sexta-feira, maio 06, 2011

Envelhecer é perder amigos


Aviso logo: este não é um post divertido. E digo também: essa história de perder pessoas não é legal. Não mesmo. Eu queria saber porque desde que eu me entendo por gente se diz que o brasileiro não é educado culturalmente pra entender a morte e ninguém faz nada pra mudar isso. Hello? Os orientais e os mexicanos estão aí pra nos ensinar algumas coisinhas. Vamos tentar aprender com eles?

No último mês duas pessoas muito queridas se foram: um colega de trabalho e um dos melhores amigos do meu irmão, que eu via em casa desde que eram moleques. E quer saber? Doeu. E ainda dói. E a dor vem por vários motivos. É a revolta por terem morrido cedo (36 e 27 anos, respectivamente). É a impotência de não poder fazer nada pra mudar isso. É a raiva de uma doença diabólica como o câncer, que ninguém consegue prevenir ou dar jeito depois que ela chega e toma conta. É a esperança perdida depois de um traumatismo craniano causado por um acidente de carro bobo, razão de uma imprudência. É a sensação de querer voltar no tempo pra rever os sorrisos deles e dar um último abraço e ter que engolir seco a triste realidade.

No meu trabalho o clima entre os que conheciam nosso amigo foi o pior de todos. Comoção geral. Em casa, um irmão está com o coração despedaçado com sua primeira perda de verdade. E eu queria poder fazer alguma coisa além de sentir uma dor profunda e muita vontade de chorar quando revejo fotos ou se toca no assunto. Só posso dar meu alento.

É necessário saber lidar com a morte. É importante tentar entender como tudo isso acontece e que a vida segue, por piores que sejam as circunstâncias. É difícil controlar os sentimentos e a dor que toma conta da gente. Esses acontecimentos tristes me fizeram lembrar de uma aula de literatura em que o professor explicava a frase célebre de Fernando Pessoa: "Navegar é preciso, viver não é preciso". Nada mais impreciso que a vida. Nada mais complicado de se definir, criar regras e conduzir do que o ato de viver. E é por isso que a gente deve aprender a dizer o que o coração sente, abraçar quem a gente ama, transmitir e mostrar todo o carinho e amor que a gente sente pelas pessoas queridas. Ao menos nos dá a sensação de que elas foram em paz sabendo que não passaram por aqui em vão.

Infelizmente, eu não tive tempo de fazer isso com essas duas novas estrelinhas que estão no céu. Mas esses momentos fazem a gente refletir e ter vontade de mudar alguma coisa, nem que seja a forma de sofrer e de dar amparo aos que ficam.

Como dizia um conhecido que também já se foi: "Envelhecer é perder amigos". Uma pena que isso seja uma verdade tão dura de se aceitar.

Beijinhos consternados pra vocês. Sintam-se todos abraçados e beijados por mim hoje.

19 comentários:

Sarah disse...

Mayra, é triste, mas compreendo perfeitamente tudo que você externalizou nesse post. A morte é tão presente e, ao mesmo tempo, tão ausente do nosso cotidiano que, às vezes, achamos por bem ignorar tal presença e tratá-la apenas como algo bem distante de nós. Grave engano! Ela está bem ali. Penso que a única coisa que podemos efetivamente fazer é viver todos os dias que nos são confiados da melhor maneira possível. Para nós, frágeis mortais, perder tempo é um luxo que não podemos nos dar. Fique bem!
Beijos, Sarah

Ed disse...

Mayrinha, lidar com a morte é realmente maus. Passeando hoje pelo CNB, notei que as pessoas vão mudando, se renovando, que as figurinhas carimbadas vão desaparecendo, uma delas: Meu pai. Num tem um logista que me vê ou minha mãe que não pergunta do "Seu Dudu". Hoje as curas estão aparecendo junto com novas doenças, engraçado né? Posso ate pensar em teoria da conspiração. Eu lido com a morte pensando que reencontrarei todos um dia.

Cila MacDowell disse...

