
Eu nunca tive problemas pra falar. Pelo contrário. Comecei a falar aos nove meses de vida (e não parei até hoje, admito) e sempre tive a pronúncia e dicção perfeitas, modéstia à parte. Com os anos eu percebia que muitas pessoas a minha volta não diziam certas palavras com clareza e comecei a prestar a atenção nisso. E foi a tal da língua presa que sempre me impressionou. Ou melhor, língua pguesa.
Tenho primos, amigos e já tive namorado com língua pguesa. E sempre achei bonitinho. Nunca me incomodou. Engraçado é quando eles mesmos começam a se auto-sacanear e aí não tem jeito, o negócio é rir.
Outro dia, conversando no MSN com um amigo com quem tenho tido pouco contato real e nossas conversas têm se restringido ao mundo virtual, percebi que o diálogo escrito começou a se dar assim:
- E aí, vamos lá na Corrida da Cerveja?
- Vamos sim. Que hogas você pguetende chegar lá?
- Hã? Vou tomar um banho e sair. E você?
- Ah, vou tomar um banho também e ligar pgo Andgué que vai comigo.
- Her... beleza. A gente se acha por lá então. Tá levando o celular?
- Tô sim. Vai ser tganquilo da gente se achar. Qualquer coisa, eu te ligo, Mayga.
Agora você imagine a minha cara na frente do computador tentando adivinhar que ele tava escrevendo tal-qual o jeito que ele fala!!! E eu confesso que nunca tinha me dado conta de que ele tinha a língua pguesa de verdade. E nem que meu nome era difícil pra quem tem essa dificuldade. Caí numa gargalhada sem fim. Adoro amigos espirituosos.
E aí tô conversando com uma amiga sobre isso outro dia e ela me diz que a vida "inteiga" ela teve a língua pguesa. Oi? Como assim? Descobri em mim uma grande falta de talento: perceber esse detalhe nas pessoas. Então ela me explica que fez tratamento com fonoaudióloga durante muitos anos e que hoje a coisa só bate mesmo quando ela bebe. Só que quando ela bebe, eu bebo também. Aí a gente fala tudo a mesma língua e fica tudo bem. Ainda assim, digo pra vocês... eu nunca percebi!
Anos atrás, a campanha publicitária pro carnaval de uma dessas cervejas fazia o personagem tomar um gole e dizer: "Que magavilha!". A coisa pegou d'um tanto que passamos o carnaval inteirinho no Rio de Janeiro nos comunicando assim.
- E aí, vamos almoçar onde?
- Em Santa Tegueza, no Sobgenatugal, um restaugante ótimo de fgutos do mar. Uma magavilha!
- Ótimo. Já avisaram pga galega?
- Já. Eles vão pegar o metgô pga vir encontgar a gente e irmos todos de bonde.
Pensa aí que loucura. No meio dessa turma, uma amiga, das mais empolgadas com o novo dialeto, morava numa certa cidade litorânea...
- Onde é que você tá modgando agoga?
- Em Guagapagui, no Espíguito Santo.
Precisa falar mais nada, né? E assim todo mundo se entendia. Que nem a língua do P quando éramos crianças. Só sei que eu acho língua pgesa num charminho, juro. E dependendo da língua, eu até me proponho a ensinar a dar umas aulinhas... Hahahahaha.
Beijinhos de quem sempre conseguiu falar o próprio nome direitinho.