sexta-feira, julho 23, 2010

Visca Barcelona!


Chegamos em Barcelona em plena véspera de feriado, o dia de San Juan, uma espécie de São João deles onde celebra-se o solstício, noite mais curta do ano e entrada oficial do verão. É uma festa grande na rua, fogos de artifício e foguetes pipocando pra todos os lados, música e tendas na praia, regadas a muito vinho e cava, o espumante deles. E foi neste dia que eu quebrei meu nariz, como já contei aqui. A festa em si é bem divertida, até porque Barcelona reúne gente do mundo inteiro o tempo todo. Você ouve dezenas de línguas diferentes sem parar. Dá pra ficar zonza. Na foto, dá pra notar como a praia fica lotada (fica assim em toda a orla, imaginem!) e a gente volta pra casa com areia até na alma!!!


E eu quebrei o nariz e fui, no mesmo dia, pro hospital, pra praia e pro show do Kiss. Olhava pros fãs chegando todos de caras pintadas e dizia: "Essa galera não sabe o que é ser heavy não. Que mané pintar a cara, metal que é metal usa maquiagem natural, quebra logo o nariz". As amigas não aguentavam e destrambelhavam a rir, néam? E como tínhamos ido à praia mais cedo, estávamos com look verão-total no show. Eu ainda disfarcei com uma blusa preta, mas as duas estavam de havaianas (sim, num show de rock... só em Barcelona) e a Paty ainda abriu a canga no chão enquanto esperávamos sentadas começar. E o melhor: ninguém dava a mínima pra isso.



Conhecemos um barzinho curioso chamado Chupitos, que nada mais são que "shots" de bebidas. A diferença é que o bar não tem mesas e serve apenas isso. E são mais de 300 tipos diferentes que você escolhe pelo nome, sem fazer idéia do que vai vir. Esses da foto levavam chantilly em cima e pegavam fogo. Uns empolgados pediram o Monica Lewinski e quando viram, um copo acoplado a um grande pinto de borracha era colocado em suas bocas e chacoalhado até babarem uma espuma branca. Ficou com nojo? Pode até ficar, mas eles viraram o centro das atenções e a gente riu demais. O Viúva Negra, que uma amiga pediu, prometia causar reações inesperadas. Quando ela virou o chupito, bochechou, engoliu e depois soprou, sentiu calafrios que eu nem quero descrever aqui a cara que ela fez...



Em Barcelona é permitido plantar maconha em casa e também andar pelado na rua. Não necessariamente nessa ordem. Mas se você se deparar com algum peladão no metrô ou na fila do banco, não adianta chamar a polícia. Recolha-se à sua insignificância e finja que não é com você. Tudo muito natural. Só não apele como o cidadão da foto. Se for pra ficar nu, fica de verdade. Porque pelado de boné, mochilinha e Crocs, ninguém merece. E você aí achando que topless nas praias européias era o auge da falta de pudor, né?

Fotos da viagem pra Barcelona aqui.

Beijinhos nada catalães.

segunda-feira, julho 19, 2010

Un peu de Paris


Voltar a Paris pela segunda vez foi interessante. A começar pela completa e irrestrita liberdade de não ter que visitar pontos turísticos obrigatórios. Se fui à Torre Eiffel todos-os-dias que fiquei lá, foi porque, simplesmente, eu queria. E quando decidir não ir, não fui. Sem peso na consciência. Os amigos-companheiros-de-viagem quiseram voltar lá no pôr-do-sol pra tirar as últimas fotos antes de irmos embora da França. Soltei a pérola que saiu estranha, mas convicta, da minha boca: "Vão lá, não aguento mais ir pra Torre Eiffel". Que esnobe, hein?? Hehehe. E me joguei sozinha pra Pigalle. Delícia.


