
Começaram me dizendo, cinco anos atrás, que eu tinha intolerância à lactose. Tá, tudo bem. Sofri feito um bebê desmamado. Tiraram meu leitinho, meu queijinho, meu chocolatinho, minha lasanhazinha, meu misto-quentezinho, meu iogurtinho... A pessoa tem um blog chamado Milk Shake e nem leite pode tomar. Ok.
Passei um ano a pão e água, praticamente. Quando saía com os amigos, tinha que fazer um rango antes, porque - vou te dizer, viu! - encontrar comidinhas na rua sem lactose não é lá muito fácil. Mas me adaptei e adotei a soja como quem adota um filho. Meu café-com-leite matinal estava garantido. Beleza. Se antes eu já gostava de passear em supermercados, desde então eu me tornei uma leitora de rótulos de embalagens mais compulsiva e atenta. Frases como "contém traços de leite", "contém soro de leite em pó", "contém gordura anidra de leite", passaram a fazer parte do meu vocabulário de consumidora seletiva. Até ir descobrindo, um a um, os produtos que me eram permitidos. E por aí você já pensa no que se tornou minha vida naquele período.
Um convite pra jantar na casa de alguém era sempre uma tensão. E agora? Janto antes e "belisco" na casa da visita pra não fazer feio? Ou me passo por mulher-fresca-de-alimentação-restritiva e digo logo o que é que tá pegando? Até porque, vou contar aqui, eu não sou chata pra comer. Tenho lá minhas preferências e rejeições, mas fome eu não passo mesmo. Sem contar que eu sou uma pessoa deveras curiosa quando o assunto é comida. Adoro experimentar coisas novas, diferentes e esquisitas.
Os anos passaram-se sem derivados do leite. Aos poucos, fui voltando a comer um queijinho aqui, um leitinho com 10% de lactose ali e ia acertando as quantidades na tentativa-e-erro. Assim: comia um pedaço, dois... se no terceiro eu vomitasse, entendia que não podia passar dali. Tranquilo. E assim fui vivendo. Até descobrir um remedinho porreta, receitado pela gastro: pílulas de lactase, que eu chamo carinhosamente de "cápsulas da felicidade". São enzimas que meu corpo não processa, em forma de comprimidos, e que me ajudam nas saias justas de jantares, eventos ou, até mesmo, daquela lasanha preferida e com gosto de infância que a mamãe faz. E assim, fui seguindo (quase) feliz por uns três anos.
Eis que então percebo que a soja começa a me causar reações estranhas: náuseas, gases, azia e sensação de inchaço. Volto ao médico e ouço: "Mayra, você deve estar tendo reação cruzada". What??? Is it a joke??? De piada não tinha nada. Descubro então que a soja não é ruim pra mim, é péssima. Tipo arqui-inimiga, sabe? Aí lá vou eu pesquisar na Internet receitas-ou-qualquer-outra-coisa que eu possa comer que não tenha leite. E nem soja. Lindo, não?? Foi difícil, mas eu me adaptei: se antes já gostava, agora sou a maior admiradora de chás do mundo!!! Quanto ao resto, eu abstraí. Simples assim.
Passei um ano a pão e água, praticamente. Quando saía com os amigos, tinha que fazer um rango antes, porque - vou te dizer, viu! - encontrar comidinhas na rua sem lactose não é lá muito fácil. Mas me adaptei e adotei a soja como quem adota um filho. Meu café-com-leite matinal estava garantido. Beleza. Se antes eu já gostava de passear em supermercados, desde então eu me tornei uma leitora de rótulos de embalagens mais compulsiva e atenta. Frases como "contém traços de leite", "contém soro de leite em pó", "contém gordura anidra de leite", passaram a fazer parte do meu vocabulário de consumidora seletiva. Até ir descobrindo, um a um, os produtos que me eram permitidos. E por aí você já pensa no que se tornou minha vida naquele período.
Um convite pra jantar na casa de alguém era sempre uma tensão. E agora? Janto antes e "belisco" na casa da visita pra não fazer feio? Ou me passo por mulher-fresca-de-alimentação-restritiva e digo logo o que é que tá pegando? Até porque, vou contar aqui, eu não sou chata pra comer. Tenho lá minhas preferências e rejeições, mas fome eu não passo mesmo. Sem contar que eu sou uma pessoa deveras curiosa quando o assunto é comida. Adoro experimentar coisas novas, diferentes e esquisitas.
