segunda-feira, maio 31, 2010

Je Vois la Vie en Rose


Sabe aquela sensação de que você devia ou poderia ter feito algumas coisas quando era mais novo (leia-se aos 20 anos), ouvia todo mundo contar suas experiências e olhava com cara de pidão? Sabe-se lá o motivo de você não ter feito, mas sempre rolava aquela invejinha e pra piorar, a impressão de que não, você não faria aquilo nunca mais porque o tempo não volta.

Eis que você percebe que não é bem assim. Rá! O tempo volta sim e nunca é tarde pra recuperar o que não se fez. Tudo bem, você não é mais aquela garota espevitada e impulsiva (falou comigo?) dos 20 anos. Virou balzaca, gente grande, paga contas e tem responsabilidades. Mas nunca é tarde pra se divertir. Ao menos que com o passar dos anos você tenha deixado a vontade de viver pra trás. O que não é, definitivamente, o meu caso. Explico.

Cansei de ouvir as histórias de amigos que pegaram uma mochila, um avião, um trem, um ônibus, uma carona e se mandaram por esse mundo de meu Deus. Fosse de férias, de onda ou simplesmente por falta de juízo. E eu só olhava com aquela cara de eu-também-quero. E por razões diversas, nunca o fiz. E aí, quanto mais o tempo passava, mais eu pensava "gente, tô ficando velha pra essas coisas" (oi?).

No final do ano passado eu fiquei pensando o que faria nas minhas primeiras férias como concursada. Trinta dias, milhões de planos e o melhor: dinheiro na conta pra fazer o que eu quisesse (tá, nem tanto dinheiro assim). Decidi então que iria pra Europa rever amigos, visitar pessoas e conhecer novos lugares. Solta e desgarrada. Ao Deus dará. E sem essa de mochila nas costas porque eu já sou uma balzaca com duas hérnias de disco. Mas eu queria uma coisa quase igual, só que com mais glamour, óbvio.

Comecei a organizar o roteiro na minha cabeça. Faria a viagem sozinha. Certo dia saio pra almoçar com uma amiga de infância. Comento com ela dos meus planos e então ela diz que estava planejando a mesma coisa. Coincidência ou não, pouco tempo atrás dissemos que comemoraríamos 30 anos de amizade com uma viagem pra Espanha. Sem querer deu certo. Isso mesmo! Estamos indo juntas surtar no Velho Mundo por de-zoi-to dias. E sabe o que é melhor? Com o juízo dos 20 e a infra dos 30. Nada melhor.

E aí que as notícias correm e encontro outro amigo de longas datas. Então ele me avisa que estará na Europa justamente quando nós estaremos indo. Resumo da ópera: vamos nos encontrar em três cidades diferentes dentre as cinco que iremos visitar. Encontros, itinerários e garrafas de espumante têm ilustrado nossos momentos de celebração, amizade e muita empolgação.

E outra coisa que eu não contei dessa viagem: iremos ver cada jogo do Brasil nesta Copa em uma cidade diferente da Europa. Sim, sim, Salabim! Tirando abertura e final, estaremos dando a pinta por lá no meio do campeonato. Eu já avisei pros dois que vou de verde e amarelo pra todo canto deixando bem clara a minha brasilidade-de-ser. Vou parecer um periquito. Quero nem saber. E se rolar vergonha alheia, melhor ainda. O bom é que amigos se entendem e eles já entraram na mesma proposta canarinha.

França, Espanha e Portugal. Três solteiros, algumas malas e a corda toda pra comer bem e fazer comprinhas, além de cair na balada, é claro. Ah, eu merecia boas férias, não é mesmo? E essas, com certeza, serão inesquecíveis. Prometo que conto pra vocês as partes publicáveis (piscadinha de olho e risinho sacana).

Beijinhos super-empolgados de quem viaja daqui a pouco mais de duas semanas.

quarta-feira, maio 12, 2010

Da série "Recordar é Viver" - I

Quem acompanhou o drama do sumiço do blog nos últimos dias, não deve ter entendido o motivo de tanta agonia e "apego" da minha parte. Afinal, a gente pode criar novos blogs a qualquer momento e começar tudo de novo.

Pois bem. Eu dei mole e não salvei meus textos publicados neste endereço, que existe desde 2008. Seriam 34 textos perdidos! Pra quem pretende um dia criar o próprio site e incluir nos arquivos TODOS os posts publicados desde 2003, era motivo pra pânico, sim!

