quarta-feira, dezembro 24, 2014

Para ler na ressaca do Natal


Eu não estou aqui para fazer um texto meloso ou cheio de palavrinhas bonitas. Isso os cartões de natal da Hallmark já se encarregam de fazer há anos. Eu estou aqui pra te dar toda a minha solidariedade e apoio neste momento tão difícil: a ressaca pós-ceia. Sim, se você ainda não teve, vai ter. Eu sei do que se trata e posso dizer: não é fácil. Dia 24 de dezembro celebra-se, mundialmente, o Dia Internacional da Comilança e da Bebelança. Os excessos a gente vai cometendo ao longo do mês com as tais confraternizações. Apenas desculpas pra gente se reunir, encher a cara e a pança. E reclamar no dia seguinte que exagerou.

Eu não confraternizei muito este ano. Um pouco por falta de tempo e disposição; uma parte por preguiça de fingir que gosto de determinadas pessoas que não se relacionam direito com você o ano inteiro e em dezembro querem fingir que te amam; outro tantinho porque eu tô ficando velha mesmo e, como diz a minha mãe, "eu só dou conta de um passeio por final de semana". Porque ela sempre vem, implacável: a ressaca. E depois dos 30, dos 40 anos, aquela que era sua melhor amiga aos 20, se torna sua maior rival. Você faz de tudo pra não se encontrar com ela no dia seguinte e fica se entupindo de Engov, põe na bolsa um Epocler e pensa duas vezes antes de pedir a saideira num final de semana. A idade pesa, meu amigo.

Mas nem por isso você deve se comportar como uma freira. Até as renas têm cara de loucas. Falta de juízo é bom e eu gosto e de gente chata e sem graça o mundo já está cheio. Eu fiquei atolada de trabalhos da pós pra entregar e, quando finalmente me vi de "férias" dos estudos, uma crise de asma bacana me pegou. Só não me derrubou porque sou uma mocinha crescida que já sabe o que fazer quando ela vem. E cá estou, me economizando pra dar conta dessa última e fatídica semana do ano. Meu fígado é meu amigo e unidos venceremos. Prepara a jaca porque eu vou dar uma pisadinha nela.

E como eu sei que quando estamos de ressaca temos preguiça de existir, não vou ficar te enchendo com um monte de texto que nem dá ânimo pra ler. Estou aqui para lhe desejar muitas alegrias nas suas comemorações, um Natal de paz e boa digestão. E muita água, o elixir sagrado da recuperação.

Feliz Ressaca!! Esses são meus votos mais sinceros, porque sou sua amiga e tenho consideração por você, acredite. E não se iluda, ainda tem mais uma semana de arregaço pela frente. Quem se comportar por último, é mulher do padre.

Beijinhos de boas festas, com um kit remedinhos na bolsa pra curar o que ainda está por vir.

quarta-feira, novembro 26, 2014

Live and let die


Eu já fui melhor nisso. Nessa coisa de me animar pra assistir grandes shows. Não que eu não goste, pelo contrário, mas quando penso em toda logística envolvida, no tempo gasto e no cansaço que vou ter, eu penso duas ou três vezes antes de ir. E geralmente desisto. Mas era o Paul McCartney e na minha cidade.

Dito e feito. Foram quase sete horas em pé na chuva. Duas horas de antecedência pra evitar filas e garantir um lugar razoável, fichas de bebida e ida ao banheiro. Uma hora e dez de atraso, quase três de show e mais uma hora e pouco pra conseguir ir embora e pegar um táxi pra casa. Ah, esqueci de dizer que incluí minha mãe nessa história toda. Dizem que ser mãe é padecer no Paraíso. Nesse caso, o "Paraíso" se chamava Mané Garrincha.

Eu nem vou perder tempo aqui dizendo que o show foi lindo, que o Paul é ótimo, coisa e tal. Isso dispensa comentários. Foi meu segundo show dele, eu já esperava por isso. Bacana foi vê-lo na minha cidade (ou outro eu vi em Recife) e com meus amigos. Tudo bem que não conseguimos nos encontrar direito porque celular nenhum falava lá dentro, mas a gente finge que conseguiu ver junto e pronto.

