
Eu só queria entender. Nada mais que isso. Somente entender porque Brasília, capital do país, não possui hoje um cinema dedicado ao circuito alternativo. Com a "morte" da Academia de Tênis, filmes cult que andam ganhando prêmios por aí e que sempre tiveram público cativo na capital federal, não têm mais onde serem exibidos. Eu só queria entender o porquê disso.
Não, eu não consigo compreender porque uma cidade hoje com porte de cidade grande, com títulos de terceiro pólo gastronômico do país ou o quarto lugar do Brasil em número de barcos, não investe em cultura. Ou melhor, não prioriza o bom cinema, dirigido a poucos e sucumbe aos blockbusters.
Longe de mim menosprezar o cinema comercial, eu mesma assisto ao que passa nas grandes salas. Mas eu só queria entender porque salas como o Embracine, instaladas em um shopping de luxo da cidade, acumulam dívidas e vai fechar suas portas. Um lugar que tinha como proposta em sua abertura, o mix de filmes pops, cults e nacionais. Sim senhor, a idéia era essa. Aqui o que não me deixa mentir:
As oito salas de cinema estão no CasaPark com o objetivo de atingir um público exigente, que gosta de conforto e qualidade e uma programação variada. A Embracine traz salas de alto nível técnico com 1500 lugares e a programação passa por uma curadoria rigorosa que inclui desde os sucessos de Hollywood, Cannes e Berlim até a cinematografia escandinava, brasileira, latino-americana, asiática, européia, além de mostras temáticas, sessões comentadas, projeto cinema-escola e programas de curtas metragens.
Alguém consegue me explicar - porque eu realmente não entendo - como a capital brasileira não tem onde abrigar com qualidade, o cinema que se faz pelo mundo? O cinema que muitas vezes nos diz o que as produções norte-americanas procuram esconder? Os clássicos que fazem parte da formação cultural de qualquer pessoa comum que tenha um mínimo de interesse pelo assunto? Justo uma cidade onde crescem os cursos de cinema em faculdades, não oferece programação diversificada? Será que estamos fadados a engolir o cinema comercial goela abaixo enquanto não aparece quem queira mudar isso?
Eu fico aqui me perguntando como é que estamos em 2011 e Brasília não possui um lugar destinado ao cinema alternativo. No início dos anos 90 (olhem que estou falando em vinte anos atrás), era possível assistir a bons filmes no Cine Brasília (cadê suas mostras de cinema de várias partes do mundo?), no Cinema da Cultura Inglesa (uma salinha pequena onde pude assistir alguns dos filmes mais importantes que já vi) e em outros lugares afins. Por que raios hoje não há um empresário ou quem-quer-que-seja, com condições de bancar isso, pra investir nas salas pequenas, fora dos shoppings, como Espaços Unibanco, UOL ou Itaú? Quem foi que disse que só em São Paulo e Rio de Janeiro há apaixonados pela sétima arte? Hein? Hein?
Eu tinha uns 15 ou 16 anos quando ia com minhas amigas, todo santo-domingo, de ônibus, ao Cine Brasília acompanhar a mostra que tivesse em cartaz. Hoje estou com 35 e não tenho essa opção! Tive o privilégio de conhecer a fase mexicana do cineasta espanhol Luís Buñuel, assistir clássicos como Casablanca, Encouraçado Potemkin e Psicose na telona. E na maior parte das vezes, de graça!!! Hoje... nem pagando!! Conheci o cinema dinamarquês quando não se falava em Dogma, tive acesso aos cinemas asiático e indiano (o famoso "Bollywood"). Foi nessa mesma época que pude descobrir, por mim mesma, que achava Godard um saco e que amava o Fellini mais do que tudo.
Hoje eu tenho uma irmã de 18 anos que estuda cinema e vez ou outra me pergunta onde encontrar esse ou aquele filme-referência pras suas pesquisas. E não falo só dos clássicos, mas do que é produzido hoje, que participa de festivais internacionais e não chega a Brasília porque não tem onde ser exibido. A opção é ir contra todas as teorias politicamente corretas contra a pirataria e baixar da Internet (Oi? Tô errada??). Porque nem as locadoras estão sobrevivendo pra ajudar a contar essa história. Quem tem uma resposta pra isso? Eu, honestamente, só queria entender.
Bejinhos revoltosos.