Os anos passaram-se sem derivados do leite. Aos poucos, fui voltando a comer um queijinho aqui, um leitinho com 10% de lactose ali e ia acertando as quantidades na tentativa-e-erro. Assim: comia um pedaço, dois... se no terceiro eu vomitasse, entendia que não podia passar dali. Tranquilo. E assim fui vivendo. Até descobrir um remedinho porreta, receitado pela gastro: pílulas de lactase, que eu chamo carinhosamente de "cápsulas da felicidade". São enzimas que meu corpo não processa, em forma de comprimidos, e que me ajudam nas saias justas de jantares, eventos ou, até mesmo, daquela lasanha preferida e com gosto de infância que a mamãe faz. E assim, fui seguindo (quase) feliz por uns três anos.
Eis que então percebo que a soja começa a me causar reações estranhas: náuseas, gases, azia e sensação de inchaço. Volto ao médico e ouço: "Mayra, você deve estar tendo reação cruzada". What??? Is it a joke??? De piada não tinha nada. Descubro então que a soja não é ruim pra mim, é péssima. Tipo arqui-inimiga, sabe? Aí lá vou eu pesquisar na Internet receitas-ou-qualquer-outra-coisa que eu possa comer que não tenha leite. E nem soja. Lindo, não?? Foi difícil, mas eu me adaptei: se antes já gostava, agora sou a maior admiradora de chás do mundo!!! Quanto ao resto, eu abstraí. Simples assim.
E assim, fui vivendo feliz (pero no mucho). Certo dia, uns 6 meses atrás, fui a três nutricionistas diferentes (sim, porque quando a primeira me disse o que vou contar aqui, eu me desesperei e saí correndo atrás de outras opiniões de profissionais). Já dá pra imaginar o que rolou, né?? Yeah, yeah, continuo não me sentindo bem quando como determinadas coisas, mesmo sem soja e sem lactose. Consegue advinhar? Os médicos estão desconfiados que, além disso tudo, eu também tenha alguma intolerância ao glúten!!! Que tal??? Não, eu não sou celíaca - menos, né gente?? -, eu só passo mal, é diferente. Nos últimos meses minha vida cortei um dobrado. Tanto que me revoltei e chutei o balde. Ah, chutei mesmo, de sair rolando e batendo nos cantos!! Cortar o trigo, a aveia e, o principal, a cerveja, é demais pra mim!!!! Tentei, tentei e não consegui. Pronto, falei.
Pois bem, voltei hoje à minha médica. Com cara de menina danada que não seguiu como devia a dieta de "detoxicação" nos últimos 15 dias e pronta pra levar um puxão de orelha. Conversa vai, conversa vem, digo que continuo sentindo desconfortos, náuseas, passando mal do estômago, etecetera e tals (jura, Mayra??)... Então vem o veredito:
"Mayra, vamos ter que radicalizar (mais????). É por pouco tempo, pra que eu consiga diagnosticar teu problema mesmo, baseada no teu histórico e analisando alguns exames que vou te pedir pra fazer. Você vai cortar - ouviu bem? eu disse c o r t a r mesmo, arrancar fora, deletar, decepar - da alimentação, por 30 (trinta!!!!!) dias, a lactose, a soja, o glúten e os cítricos".
"Putaquepariumermão!!!!!! Agora os cítricos também????". Foi o que eu disse pra mim mesma naquela hora. Não xinguei a médica porque a coitada realmente não tem culpa. Eu sou muito indisciplinada e adoro quebrar regras. Mas dessa vez não vai ter jeito. Senão os exames vão me denunciar, o estômago vai gritar e eu vou passar mal de verdade. Fazer o que?? Vou viver de muito amor, brisa e cápsulas da felicidade no próximo mês. E sabem da melhor?? Vou ficar com a pele linda, magrinha, gostosa e... saudável. Pois é. Tive que aflorar a "Pollyanna" que existe em mim e fazer o Jogo do Contente. Hoje já fui comprar as coisas que ela me passou pra dieta: leite de arroz, óleo de coco, suco de aloe vera (a tal da babosa), macarrão e barrinhas de Quinoa, farinha de maracujá e muita, mas muita linhaça na veia... Que delícia (mentaliza, Mayra, mentaliza)!!! Vai dar tudo certo, gente.
O MasterCard que me desculpe, mas pra tudo nessa vida tem um preço. O melhor é que agora, quando eu passar pela esteira rolante da Câmara dos Deputados, vou poder dizer, com propriedade, que me sinto dentro do desenho d'Os Jetsons!!! E não fique com pena de mim. Digo pra você, daqui a um mês, passados os tais trinta dias, virei aqui dizer, que das duas uma: ou eu vou mesmo aumentar minha lista de comidas proibidas e terei que viver como astronauta, me alimentando de cápsulas; ou então serei uma mulher-sem-soja-sem-lactose-mas-com-glúten-e-cítricos muito da feliz, e que teve uma boa história pra contar. Vai dizer que não se divertiu com a desgraça alheia??? Hahahahaha.
Beijinhos de um ser que deve ter vindo de outro planeta (ou, provavelmente, de Anápolis).