Cismei que um dos guitarristas do Paul parecia com o McFly, o pai pateta de "De Volta Para o Futuro" e não conseguia tirar o olho dele. Tá, confesso que achei ele gatinho. Enquanto a amiga babava pelo guitarrista loiro que eu achei parecido com um David Bowie depois de um tornado. O Paul entrou no palco vestido de garçom do Beirute, achei lindo aquilo. Glaro que não foi de propósito, mas pra mim foi. Brasília agradeceu imensamente. Cícero que se cuide.


Ir embora foi uma saga. A gente quase se jogou no meio do Eixo Monumental pra conseguir um táxi. Cheguei a cogitar de nós irmos de bicicletinha laranja do Itaú, tamanha dificuldade por um transporte. Imaginei a cena: nós todas com capa de chuva, pedalando pela cidade de madrugada. Seria uma cena perfeita do E.T. Seria demais colocar mamãe numa dessas. Só ia faltar o Spielberg.

Eu não sei se estou ficando velha ou se já passe por isso demais na minha vida e não tenho mais saco mesmo. Mas ir pra esses eventos e enfrentar essa mão-de-obra toda dá uma canseira que chega desanima. Tem que valer muito a pena. Esse show valeu. Já andam falando dos Rolling Stones virem pra cá ano que vem. Já tô me vendo de novo nesse esquema. E lá vou eu carregar mamãe comigo mais uma vez, querem ver só?

Beijinhos de velha caquética e reclamona.

terça-feira, novembro 18, 2014

A Caverna do Dragão


Eu sou uma pessoa que tem fome por natureza. Eu gosto de comer, isso é um fato. Tenho prazer pela comida. Fazer dieta pra mim é uma tortura. Não me venham com papinho de que dá pra fazer dieta com comidas boas e saudáveis. Não, não dá. O que é bom engorda mesmo. Caso encerrado. Eu gosto é de bacon. Ainda assim, eu não sou uma glutona, como com (alguma) moderação.

Fiquei agora duas semanas de molho por conta da cirurgia, tomando antibiótico e sem beber. E tive que ficar em casa pra cuidar do curativo. Pronto, chegamos no problema.

Essa história de ficar em casa é um caso sério. Você fica lá cercada de coisas bacanas e de tentações: computador, televisão e livros. Mas o que você não lembra é do dragão e da sua caverna. Sim. Toda casa tem e ninguém se lembra disso: a geladeira e a cozinha. E pra quem gosta de cozinhar, como eu, isso é um verdadeiro desespero. Caso de polícia, eu diria.

Eu sentava na frente da televisão pra ver novela e ficava pensando no que eu poderia fazer pra jantar. Mal me concentrava no Comendador e no diamante cor-de-rosa, já começava a pensar que tinha salmão no freezer, requeijão, alcaparra e batata na geladeira e que dava pra rolar um escondidinho show. Lá ia eu pra caverna do dragão. A novela que esperasse.

Sentava pra ler os livros da pós-graduação e em meio às histórias sobre eleições presidenciais e a vida do Roberto Marinho, pensava no carpaccio abandonado no congelador, coitado, na mostarda na porta da geladeira e na rúcula que ia estragar. O dragão já tava lá me esperando com um risinho maroto.

Colocava um filme bestinha pra assistir, esquecer da vida, chuvinha caindo no meio da tarde. Lembrava da banana na fruteira que ia perder, daquele chocolate com 85% de cacau que a irmãzinha trouxe da Europa e que ia ficar lindo dentro dela assada no forno, assim, todo derretido e esparramado, escorrendo na minha boca. Dragão já com lixa de unha e perna cruzada me olhando de soslaio e ironia nos olhos, me aguardando sentado no banquinho. Palhaço.