Na época do acidente do Vôo da Tam em Congonhas a Folha de SP publicou uma matéria enorme de como lidar com a morte. Foi algo que nunca tinha lido no jornal, sinto não ter guardado o recorte. Realmente não somos preparados culturalmente para entender mortes repentinas ou lentas. Eu já vivi de perto as duas formas, logo cedo tive que lidar com os fatos e foi traumatizante. Hoje ainda procuro suavizar a confusão. Tento entender com a Natureza, pois ali nas plantas o ciclo é mais evidente de que a energia circula. O choro é proporcional ao amor, dói, mas é dor de amor que foi sem ter porquê. Mas a cada dia vai amenizando até vira lembrança melancólica que permite ainda choro mesmo depois de 20 anos. Depois de ter perdido uma irmã e minha mãe, achei que não existiria nada pior, mas ai perdi um grande amigo, foi cruel, não há como aprender, cada um vai, cada um leva um pedaço nosso consigo. E volta em lembrança, em tudo, em fragmentos de vida, nem precisa de foto, as vezes só ruido e já é a memória do amigo. Hoje por acaso chorei muito de saudade, mas às vezes também consigo rir de tudo isso, tenho um ótimo humor negro. Por sorte a dor ameniza a cada dia. Fica meu carinho e reza pelos seus amigos. bj Cila

Unknown disse...

Mayroca, amo-te! bjos Kinha

Moema disse...

Mayra,
Li seu post, sinto muito que você esteja passando por essas coisas difíceis.
Há sempre uma lição de alegria escondida em cada momento de dificuldade. Vocês vão encontrá-la. É só olhar direitinho: todas as coisas tem mais de uma face.
Não estou dizendo pra ignorar a dor, apenas para procurar olhar "para o alto e avante", porque há algo lá para vocês.
Estou de longe mas estou por perto. Se precisar de um ombro ou qualquer coisa, é só chamar.
Beijos

Manuela Bailão disse...

Lindona,

Lindo texto... tenho passado por isso com mais frequência de uns anos para cá e isso me faz perceber que estou de fato envelhecendo... 

Fiquei emocionada! 

Meu alento é que com essas ocasiões eu aprendi que existe algo maior que nós e por isso sempre peço luz, para nós que ficamos, mas principalmente para aqueles que se vão para que aceitem e que o caminho seja tranquilo...

Fique bem!

beijo!

Clayton disse...

Mayra, realmente é triste. Também perdir amigos próximos de forma repentina e sei como você está se sentindo. Estou lendo um livro tibetano sobre o viver e o morrer e de fato nós ocidentais estamos longe de entender o sentido da morte e em como lidar com ela.

Wilson Natale disse...

Mayra:
Doeu, dói e doerá! E se dói é porque existe amor, fraternidade.Não fosse assim, não doeria.
E você não perdeu nada. Pois, só se perde aquilo que não se teve.
E desde pequeno, aprendi com os meus avós a grande verdade da vida: "Há o tempo de chegar e o tempo de partir. Ninguém fica para sempre"!
E meu avô, bincando,dizia uma grande verdade:"Todos nós sofremos de um doença incurável que se chama VIDA"!
Deixa doer, Mayra! Só assim, a cada dia, doerá menos.
Só assim, ador se transformará em saudade. Saudade, não da partida. Mas do tempo em que se viveu no amor e fraternidade.
E envelhecer é como estar em uma velha estação de trens com os nossos amigos, aguardando o horário da partida. Uns vão antes,outros partem apressados, sem se despedi. De repente, eis o nosso horário e, amigos se despedirão de nós...
Deixa doer Mayra!
A vida se incumbe de nos levar adiante, e o tempo nos dará novos amigos.
Só se perde aquilo que nunca se teve.
Um abraço tipo Band-aid que cura as dores do coração e Beijins tipo de mãe, que cura o dodói do joelhinho.
Wilson Natale

Luciana disse...

Lidar com a morte não é coisinha nada difícil.Tive que lidar com ela aos 13 anos pela primeira vez com a perda da minha mãe. E assim os anos se passaram e muita gente querida também foi para o andar de cima. A dor não desaparece, apenas fica mais branda agora a falta que eles nos faz infelizmente não passa. Por pura coincidência amanhã faz 23 anos que minha mãe foi deste plano para outro.
Bjocas mil e que este momento fique brando.

Maria de Nasaré disse...

Ainda bem que o Sr. Tempo, um cidadão muito caridoso, acaba resolvendo tudo.

Mayra Cunha disse...

