
Começou há três semanas. Desde então, meu celular toca religiosamente todos os dias depois das 18h, de números desconhecidos, sempre alguém pedindo uma pizza. E segue tocando até perto de meia-noite. Eu disse todos os dias. Não entendi nada no começo. "Pizza? Que pizza?? Pirou??". Fiquei bem irritada pra falar a verdade. "É engano, meu filho! Este número é particular". Depois de uma semana tentando acreditar, me convenci: meu número estava em algum lugar como sendo de uma pizzaria delivery. Ok. Coisas que acontecem só comigo.
Então perguntei pra um dos esfomeados que me ligava: "Vem cá, onde você pegou este número? Ah, num panfleto que distribuiram no Gama? Que ótimo, hein? E não tem um número fixo aí? Tem?? Então me passa por favor!!". Ligo lá e atendem num italiano chinfrim: "Bom Giorno". Bom giorno é a p** que te p**!!!! Não, eu não disse isso, mas tive muita vontade. "Olá, boa noite, tudo bem? Não, não quero pizza, quero apenas informar que vocês publicaram o número do meu celular no panfleto de vocês e que não aguento mais atender pedidos de pizza". A moça, muito educada e sem graça, me pede desculpas e conta que já mandaram fazer panfletos novos e com o número certo. Tá. E o que a gente faz com os antigos?? Nada, óbvio. Senta e atende novas ligações, Mayra.
Quando comentei com amigos, ouvi de muitos: "Ah Mayra, entra na brincadeira, anota os pedidos". Gente, eu sou doida, sou divertida, sou sarcástica... mas não sou uma pessoa má. Já pensou que horror você estar em casa com fome, pedir uma pizza, achar que ela vai chegar e ela nunca dar notícias de vida, porque um engraçadinho resolveu curtir com sua cara? E por conta de um erro que você não tem culpa nenhuma? Não, eu nunca faria isso. Mas também não disse pra ninguém fazer.
Outro dia lá em casa estava recebendo uns amigos e o telefone, como de praxe, destrambelhou a tocar. Final de semana, comprovadamente, as pessoas pedem mais pizzas, muitas pizzas. A amiga pega o telefone e resolve me dar uma força: "Não amigo, publicaram este número errado, ligue pro fixo". Depois de atender umas 10 ligações, se diz cansada. O marido então assume o telemarketing e resolve que vai se divertir um pouco. Foi o que eu disse: fazer eu não faço, mas não proibo ninguém de fazer nada. Devo confessar que nos divertimos MUITO. Nunca rimos tanto. A cada ligação, ele atendia falando numa língua diferente. Isso quando não oferecia os tipos mais esdrúxulos de sabores e ouvia, em 90% das vezes, toda sorte de palavrões. As pessoas ficam irritadas quando estão com fome, néam?
A brincadeira valeu por uma noite. Porque nas seguintes continuou a mesma rotina de sempre. Outro dia até fiz amizade. A moça ficou tão penalizada com a minha situação que até esqueceu da pizza. Começamos a conversar e ela me contou que passou por situação parecida, mas publicaram o número dela num outdoor de promoção de uma rádio. Foi mais fácil de resolver mas o celular dela tocou um bocado. E hoje é sexta-feira e tem feriado vindo aí. Meu telefone vai bombar, certamente. Já nem reclamo mais. Se tiver na balada, não atendo números desconhecidos. Se tiver dormindo, ponho no silencioso. E, tenho certeza, quando isso acabar, bem possível que eu entre em depressão. Afinal, é tão bom ouvir o telefone tocar quando se mora sozinha. Nem que seja engano e pra te pedirem uma pizza.
Beijinhos delivery de bom feriado pra todos.