E assim a minha vida de enferma se seguiu. Um quitute atrás do outro e nenhum remorso. Concluí que antibiótico dá larica. Pensem nisso quando o médico receitar pra vocês, viu? E olha que eu nem fumei o remédio. A fumaça eu deixei pro dragão, aquele safado que nem dividia comigo as calorias, só me olhava e dava uns risinhos. Ainda bem que São Jorge apareceu pra dar um jeito nele.

Beijinhos de quem agora precisa correr pra academia pra dar cabo do prejuízo.

terça-feira, novembro 11, 2014

Meu Querido Alien


Aí que um dia eu acordei e tinha um amendoim saindo no meu ombro. Tomei um susto daqueles e achei que o caroço que outrora aparecera no meu estômago tinha resolvido se libertar por conta própria pelo andar de cima. Desesperei, dramática que sou. Afinal, estava bastante dolorido e inflamado. E como eu sou muito mole pra dor, achei que já estava com meus dias contados.

Corri pra emergência de um hospital do Lago Sul, onde esperei quase DUAS HORAS pra ser atendida. Era um domingo e minha mãe me esperava pro almoço. Desisti de esperar e fui atrás de colo materno. Nessas horas, se você não está morrendo, grávida-perto-de-parir ou idosa, você perde seu lugar na senha pra todos os preferenciais que aparecem. E eles aparecem, acredite, em quantidades industriais. Mamãe tratou meu amendoim com arnica e muito carinho. Deu uma boa aliviada. No dia seguinte, fui ao médico ver o que era, pois incomodava muito e parecia mais inflamado ainda. "Compressa e pomada", ele receitou. Achei estranho não me dar nenhuma droga pra tomar. Consenti. Afinal, eu sou jornalista, não sou médica.

Três dias depois, o amendoim tinha crescido e sido promovido pra pistache. E eu não aguentava mais de dor. Meu braço mal levantava e então corri para a emergência de mais um hospital. Depois de outras duas horas de espera, o clínico geral olhou, examinou, pressionou, e quando menos esperei, ele estava ESPREMENDO, assim, sem dó nem piedade. Eu gritei com nunca mais tinha gritado na minha vida. Fiquei toda contorcida de tanta dor que cheguei a tremer. Então ele me falou que eu tinha que tomar anti-inflamatório, antibiótico, fazer compressa e continuar espremendo em casa, como se isso fosse fácil. "Eu não sou nenhuma divindade hindu, só tenho dois braços e dois olhos, difícil fazer isso que o senhor tá pedindo, dotô".

Quatro dias depois, o remédio tinha feito efeito (adoro esse som de repetição!) mas a bolota continuava aqui, firme e forte. Determinada. Parecia uma bola de gude meio que derretendo na minha pele. Se vira aí pra imaginar. Algo muito estranho. Passei a chamar carinhosamente de "Meu Querido Alien". Mostrei pro meu pai e pedi pra ele espremer, já que o médico tinha mandado fazer isso. Ele recuou e disse: "isso é coisa pra profissional. Procure um dermatologista amanhã mesmo". Lá fui eu. O pai manda, a gente obedece.

A médica, de minha confiança, examinou minuciosamente e delicadamente (se espremesse eu juro que faria um escândalo) e me falou que era caso para uma micro-cirurgia. Marcamos para o dia seguinte, no caso, hoje.

Encarei anestesia local, bisturi e levei pontos. Quando abriu ela se certificou de que Meu Querido Alien se tratava de um cisto sebáceo que criou vida própria e inflamou (muito). Segundo ela, saiu tanta coisa lá de dentro que eu chamaria de pasta de amendoim pra ficar menos nojento. Tô aqui de molho, curativo nas costas e medicada. Aliviada de pensar que poderei dormir de forma mais confortável (só daqui a uns dias, eu sei) e livre desse incômodo. Mas pra uma coisa esse caroço serviu: o blog voltou! Vamos comemorar? Sem brinde porque eu tô sem beber, please.

Beijinhos de mulher remendada, que tarda mas não falha.