terça-feira, novembro 18, 2014

A Caverna do Dragão


Eu sou uma pessoa que tem fome por natureza. Eu gosto de comer, isso é um fato. Tenho prazer pela comida. Fazer dieta pra mim é uma tortura. Não me venham com papinho de que dá pra fazer dieta com comidas boas e saudáveis. Não, não dá. O que é bom engorda mesmo. Caso encerrado. Eu gosto é de bacon. Ainda assim, eu não sou uma glutona, como com (alguma) moderação.

Fiquei agora duas semanas de molho por conta da cirurgia, tomando antibiótico e sem beber. E tive que ficar em casa pra cuidar do curativo. Pronto, chegamos no problema.

Essa história de ficar em casa é um caso sério. Você fica lá cercada de coisas bacanas e de tentações: computador, televisão e livros. Mas o que você não lembra é do dragão e da sua caverna. Sim. Toda casa tem e ninguém se lembra disso: a geladeira e a cozinha. E pra quem gosta de cozinhar, como eu, isso é um verdadeiro desespero. Caso de polícia, eu diria.

Eu sentava na frente da televisão pra ver novela e ficava pensando no que eu poderia fazer pra jantar. Mal me concentrava no Comendador e no diamante cor-de-rosa, já começava a pensar que tinha salmão no freezer, requeijão, alcaparra e batata na geladeira e que dava pra rolar um escondidinho show. Lá ia eu pra caverna do dragão. A novela que esperasse.

Sentava pra ler os livros da pós-graduação e em meio às histórias sobre eleições presidenciais e a vida do Roberto Marinho, pensava no carpaccio abandonado no congelador, coitado, na mostarda na porta da geladeira e na rúcula que ia estragar. O dragão já tava lá me esperando com um risinho maroto.

Colocava um filme bestinha pra assistir, esquecer da vida, chuvinha caindo no meio da tarde. Lembrava da banana na fruteira que ia perder, daquele chocolate com 85% de cacau que a irmãzinha trouxe da Europa e que ia ficar lindo dentro dela assada no forno, assim, todo derretido e esparramado, escorrendo na minha boca. Dragão já com lixa de unha e perna cruzada me olhando de soslaio e ironia nos olhos, me aguardando sentado no banquinho. Palhaço.

E assim a minha vida de enferma se seguiu. Um quitute atrás do outro e nenhum remorso. Concluí que antibiótico dá larica. Pensem nisso quando o médico receitar pra vocês, viu? E olha que eu nem fumei o remédio. A fumaça eu deixei pro dragão, aquele safado que nem dividia comigo as calorias, só me olhava e dava uns risinhos. Ainda bem que São Jorge apareceu pra dar um jeito nele.

Beijinhos de quem agora precisa correr pra academia pra dar cabo do prejuízo.

4 comentários:

Unknown disse...

Monta a Cozinha de Jorge pra administrar esse dragão. A galera aplaude.
ZéHélder

Geso Alves disse...

Muito bom!! Me deu fome....

Silvia Masc disse...

Que vontade dessa banana com chocolate. Delícia de texto Mayroca! bjs

Fabia Carolina disse...

Adorei esse seu post Mayra, me diverti! rsrsrs