sexta-feira, novembro 05, 2010

Se aquele Fusca falasse...


Eu tinha 19 anos quando fui passar meu primeiro carnaval em Olinda. Todos os meus amigos se mandaram antes e eu fiquei pra ir depois porque tinha prova de seleção da UnB. Peguei um ônibus Brasília-Recife sozinha e me taquei pro Pernambuco em 36 horas de viagem. Meus pais, óbvio, ficaram apreensivos, mas nada que os surpreendessem tanto, uma vez que eu já tinha feito algumas vezes a viagem por terra para o Piauí. Eu já me sentia super experiente, claro.

Foi um dos melhores carnavais da minha vida. Encontrei meus amigos, conheci uma terra que adotei de coração, recebi a notícia da aprovação no curso de Comunicação da UnB e ainda fui badalar em Porto de Galinhas. Coisa demais pra quem só pensava em curtir uns dias de folia.

Certo dia, um dos amigos me procura afoito:

- Mayra, você tá com passagem de ônibus de volta comprada, não tá? Pra quando?
- Pro dia tal. Por que?
- Me ligaram do trabalho e preciso voltar às pressas e não tem mais passagem pra vender pro dia que preciso. Eu vim de carro com os amigos. Me vende? Você volta no meu lugar.

Sem perguntar muita coisa, completamente desencanada e na pilha de ajudar um brother, topei. Só não perguntei direito quando e como voltaríamos pra Brasília. Feita a boa ação, descubro que a minha vaga era num Fusca. Rá! Por essa vocês não esperavam, né? Nem eu.

Aí eu te digo: foi uma das viagens mais divertidas que já fiz. O "Fucão" deu no couro direitinho e não deu problema nenhum no trajeto. Eu e mais dois amigos, uma barraca guardada no capô-bagageiro e algum dinheiro no bolso. Ah, cabe ressaltar, pouquíssima pressa e quase nenhum compromisso de chegar em casa também. Benditas férias escolares. Bom dizer ainda que eu não tinha carteira de motorista nessa época e que minha única função era dormir no banco de trás ou puxar conversa com o motorista da vez pra que ele não cochilasse. Eficiência pura, rapaz.

Demoramos uma semana e meia pra chegar em Brasília. Oi? Isso mesmo. Saindo de Recife, a primeira parada foi em Maceió. Encontramos um cantinho na Praia de Pajuçara, armamos a barraca na areia e nos aboletamos por alguns dias. Baladas, botecos e muito sol. Depois pegamos o Fusca e seguimos pra Aracaju. A primeira impressão não foi das melhores da capital sergipana. Rolou um choque-Photoshop: o marrom do mar não se comparava ao azul do litoral alagoano. A pessoa fica exigente depois que vira viajante profissional.

E por acaso era aniversário do meu pai. Resolvi ligar pra dar os parabéns:

- Oi pai, feliz aniversário! Tô em Aracaju.
- Aracaju? Mas tem quantos dias que você tá viajando de carro pra Brasília? Já não devia estar chegando?
- Ah, uns 5 dias. Devo chegar em uma semana, eu acho.
- Uma semana, Mayra?? Por que isso tudo? Tá vindo de Fusca por acaso, é? Hahahahaha. (se achando "o piadista")
- Pois é... tô.
- (Silêncio)... Tú-tú-tú-tú-tú-tú-tú-tú-tú...
- (Pensamento) Acho que matei meu pai...

Não, eu não tinha dado muitos detalhes da minha volta. Só avisei o essencial. Pra quê causar pânico, néam? Viagem tranquila, carro bacana, companhia excelente. Qual o problema?? Poucos dias depois falo com mamãe que me avisa que meu progenitor está arrancando os cabelos de preocupação e que liga todo dia pra ela pra saber se eu já cheguei ou dei notícias. Bons tempos aqueles em que não tínhamos celular...

Depois de Aracaju o destino foi Lençóis, na Bahia. Foi paixão à primeira vista! Passeios pela Chapada Diamantina e a descoberta de lugarzinhos incríveis na pequena cidade histórica. Quase abandonamos tudo pra morar lá de vez, num surto meio hippie de ser. Mas todos tínhamos - inclusive eu! Uhuuu! - a UnB nos esperando. O negócio era crescer na vida pra depois comprar uma casa praquelas bandas. Quando se tem 19 anos os planos não têm limite. Aos 30 também não, mas tudo bem.

Cheguei sã e salva em Brasília. Um pouco moída, mas cheguei. Afinal, nem meus 1,58m aguentaram tantos dias dormindo no banco de trás de um Fusca ou dividindo uma barraca Iglu com mais duas pessoas. Ah, não tinha contado que a barraca era pra duas pessoas? Detalhe sem muita importância... Cheguei cheia de histórias pra contar na bagagem, bronzeadíssima e com um pai com alguns cabelos brancos a mais. Achei que eles tinham aprendido como a filha é quando fui, aos 16 anos, de carona num ônibus de estudantes da Música da UnB, pra um encontro da UNE em Ouro Preto. Mas não. O que eu entendi é que eles não vão aprender nunca a conviver com o surto e "insubordinação" (adoro essa palavra!) dos filhos. Talvez eu entenda isso quando tiver os meus.

