona, em plena Copa do Mundo e fui em seguida pra praia e pro show do Kiss;

Já passei cinco carnavais em Olinda e um sem-número no Rio e acho que não paro por aí;

Já me fantasiei de Minie Mouse, de melindrosa e de copo de chope em festas à fantasia;

cozinhei mal e cozinhei bem pros amigos e minha família. Já queimei muita panela e também já recebi elogios por receitas que deram certo;

beijei mulher e não vi graça nenhuma, continuo achando os homens muito mais legais;

quebrei os dois dentes da frente numa queda na noite anterior à comemoração do meu aniversário de 32 anos. E já quebrei um deles também pulando numa piscina depois de algumas cervejas, aos 18;

desfilei duas vezes na Sapucaí e vi de perto o Paulinho da Viola vestido de Malandro;

pensei em ser espírita, atéia, Hare Krishna, astróloga e me encontrei no budismo;

chorei vendo A Noviça Rebelde, quis namorar o Kevin Bacon em Footloose e sonhei ser a Jenniffer Beals em Flashdance;

imitei a Madonna num programa de televisão local, cantando Like a Virgin, aos 10 anos (mico? imagina...) e quase me rasguei no meio de emoção ao ver um show da Diva em 2008;

falei fluentemente inglês, espanhol, francês, italiano e até japonês depois de algumas cervejas;

sofri seqüestro relâmpago e se livraram de mim assim que comecei a falar muito e querer ficar íntima;

fui Pato-Pateta na apresentação da escola sobre a A Arca de Noé e o "mato" em A Linda Rosa Juvenil ("...o mato cresceu ao redor, ao redor, ao redor...", lembra?? e eu lá no fundo vestida numa roupa-que-imitava-grama feita de papel crepom verde, subindo e descendo, abanando as mãozinhas. Praticamente uma precursora da famosa "ôla" dos jogos de futebol).

escrevi uma adaptação de Cinderela para o teatro, aos 11 anos de idade, numa máquina de escrever Olivetti que foi do meu avô e que foi encenada na varanda da minha casa;

fui vesga, barriguda, desgrenhada e andava com os pés pra dentro que-nem-um-papagaio e acho que até dei uma melhoradinha de lá pra cá;

fui, já quis, já fiz,pensei, já tentei, já larguei, já isso e já aquilo. Agora, no pós-30 estou partindo pro ainda-falta-muita-coisa.

Beijinhos sempre me preparando pro dia de amanhã.