Havia estado em Pigalle somente à noite, para ver as luzes de neón e curtir uma balada. Desta vez, saí de Montmartre andando com um mapa na mão em busca do Café Les Deux Moulins, aquele em que Amelie Poulain trabalhava no filme e onde se passam boas partes das cenas. Descobri uma Pigalle divertida, de gente bonita, construções tortuosas e de muito agito. Beiravam as 8 da noite e o sol do verão ainda ardia no céu. Entrei no café, pedi uma taça de vinho no balcão e sentei-me em uma mesa. Fiquei me sentindo a própria parisiense dentro de um dos meus filmes preferidos, não fosse o guia de Paris que abri pra ver outros lugares interessantes pra se visitar. O café é uma graça. Fui ao banheiro disposta a arrancar uma meia-calça que vestia e que havia puxado o fio loucamente, quando me deparei com um pequeno "museu" com alguns dos principais objetos do filme: o abajour de porquinho, o duende viajante, as polaroides... Uma fofura!!! Tirei um montão de fotos no meu iPhone... que foi roubado assim que cheguei no Brasil. Paciência, néam?


E é lindo como na Europa eles celebram a chegada do Verão! Em Paris, a Fête de La Musique é o evento que rola durante as 24 horas que antecedem a estação do calor. E põe calor nisso! É impressionante como a temperatura muda de uma hora pra outra. Chegamos ainda pegando um friozinho e, como num passe de mágica, bastou o verão mudar no calendário pra estarmos de bermuda e camiseta passeando pela cidade. A Fête de La Musique é uma sensação. Música de todos os lugares do mundo acontecendo por todos os cantos possíveis e imagináveis da cidade. Uma delícia só! Passeando pelo Boulevard Saint Germain vimos tanta gente bonita e ouvimos tanta música boa que dava pra jurar que era uma pegadinha, de tão inacreditável.


Assistimos ao jogo Brasil X Coréia do Norte no bar Favela Chic, de brasileiros. Rolou telão, torcida e muito samba. Os franceses já estavam meio desacreditados e putos com a seleção deles (foram desclassificados um ou dois dias depois) e pareciam bem animados com o Brasil. Fui comprar uma caipirosca e o atendente, em francês, me perguntou se queria vodca nacional ou importada. "Importada, claro!". Então ele me aparece com uma Smirnoff na mão. Hein??? Pára tudo!!! Qual é a vodca nacional, moço? "Ah, só tem Absolut". Pois é nacional mesmo, vai. Vou fazer esse sacrifício... rsrsrs. E tomei a pior caipirosca do mundo. Não pela vodca, mas pelo primo-francês-de-suco-Maguary-de-manga que misturaram. Querer tomar drinque tupiniquim feito por gringo dá nisso.



Detesto cemitérios. Não quis visitar os famosos cemitérios franceses na outra viagem e dessa vez não escapei, terminamos visitando o de Montparnasse. Os amigos insistiram e lá fui eu. Logo de cara encontramos o túmulo de Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre. Tá, foi emocionante. Mas depois a peregrinação em busca de outras lápides me deu uma sensação estranha. Meio aquela coisa de criança brincando de caça ao tesouro. Olha, achei o do Baudelaire!!!. Ou de repente tropeçar onde Júlio Cortazar está enterrado. Eu hein!! Sentei num cantinho e fiquei lendo enquanto meus amiguinhos se divertiam com isso. Gosto mais de gente viva.

Mais fotos da viagem você encontra aqui.

Bisous parisienses.

quinta-feira, julho 08, 2010

Juízo de 20 com infra de 30


Uma das primeiras lições que aprendemos no curso de jornalismo é sobre o famoso lead. Essa palavrinha de quatro letras nada mais é que o essencial, o resumo da notícia que se vai dar, com as principais informações inseridas. A partir daí, o leitor tem uma idéia do que se vai dizer e decide se quer saber detalhes ou não, já sabendo do que se trata.