O blog voltou. Sei lá até quando. Basta o Google cismar de novo e... plim! Ele vai sumir como num passe de mágica. Mas eu já salvei tudo para minha alegria e segurança. E eu ando relendo, reescrevendo e selecionando esses textos publicados em 7 anos de blog. E decidi republicar alguns aqui. Bom pra quem nunca leu e bom pra quem já conhece as histórias se divertir de novo com elas. Bom que assim ouço a opinião de vocês, já que isso tudo pode um dia fazer parte de um livrinho ou coisa parecida. Quem sabe?

Beijinhos.


Texto publicado em agosto de 2005


Entrei no táxi. Ao meu lado, um motorista cinquentão com cara de gente-que-faz começou a puxar papo um sotaque ótimo do nordeste:

- Trabalha no Senado é?
- Trabalho.
- E essa esculhambação toda aí, hein?
(pense numa pessoa doida pra conversar e que não era eu)
- O que que tem?
- Ah, você acha que vai dar em alguma coisa?
- Sei não.
- Vai não, minha filha. Te digo logo. Esse país é muito bagunçado.
- Pois é, né?
(fiz cara de "é comigo???")

E lá se foram diversas teorias sobre o esquema do mensalão, se o Lula sabia ou não de tudo desde o começo, se o PSDB deve ou não ser punido porque descobriram que neguinho recebeu dinheiro lá também, se o Delúbio isso, o Zé Dirceu aquilo...

Escuto Britney Spears começar a cantar e reparo que a música não vem do rádio. Era o som do celular dele, que atende com voz mansa (dirigindo):

- Oooooi, tudo bem? (pelo tom, percebi logo que tratava-se de uma mulher. Homem só fala manso com um rabo-de-saia).

- (...)

- Pois é, querida (bingo!), não deu pra ir ao nosso encontro. Você tá muito brava comigo? (ah, eu ficaria...).

- (...)

- Fica brava não, meu doce de coco. A gente combina de novo e eu prometo que vou. Mas me diz uma coisa... você não tem namorado nem marido meeeesmo, né? Porque na minha terra, lá na Paraíba, o cabra quando encontra o amante agarrado na mulher dele resolve com a peixeira. Aqui é no tiro mesmo. Eu não quero encrenca. (e eu no assento do lado, com cara de finge-que-eu-nem-tô-aqui-viu?)

- (...)

- Tem mesmo não, né? Solteiríssima? Então tá bom. E esse friozinho, hein? Bom pra ficar abraçadinho, tomando um vinho. Mas pode ser uma cervejinha também (e o cidadão olha pra mim e dá uma piscadinha. Eu já sem saber se devia tapar os ouvidos ou fazer um "jóia" pra ele, como quem diz "mandou bem, brother").

- (...)

- Olha meu doce, vou ter que desligar. Estou trabalhando. Te ligo depois tá?

Desliga, olha pra mim e diz:

- Você não concorda?

- Eu?? Com o que?

- Que é um risco esse negócio de conhecer uma pessoa e ela ter um macho
(concordar eu concordo, principalmente quando é um cara lindo, interessante e tem um macho). Já vi muito amante morrer na mão de marido traído. E mulher safada é o que não falta nesse mundo.

- É perigoso mesmo (eu ia dizer o que??? o motorista do táxi tava querendo um conselho emocional...). Mas tem homem safado também...

- Pois é. Eu fui pro bar outro dia e conheci essa moça. Papo vai, papo vem, marquei um encontro com ela. E eu não fui de propósito. Marquei e furei.

- Pôxa. E por que você fez isso com ela?

- Ah, pra ver se ela tava mesmo a fim. Se ela me ligasse brava por conta do bolo, aí eu saberia que vale a pena investir.

- Ah é? Isso é uma estratégia?
(não teve jeito, me empolguei e já tava participando do papo como se fosse a melhor amiga).

- É. Tenho 56 anos e isso sempre funcionou. Mulher é bicho ruim. Ou você maltrata, ou ela não te dá bola (disse isso com a cara mais lavada do mundo).

- Como assim, Bial??? (isso foi uma fala interior com o impacto daquela afirmativa. Fiquei calada, muda, perplexa).

O carro chegou ao destino e eu ainda tava formulando uma das minhas várias teorias sobre a safadeza humana pra dizer praquele senhor-troglodita. Melhor mesmo não ter dado tempo. Ele atiçou meu lado feminista dando a deixa pra eu comprar uma briga. Paguei a conta e desci do carro. Olhei pra trás e dei a língua. Não tinha mais nada que eu pudesse fazer.

