sexta-feira, abril 15, 2011

Recordar é REviver!


Quem nunca teve uma crise de nostalgia na vida que atire a primeira pedra. Eu atiraria várias. Vivo relembrando saudosa as coisas do passado. E não, eu não acho que quem vive de passado é museu, principalmente quando essas lembranças te trazem um sorriso besta na cara. Recordar é viver, já dizia o poeta.

Dias atrás reencontrei amigas de infância/adolescência para um vinhozinho no meu cafofo. Relembramos algumas coisas e no dia seguinte fiquei com aquela época boa na cabeça. E então vieram muitas e muitas lembranças de coisas vividas que os tempos não trazem mais (piegas mas é verdade). E como foi gostoso crescer em Brasília nas décadas de 80 e 90! Quando eu menos esperava, vinha um momento, um lugar, um episódio na minha memória. E então resolvi listar algumas dessas recordações pra reler quando as coisas estiverem tensas e então poder pensar como eu sempre fui feliz e que a vida é isso aí mesmo. Bola pra frente!

Lembrei da SAB, os supermercados do governo das entrequadras, onde eu ia ajudando a babá a empurar o carrinho de compras. E onde eu comprava meus ovos de páscoa.

Eu morava na 205 norte, aquela quadra do comércio mais tosco de Brasília. Adóravamos brincar de pique-esconde ali e corríamos pra casa quando um homem desconhecido se aproximava. Sempre uma de nós gritava "taraaaaaado" e todo mundo abria o gás no rumo do prédio. Era muito engraçado. E nem se falava tanto em pedofilia nessa época. Nesse mesmo comércio havia uma vendinha cujo dono, um senhor careca, nos vendia Baré Cola e Tutti Frutti pra gente tomar debaixo do bloco. E era lá que eu trocava as tampinhas de Coca-Cola pelo mini engradado.

E quando chovia? Esperávamos passar e então descíamos todos para escorregar na água que se acumulava no chão do prédio. Detalhe que o meu tinha o piso preto e voltávamos pra casa com os joelhos vermelhos do atrito e preto da cera.

E descer pra brincar com a turma? Combinar de ir comer crepe de banana - o Macaquito - no Truc's ou ir ao Cine Márcia, no Conjunto Nacional pra ver De Volta Para o Futuro ou Os Goonies. Também fomos ver a Boneca Eva, aquele passeio pelo corpo humano, no Parkshopping. Passávamos a semana combinando qual pai levaria e buscaria a gente pra matinê da Zoom, no Gilberto. Na noite do cometa Halley, sentamos na caixa do telefone (carinhosamente chamada por nós de "O Telefone") e ficamos até tarde esperando ele passar. Uns juram que viram. Nós meninas queríamos mesmo era ficar com a cabeça no colo dos meninos, com a desculpa de que estávamos olhando pro céu. Ahã.

Quando o vendedor de quebra-queixo passava com sua voz vibrante, gritando "quebra-queeeeeeeeeeeixô" debaixo da minha janela, eu não hesitava em descer pra comprar o meu. Ainda existe isso? Eu comeria um quebra-queixo hoje feliz.

Nessa época em Brasília existia uma rede de distribuidoras de doces chamada Campineira. Pra minha sorte, tinha uma loja pertinho da minha quadra. A gente desobedecia os pais, que nos proibiam de atravessar o Eixão, e íamos gastar a mesada lá, comprando caixas e caixas lacradas de Lollo, Sugus e pirulito do Zorro. Aos finais de semana, meus pais me levavam pra almoçar numa cantina italiana chamada Papardelle, em que os garçons distribuíam tampas de panelas pros clientes pra gente bater ao som da Tarantella. Um barulho dos infernos e uma alegria italiana que nós crianças adorávamos.

Na adolescência, íamos de ônibus ao Gran Circo Lar, ao lado da Rodoviária, ver shows legais de bandas da cidade que aconteciam por lá. Não me perdôo até hoje de ter perdido o Mano Negra quando veio ao Brasil. Subíamos a pé pra 104 norte pra ir também ao Bar Canal, botequinho que bombava de gente bacana pra ver os amigos tocarem com suas bandinhas e jogar conversa fora. De quebra, arrematar com o melhor cachorro-quente da cidade, que existe até hoje na mesma quadra.

Aos domingos a gente se juntava e ia pra Cultura Inglesa ou ao Cine Brasília, ver o filme cabeça que estivesse passando. Vi alguns filmes memoráveis lá, como Smoke/Don't Smoke do Alain Resnais e Os Amantes da Pont-Neuf, de Leos Carax. Faz falta na capital federal não existir mais um cinema de arte.

As lembranças não acabam. À medida que vou escrevendo, vão surgindo novas e novas. Pra não deixar este texto parecido com um tratado, entrego a vocês a incubência de me ajudarem a lembrar de coisas gostosas da infância. Vamos lá, atirem a primeira pedra!!

Beijinhos saudosos.