Mas por que comecei este post falando nisso? Explico! Voltei das férias na Europa esta semana e minha viagem não conseguiria ser descrita sem que eu desse o lead pra vocês: eu quebrei o nariz em Barcelona correndo atrás de um táxi. Prontinho. Entenderam a lição? Eu poderia começar contando minha saga cronologicamente, mas vocês devem concordar que não daria pra passar batido sobre isso, néam? Pois bem, vamos aos fatos.

Chegamos na Catalunha em pleno dia de San Juan, o São João deles, que celebra a entrada oficial do verão. É, simplesmente, a noite mais curta do ano, devido ao solstício. Feriado local, Barcelona fica em festa, com música rolando em todas as praias, com tendas montadas, fogos de artifício e muita gente bonita. Pessoas se espalham pela areia, dançando, namorando, batendo papo e tomando vinho ou cava, como chamam espumante por lá. É muito bonito e sedutor. O astral é incrível. A celebração reúne gente de todos os lugares do mundo, até porque o turismo ali é fortíssimo e gringo é o que não falta na rua.

Tá, mas e o nariz, onde é que entra nisso tudo?? Calma aí que já chego lá. O fim da festa de San Juan é meio reveillon de Copacabana, sabem? Aquela coisa desesperadora de você querer ir embora pra casa e não achar um táxi. Fiquei cerca de quarenta minutos tentando pegar um e quando passavam, estavam ocupados ou, quando livres, não queriam pegar passageiros. Se tornou um desafio conseguir ir pra casa com o dia já amanhecendo. Todos que passavam com luzinha verde, a gente corria, gritava, acenava... na esperança de sensibilizar algum motorista a parar. E numa dessas, a pessoa aqui tropeçou e caiu de cara no meio-fio. Isso mesmo que eu disse: eu caí de cara no meio-fio. Cataploft! Que nem fruta madura. E não ri porque a coisa foi feia. Rsrs. O táxi? Não, ele não parou.

Quando pus as mãos no rosto e só vi sangue, senti meu corpo gelar de pânico e fui em direção a um carro estacionado pra ver como eu estava no espelho retrovisor: não dava pra ver, minha cara estava completamente "pintada" de vermelho e no topo do meu nariz, uma grande ferida. Comecei a chorar: "perdi minhas férias", logo pensei. E era apenas o quinto dia de 18. Então correram na padaria ali perto, compraram água e arrumaram gelo pra me trazer. Lavei o rosto e fiz compressa. Pra completar, estava sem celular e consegui um emprestado de um dos passantes que se consternou com minha situação. Liguei pra amiga que me hospedava e que havia ido pra outra praia. Ela tinha tido mais sorte do que eu e estava dentro de um táxi indo pra casa. Mudou o caminho e foi me buscar. Ufa!

A situação estava sob controle. Em questão de minutos, consegui ser a pessoa mais calma do mundo, acreditem. Já havia me conformado com tudo aquilo e só pensava em ir ao médico, saber o que realmente havia acontecido. Enquanto aguardava minha amiga chegar, passou um catalão e veio falar comigo, mostrou-se bem preocupado e me disse:

- Você precisa passar algo pra não infeccionar isso.
- Mas eu lavei com água. Daqui a pouco vou ao médico, não precisa se preocupar.
- Veja bem, você caiu no meio-fio, no meio da rua, onde as pessoas fazem xixi... Eu moro aqui perto, vamos lá que a gente limpa isso.

Ele disse a palavra mágica: xixi (tudo isso em inglês/portunhol, tá gente?). Quando pensei naquilo me deu desespero e nojo. E eu tava olhando pra um cara que eu nunca tinha visto na vida mas que tinha uma certa razão. Perguntei se ele tinha um telefone e liguei pra minha amiga, avisando que estava indo lá tratar o machucado e que ela desse um toque quando chegasse.

Vou falar uma coisa. As pessoas dizem que os catalães são grosseiros, mal-educados e que nunca se importam com estrangeiros. De fato, vi muitos assim. Mas essa criatura que veio me ajudar, caiu do céu. Chegamos ao apartamento dele (aliás, um senhor apartamento, viu...), deitei na banheira, ele forrou meu rosto e lavou cuidadosamente minha ferida. Passou um antiséptico e então minha amiga chegou pra me buscar. Foi lindo tudo isso.