Beijinhos de mocinha que não acha que um tapinha não dói. Dói sim. E muito.

sexta-feira, maio 07, 2010

Um passeio etílico no shopping

E lá tô eu passando no Iguatemi, o shopping do meu quintal, para almoçar antes de ir pra casa. Quando não levo marmita pra TV, faço um pit stop rápido na praça da alimentação ao sair do trabalho. Ser vizinha de shopping tem dessas coisas. Rá!

E curiosa como sou, sempre dou uma circulada pra ver o que tem de novo. Afinal, o Iguatemi abriu com somente 70% das lojas em funcionamento. E sempre tem uma novidadezinha aqui, outra ali. Pode falar que o shopping tá inacabado, que achou mal feito, que tinha goteiras quando inaugurou. Fala aí o tanto que você quiser, porque eu não vou ouvir mesmo...

Pois bem. Subo a escada rolante e a melhor e mais esperada visão de todos os tempos se concretiza: a Livraria Cultura de portas abertas, fi-nal-men-te. Felicidade extrema. O estômago roncando, mais parecido com uma máquina de lavar roupas centrifugando e eu lá, olhando meu mais novo ambiente de não-fazer-nada. Eu vou a pé da minha casa, lembram?? Fazer nada lá vai ser muito mais legal! E ainda tem um café espetacular com área externa e tudo. Ai ai...

Cinco da tarde. Olhos vidrados em todos os detalhes, que nem criança em loja de brinquedo. Tal qual o gênio da lâmpada surge na minha frente um garçon, taças e garrafas de champanhe (assim, no plural).

- Aceita, moça?
- Ora not! Sure!!

Tomei meia taça, fiquei lerda. Daí lembrei que tinha ido lá pra almoçar, não pra beber. E beber de estômago vazio não dá certo, concordam? Antes que me sentisse quase grávida do Alien, devolvi a taça à bandeja e foi aí que o gentil garçon me disse:

- Vem às sete horas, vai ser o coquetel oficial e é aberto pra todo mundo.

Prometi que ia pensar no assunto com carinho. Sigo então pra praça da alimentação, peço meu ranguinho e destrambelho a mandar mensagens pros amigos: "Coquetel de inauguração da Livraria Cultura hoje às 19h. Champanhe de graça e gente bonita. Bora?". O celular começa a pipocar com as mensagens de hoje-não-posso, hoje-não-dá, que-pena-mas-não-poderei-ir e antes que eu desencanasse da proposta por completo, pisca um "Bora!" no meu aparelho. Sempre tem alguém disposto! Atóóóro.

Às sete em ponto minha amiga me pega em casa (lógico que eu fui arrumar a cara e o layout) e lá vamos nós. Conforme previsto, muita gente interessante, bebida a rodo e grupo de chorinho tocando. Ah, livros pra todos os lados também, já ia esquecendo. Mais agradável, impossível. Volta olímpica pra conhecer o lugar (que tá um arraso!) e taças na mão. Champanhezinho aqui, canapé ali, folheia um livrinho acolá e encontramos duas poltroninhas lindas onde nos aboletamos até o fim da "festa". Os garçons nos adoraram e não nos deixaram em paz. Copo cheio 24 horas! É aí que mora o perigo...

Perto do horário de fechar, já com um bocadinho de champanhe na cabeça e cartão de crédito no bolso, um livro o qual eu vinha babando há algum tempo e sem coragem pra pagar o preço começa a dançar-e-sapatear na minha frente. Tipo implorando por atenção, sabem?? Assim... um livro super carente, praticamente um sem-teto pedindo pra ser levado pra casa. Não deu outra: "Cooking - Segredos e Receitas" mora hoje na prateleira do meu cafofo. Domingo é dia das mães e já vai ter receitinha nova tirada dele, uma vez que sou eu a encarregada do almoço todos os anos. Nham, nham!

Isso é que dá beber dentro de shopping. Da outra vez foi na abertura da L'Occitane do Conjunto Nacional. Cheguei lá com Dona Pri sem saber de nada, champanhezinho rolando e a gente saiu cheias de sacolas e sinos tocando na cabeça. O marketing é a alma do negócio. E o álcool também.

E vou te falar... a gente nem foi aproveitar o coquetel da Tok Stok que também tava abrindo no Iguatemi no andar de baixo ao-mesmo-tempo-agora que a Cultura, porque não tinha necessidade, néam? Fácil, fácil eu iria sair de lá com um sofá novo e mais um jogo de copos. Melhor e mais seguro voltar sóbria. Mas que sempre é divertido, disso eu não tenho dúvidas!!! Afinal, uma champanhota descompromissada numa quarta-feira não faz mal a ninguém!

