segunda-feira, agosto 13, 2012

Amar é...


Acho que Domenico De Masi, quando inventou o termo "ócio criativo", não imaginou como seria usado. Entrei de recesso de uma semana em julho e não fiz nada, absolutamente nada. Tá, eu dormi. Dormi, li, vi televisão e comi (porque saco vazio não pára em pé). Para alguns, isso pode ser considerado alguma coisa, mas pra um ser inquieto e hiperativo como eu, é o mesmo que ter jiboiado por horas depois de comer e criado raízes na cama de tanto preguiçar. Ou seja, ócio puro. E nada criativo, confesso.

Tive um momento de insight quando vi no Facebook, numa página de coisas antigas que acompanho (sou daquelas que diz que nasceu na época errada, adoro coisa velha), um álbum de figurinhas do saudoso Amar É. Quem tem mais de 30 anos sabe do que se trata. Nostálgica como sou e ociosa como estava, logo pensei se ainda existiam esses álbuns onde a gente comprava cromos auto-colantes e os trocava com os amigos, às vezes até num jogo de "bafo" (rá! não leu Luluzinha e Bolinha, né? Procura no Google!).

Aí eu resolvi que a única coisa útil (oi? útil?) que eu faria no meu recesso seria procurar um álbum bem bacana pra eu preencher como nos velhos tempos. Então eu me dei conta que colecionar figurinhas não é divertido se não tiver ninguém pra trocar as repetidas com você, concorda? "Tem problema não", pensei, "É só eu escolher alguém pra ser meu coleguinha e pronto". A pessoa estar a fim disso ou disposta é oooutra história. E elegi o mais lúdico dos meus amigos.

Pus meu plano em prática: combinei de almoçarmos juntos e cantei a pedra. Ele gostou da idéia (ah, tinha que gostar, ia brincar mesmo se não gostasse, garanto!) e me deixou escolher algum álbum legal pra gente comprar. A gente? Opa! Quem tava ociosa era eu. Saí do almoço em busca das bancas perdidas, perguntando e vasculhando prateleiras. Tudo o que eu achava interessante, ligava pra ele - que de ocioso não tinha nada, estava trabalhando loucamente - pra dizer: "Harry Potter ou Batman? Angry Birds ou Valente?". Até que ele não atendia mais minhas ligações e comecei a me comunicar por torpedo. Sem respostas - claro, ele não tinha obrigação nenhuma de compartilhar da minha loucura - resolvi que ia decidir sozinha. Sempre fui independente, oras. Até porque eu tinha esquecido que tinha escolhido o amigo mais lúdico e mais exigente também. "Mayra. não tem um tema também da nossa época, tipo Snoopy ou Turma da Mônica?". Não, não tinha. Tá pedindo muito, já.

Na primeira banca que entrei, fui hostilizada porque não sabia ao certo qual álbum eu queria e pedi pra ver todos. Afinal, eu estava enferrujada há anos!!! A vendedora mal-humorada me disse:

- Ah, minha filha, mas são muitos pra eu pegar pra você ver.
- Tem problema não, tô com tempo de sobra pra ver.
- É, mas eu não tô com tempo de sobra pra te mostrar.

Tratar assim uma mulher de 36 anos que quer brincar de figurinhas pode, Arnaldo? Na Banca da Rodoviária pode. Saí de lá puta da vida e me debandei pra asa sul. Onde já se viu?? Decidida a voltar pra casa com meu álbum em mãos, fui parando de banca em banca. Quando eu já estava lá pela décima terceira ou quarta, encontrei, finalmente, algo que "nos" agradaria: Mundo Mágico Disney. Conta desde o primeiro filme de animação até os atuais, da Pixar. Da Branca de Neve ao Carros 2. Super bacana, bonitinho e colorido. Pronto, resolvi. Dois álbuns pra viagem por favor! E não reclama não, Marcelo!

Foi aí que veio a segunda parte e a mais difícil: encontrar as figurinhas. Rodei mais umas dez ou doze bancas (eita falta do que fazer, hein?!) até encontrar pra comprar uns 30 pacotinhos ao todo. Eu, que tinha saído de casa pra almoçar, cheguei com o sol se pondo e looouca pra sentar e colar meus cromos. Cada vez que colava um mais torto eu tinha vontade de morrer. Pô! Assim meu álbum vai ficar feio, né? Pode não.

Então liguei pro coleguinha e avisei: "Tô com teu álbum aqui. Temos que almoçar de novo pra eu te entregar". E como todo ócio criativo que se preze, eu fui a pessoa mais empolgada do mundo até cansar. Quando fico muito tempo sem comprar figurinhas, olho pro álbum e penso: "Será que o Marcelo já trocou com alguém? Será que eu saio pra comprar figurinhas e ligo só pra contar que já tenho mais do que ele? Hihihi".

Mas a brincadeira nos tempos de hoje está sem graça. Se você não trocar os cromos ou ganhar dos amigos no bafo, basta entrar na internet, marcar os números que faltam e pronto, chega tudo na sua casa bonitinho e completinho. Mas como eu sou nostálgica, vou continuar tentando completar o meu sozinha. Só assim pra eu entrar em bancas de revista e reviver meus tempos de menina. Se alguém quiser brincar comigo, ficam a dica e o convite. Conheço um bando de gente que compra álbuns dizendo que é pros filhos só pra ter o prazer de brincar. Ahã. O importante é se divertir, não é mesmo?

Beijinhos autoadesivos pra vocês.