Sabe aquele seguro-saúde de viagem que é obrigatório mas que muita gente insiste em não comprar pra enconomizar 80 dólares? Pois é, foi ele que me salvou. Passamos em casa pra pegar o cartão e terminei caindo no sono enquanto aguardava retorno. Acordei parecendo o Sloth, aquele monstrengo dos Goonies, sabem? Nariz torto e cara (muito) inchada. E um sorriso imbecil na cara de quem resolveu que não perderia as férias por conta disso. Já saí do banho me auto-sacaneando. As amigas não entenderam nada mas entraram no clima. O seguro me mandou pra um super centro de traumatologia em Barcelona. Fui prontamente atendida e muito bem tratada por todos. O raio x apontou um fratura leve e Luiz Alberto, traumatólogo que cuidou de mim (virou quase um amigo de infância), me passou antiinflamatório e alguns cuidados pra tudo correr bem. Só não relaxei quando me pediu pra voltar em 5 dias que um otorrino veria se teria que engessar. Oi?? Como assim engessar, Luiz Alberto???

- Calma, Mayra, se a sua recuperação for boa, isso não será necessário.
- E se precisar, eu vou ficar com um capacete de gesso??? Luiz Alberto, eu estou de férias a ainda vou ficar 12 dias viajando!!! Faz isso comigo não!
- Calma, Mayra. Hoje em dia se engessa só o nariz.
- Ah tá, só o nariz, beeeeem melhor, né? Fala sério...

Então me veio à mente aquela cena de Sideways, em que a japa quebra o nariz do fulano com porrada e ele fica uma parte da viagem com um curativo gigante no meio da cara. Queria aquilo pra mim não. E aí, resolvo descontrair e olho pra minha amiga e digo em português com os olhos marejados e voz de choro: tô horrível e não vou pegar ninguém assim! Hahahaha. E aí as duas começam a rir descontroladamente. Luiz Alberto, sem entender nada, começa a rir junto, claro.

- Ok, Luiz Alberto. Mas e a ferida, vai ficar aberta assim?
- É melhor, pra cicatrizar.
- Mas eu tô indo pra praia quando sair daqui!!! (a pessoa animada saiu de casa pra ir pro hospital já de biquíni, entendam).
- Ah, vc vai pra praia agora (rindo muito)? Então a gente põe um curativo só pra proteger da areia.

E lá se vai a Mayra com um curativo ri-dí-cu-lo branco cobrindo todo o nariz passear por Barcelona. E sabem da maior? Fui pra praia, sim. Fui conhecer vários lugares ótimos e não perdi o bom humor por isso. Ah, e sabem onde eu terminei nesse mesmo dia? No show do Kiss que aconteceu no Montjuïc, uma montanha bárbara que tem lá!!! Que, aliás, foi fantástico. Os caras são demais!

No dia seguinte, minha mãe vê na televisão que 30 pessoas foram atropeladas por um trem na noite de San Juan e que 12 morreram em Barcelona. Manda uma mensagem pro meu celular pedindo notícias e no que respondo falando que tinha ido ao hospital, quebrado o nariz mas que tava tudo bem, ela pira por completo. Uma falando de um assunto e a outra de outro. Quase mato uma mãe do coração... rsrs.

Bom, dado o lead, em breve dou notícias mais detalhadas da viagem. Agora vocês vão entender quando virem um certo "terceiro olho" na minha pessoa nas fotos... hehehe.

Beijinhos de quem tá com o nariz quase 100%, só rezando pra cicatriz não ficar muito grande. E não, eu não precisei engessar. Um médico argentino liiiiiiiiiiiiiiindo de morrer me atendeu e disse que eu poderia seguir viagem tranquila. Adorei.