Amigos queridos, muitíssimo obrigada pelas palavras carinhosas de conforto e sabedoria. Estão servindo, sem dúvida, de abraço pra mim. Obrigada mesmo, do fundo do coração.

PS. Só um detalhe: no calor da emoção de escrever o post fiz uma confusão que alguns devem ter reparado: troquei o crédito da frase de Fernando Pessoa dizendo que era Camões. Tudo bem, não importa, o sentido continua tendo o mesmo efeito sobre mim.

Obrigada mais uma vez. Beijos a todos.

André Bezerra disse...

Oi, Mayra.
Tudo bom? Aqui é o André, da FAC. Puxa, lamento pela perda dos seus dois amigos. Meus sentimentos para você, para sua família e seus colegas de trabalho.
Olha, sei que faz tempo que a gente não se fala e tudo mais, mas fiquei sensibilizado com seu email. Sei que não é fácil digerir a idéia da nossa transitoriedade nesta vida, mas queria te dizer uma coisa. Tenho praticado há alguns anos o Budismo. E é uma forma muito bonita e especial de viver a vida. Por isso, gostaria de te falar sobre um mantra que recitamos, o Nam Myoho Rengue Kyo, é o mantra que fala sobre a Lei Mística de Causa e Efeito. Recitá-lo por alguns minutos vai ajudar a tranquilizar seu coração e se você recitar dedicando-o aos seus entes queridos que faleceram, isso irá amenizar amenizar o carma deles nas próximas existências. Fique bem, hein!

Um forte abraço para você!
André

Pezão disse...

Deita no chão, olha pra cima, respira fundo e fecha os olhos.
Beijo e abraço e imensos, sou fã de Mayra, que pronunciava Maíra.

Marcius Fabiani disse...

Força sempre, minha amiga. =*

Nana Ervilha disse...

belo post, mayra. admiro tua força. quando estou mal, não escrevo. vc retratou a dor e nossa dificuldade de lidar com ela com muita delicadeza. e abriu com uma dura verdade. a gente perde amigos mais do que ganha, à medida que o tempo passa.

Anônimo disse...

Mayra, Não existe coisa PIOR no mundo. Não existe compreensão, Razão, intenção, aceitação, racionalização.
So um imenso vazio recheiados de perguntas nas quais nunca teremos as respostas pois ninguem vai vir nos dizer porque estamos aqui. Mas um pensamento que me conforta é que de bilhões de espermas e milhões de ovulos que os genitores de seus amigos tiveram eles foram os sorteados e poderam descobrir esta dimensão. Podem não ter ficado muito tempo mas ficaram. Perdi um filho na barriga esse não teve a mesma sorte de conhecer essa dimensão.Acredito que eles devem ter descoberto o que possivelmente vem depois.Se é que existe alguma vida pos morte!!!!! Somos sortudos de termos existido e eles tbm! xoxoxox grande beijo!Thays Couto

Angélica disse...

Oi, Mayra.

Adorei seu blog. Seus textos são deliciosos de ler!
Sobre o último post, concordo plenamente com suas palavras. Morrer é inevitável. A dor da perda também. Foi carregando dores muito profundas como as que você descreveu que adotei a seguinte postura diante da vida: dizer sempre às pessoas que são amadas e especiais. Não economizar elogios sinceros e jamais guardar uma palavra de ânimo só para mim. Afinal, "é melhor ser alegre que ser triste"!

Que o Papai console os corações enlutados e derrame coragem e força sobre vcs.

E já colocando em prática o que acabo de afirmar: queria que soubesse que vc já tem um lugarzinho muito especial no meu coração!

Beijo grande e bom fds.
Obrigada pela oportunidade da reflexão.

Fernando Tragédia disse...

Força linda, qualquer coisa estamos aí!!!

Paulo José - Papai disse...

Um texto cheio de sentimento de impotência.

A morte não dá chance à filosofia. A gente apenas sofre, sem remissão. Sofrem inclusive os indianos e os mexicanos, se quer saber. Riem e dizem que estão preparados, numa tentativa vã de se autoconvencer. Estão preparados coisa alguma. Ninguém se prepara para perder o que mais ama e quer bem.

É sofrer, chorar, rezar (se acreditar em alguma coisa).

Tentar tocar o barco em frente. E seguir.

(E já é muito...)