
E então, quatro dias depois do cara perder a carteira, eu achar e perder de novo, ele me manda uma mensagem no Facebook (confesso que me tremi toda quando vi. Com que cara eu ia dizer que a carteira não estava mais comigo?) :
"Mayra, muito obrigado. Já peguei a carteira com o Ricardo no hotel. Valeu mesmo. Abraços."
Que Ricardo?? Que hotel, cara pálida?? Um ponto de interrogação foi gravado na minha testa naquele instante.
Eu devia ter ficado feliz com o desfecho final da saga da carteira duplamente perdida e tocado a vida. Afinal, ele a tinha recuperado. Mas não. A pulguinha atrás da minha orelha não permitiu que eu desse o caso por encerrado. Respondi ao moço:
"Que boa notícia! Espero que ela tenha chegado a você da mesma forma que eu a encontrei, pois houve uns contratempos entre ela sair das minhas mãos e chegar às suas..."
Que phyna eu sou, não é mesmo? É claro que eu plantei a semente da dúvida na cabeça do cara. Em poucos minutos, recebi uma resposta: "O que aconteceu, Mayra???". Assim, cheinha de pontos de interrogação. Então eu resolvi ser má. Ah, o cara demorou quatro dias pra me dar notícias de vida e agora eu vou passar o texto todinho assim, de bandeja? De jeito nenhum!!! Eu quis me divertir um pouco e incorporei o Sherlock que habita meu ser.
Demorei 24 horas pra responder. É isso aí. E ainda pensei: a carteira já tá com ele, oras, então não tem problema eu dizer a verdade, né?
Fui lá e contei, sem riqueza de detalhes, o que havia acontecido. E terminei com a frase-clímax: "Quem é Ricardo? Que história é essa de hotel?". Ser viciada em Rubem Fonseca faz isso com a gente.
Só que o cara resolveu entrar na minha onda de criar expectativa, mistério, luxo, poder e sedução (tá, nem tanto) e demorou outras 24 horas pra me responder. Ai cacete!!! Ansiosa como sou, nunca me arrependi tanto de inventar moda... Nesse meio tempo, fiquei viajando no que ele ia estar pensando: "Essa mulher é uma louca!!!". Ou: "Que história ótima!". Aí já comecei a pensar que a gente ia marcar um café e rir disso tudo, virando os melhores amigos do mundo. Sim, eu assisto muita comédia romântica. Detalhe que eu só vi a foto 3x4 dele na habilitação, porque no Facebook tinha uma criança sorrindo. Um verdadeiro tiro no escuro, porque a gente sabe que ninguém fica bem em foto de documento. Nem o Brad Pitt, aposto.
Aí ele só escreve assim: "Segunda-feira esse Ricardo me ligou dizendo que tinha encontrado minha carteira num táxi e que estava hospedado num hotel. Fui lá e peguei. Essa história dava um livro, hein?".
Tem senso de humor. Gostei. E olha, um livro eu não sei, mas já rendeu dois posts deste blog. Minha única questão pra sossegar de vez com isso tudo, era esclarecer a dúvida maior: como esse tal de Ricardo ligou pra ele se eu revirei aquela carteira inteirinha e não achei telefone nenhum? Será que ligou pra tal Karina? Decifrou algum código que eu não pesquei? O que esse Ricardo tem que eu não tenho??? Respondi mais uma vez perguntando isso em poucas linhas.
A resposta? O crescente soar de grilos: cri-cri-cri-cri-cri. Sim, meus amigos, nunca mais esse moço me respondeu. Nunca mais deu notícias de vida. Nunca mais disse uma simples palavrinha. E eu, querendo aplicar o que aprendo nos romances policiais que leio me saí uma péssima detetive, sem ter o principal desfecho da minha história.
Bom, pelo menos o cara tá lá com a Cartier-Paris de volta no bolso, né? Perdeu a chance de um café divertido na vida dele. Só digo isso. Porque eu sou uma pessoa de bom coração e sempre disposta ajudar o próximo, mesmo quando ele está bem feinho na foto da CNH.
Beijinhos faltando uma peça do quebra-cabeças.