Beijinhos fazendo tim-tim no shopping do meu quintal.

PS. Só esta semana teve abertura de duas outras lojas com boca-livre com tudo que você tem direito. Passei longe, não se preocupem. Até porque, babies, os mimos que vendem nelas começam todos com quatro dígitos!!! Nem com muita cachaça eu encaro!! Hahahahaha.

segunda-feira, maio 03, 2010

Por isso é que eu canto e não posso parar


Tenho saudade do tempo em que eu assobiava e chupava cana. Do tempo em que eu não tinha tempo pra nada e ao mesmo tempo arrumava tempo pra tudo. Dois empregos, uma faculdade, curso de inglês, cursinho pra concurso, academia, namorado, vida social... ufa! Ah, e eu ainda alimentava diariamente com textos criativos este adorável blog.

Tenho saudade do tempo em que eu conseguia pôr em prática meus vários projetos. Do tempo em que sentia tesão em inventar mais sarna pra me coçar e rir porque ninguém imaginava que que eu daria conta do recado. E eu achava a coisa mais normal do mundo porque sempre dava certo. Afinal, sempre fui assim.

Tenho me sentido estagnada. Velha. Ando cansada, bem cansada. Não sei o que está havendo. Há alguns meses me vejo tentando colocar tudo o que tenho vontade em prática mas não consigo. Eu-não-consigo, entendem? Administrar meu tempo tá difícil. Ou melhor, o excesso dele. E então me dei conta de que não sei lidar com tanto tempo livre. Você consegue? Parabéns pra você. Eu não.

Hoje me gabo por trabalhar somente até as 14h30. Muitos morrem de inveja e não se contêm em dizer isso pra mim. Imaginem... saio do trabalho com o sol ardendo, horário comercial sobrando pra resolver coisas, dias lindos, tempo pra ir ao cinema, ler um bom livro, escrever no blog, malhar o corpinho-de-mulher-de-30-anos, encontrar os amigos, fazer novos cursos, experimentar aquela receita nova na minha cozinha. E sabem? Eu não faço nada disso. Vez ou outra ainda arrisco uma coisinha aqui, outra ali. Entro no meu cafofo, ponho uma camisola e vejo o tempo passar. Enrolo e me enrolo que não produzo nada. E isso me dói.

sofrendo. E sei que a única pessoa capaz de mudar tudo isso sou eu. Não é preguiça, não é indisposição. E eu não sei o que é. Quero arrumar minhas gavetas, quero jogar meus papéis fora, quero organizar minha vida e meus pensamentos. Quando a coisa acumula e me vejo incapaz de me mover, só consigo chorar. E choro como um bebê, então me escondo ainda mais dentro do meu mundo. Um mundo que não gira. Isso tem me causado uma tristeza profunda. Essa incapacidade de me administrar está me matando. Cadê a Mayra que sempre esteve aqui???

Acordo todos os dias cheia de energia pra ir trabalhar. A energia que sempre tive pra muitas coisas. Dou o melhor que posso enquanto estou na labuta. Até esqueço os minutos que se contam pra bater o ponto ao ir embora. Eu gosto do que faço, já disse isso aqui. Mas não consigo pensar em me ver com essa atual rotina nos próximos meses, próximos anos. Será que preciso de uma catapulta pra me projetar pra frente? Nunca fui assim!!!

Isso é um desabafo. Uma maneira que encontrei de dizer a mim mesma: Mayra, levanta essa bunda daí e vai correr atrás dos seus sonhos!!! Cadê o mestrado que você se prometeu fazer? Cadê aquele curso de culinária que você queria tanto? Cadê o curso de inglês que você não terminou até hoje? Cadê os projetos da fotonovela, dos textos do blog e de tantas outras coisas que você já listou e quis realizar? E aqueles livros todos que você comprou num último surto de consumo que estão criando teias de aranha na sua prateleira? Está tudo engavetado na estante do esquecimento.

E hoje eu acordei determinada. Certa de que chegou a hora de pôr um ponto final nesse marasmo. O final de semana foi meio triste. Tentei me movimentar e não consegui. Fiquei mais triste ainda. Chorei muito. Conversei com amigos, com minha prima querida, que me disseram palavras que me fizeram querer levantar hoje da cama, assobiando e chupando cana como eu sempre fiz. E eu resolvi que já passou da hora de recitar como um mantra aquela frase da música do Chico Science que eu sempre gostei: "Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar".

Atenção, mundo, aqui vou eu.

Beijinhos de injeção de ânimo porque o mundo precisa girar e eu não posso ficar parada vendo isso acontecer da minha janela.