E essa história toda veio parar aqui porque ontem, indo trabalhar, um Fusca igualzinho àquele vinha ao meu lado no caminho. Ah, as lembranças... as boas lembranças. E a certeza de que só encaro essa viagem de novo num 2.0 com ar-condicionado e hospedagem num hotel limpinho e confortável.

Beijinhos de quem acha que já criou algum juízo depois que fez 30 anos. Ahã.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Não vejo o menor pgoblema!


Eu nunca tive problemas pra falar. Pelo contrário. Comecei a falar aos nove meses de vida (e não parei até hoje, admito) e sempre tive a pronúncia e dicção perfeitas, modéstia à parte. Com os anos eu percebia que muitas pessoas a minha volta não diziam certas palavras com clareza e comecei a prestar a atenção nisso. E foi a tal da língua presa que sempre me impressionou. Ou melhor, língua pguesa.

Tenho primos, amigos e já tive namorado com língua pguesa. E sempre achei bonitinho. Nunca me incomodou. Engraçado é quando eles mesmos começam a se auto-sacanear e aí não tem jeito, o negócio é rir.

Outro dia, conversando no MSN com um amigo com quem tenho tido pouco contato real e nossas conversas têm se restringido ao mundo virtual, percebi que o diálogo escrito começou a se dar assim:

- E aí, vamos lá na Corrida da Cerveja?
- Vamos sim. Que hogas você pguetende chegar lá?
- Hã? Vou tomar um banho e sair. E você?
- Ah, vou tomar um banho também e ligar pgo Andgué que vai comigo.
- Her... beleza. A gente se acha por lá então. Tá levando o celular?
- Tô sim. Vai ser tganquilo da gente se achar. Qualquer coisa, eu te ligo, Mayga.

Agora você imagine a minha cara na frente do computador tentando adivinhar que ele tava escrevendo tal-qual o jeito que ele fala!!! E eu confesso que nunca tinha me dado conta de que ele tinha a língua pguesa de verdade. E nem que meu nome era difícil pra quem tem essa dificuldade. Caí numa gargalhada sem fim. Adoro amigos espirituosos.

E aí tô conversando com uma amiga sobre isso outro dia e ela me diz que a vida "inteiga" ela teve a língua pguesa. Oi? Como assim? Descobri em mim uma grande falta de talento: perceber esse detalhe nas pessoas. Então ela me explica que fez tratamento com fonoaudióloga durante muitos anos e que hoje a coisa só bate mesmo quando ela bebe. Só que quando ela bebe, eu bebo também. Aí a gente fala tudo a mesma língua e fica tudo bem. Ainda assim, digo pra vocês... eu nunca percebi!

Anos atrás, a campanha publicitária pro carnaval de uma dessas cervejas fazia o personagem tomar um gole e dizer: "Que magavilha!". A coisa pegou d'um tanto que passamos o carnaval inteirinho no Rio de Janeiro nos comunicando assim.

- E aí, vamos almoçar onde?
- Em Santa Tegueza, no Sobgenatugal, um restaugante ótimo de fgutos do mar. Uma magavilha!
- Ótimo. Já avisaram pga galega?
- Já. Eles vão pegar o metgô pga vir encontgar a gente e irmos todos de bonde.

Pensa aí que loucura. No meio dessa turma, uma amiga, das mais empolgadas com o novo dialeto, morava numa certa cidade litorânea...

- Onde é que você tá modgando agoga?
- Em Guagapagui, no Espíguito Santo.

Precisa falar mais nada, né? E assim todo mundo se entendia. Que nem a língua do P quando éramos crianças. Só sei que eu acho língua pgesa num charminho, juro. E dependendo da língua, eu até me proponho a ensinar a dar umas aulinhas... Hahahahaha.

Beijinhos de quem sempre conseguiu falar o próprio nome direitinho.

terça-feira, outubro 19, 2010

Da Idade Média aos anos 80 em um beijo



Você se lembra do seu primeiro beijo? Lembra do gosto dele? De como você se sentiu? Lembra-se do frio na barriga cheio de incertezas que tomou conta de você naquele momento?

Pois é. Esses dias, calma e tranquila lendo no conforto do meu lar, fui arrebatada, do nada, por essa lembrança. Mas não foi qualquer lembrança. Eu lia sobre arte na Idade Média pro mestrado e de repente eu senti na boca o gosto do meu primeiro beijo. Foi uma coisa assim tão forte que me desconcentrou. Entendi nada. Saí do Renascimento pra década perdida num pulo. E aí parei pra pensar...

O meu primeiro beijo não foi o mais sensacional do mundo (o de alguém foi?). Primeiro que a gente não sabe o que fazer direito na hora, por mais que ensaie com a língua no antebraço trancada no banheiro (vai dizer que não conhecia essa?). Eu tinha 14 anos e fui pega de surpresa num baile de carnaval. Primeiro... o susto! Depois... a entrega. Quando a ficha cai você nem consegue curtir o momento porque só fica pensando "meu Deus, eu tô beijando!!!!". E é estranho, muito estranho. Ao mesmo tempo em que rola um frisson bacana de estar pulando uma etapa, vem aquela sensação de "eca, como ele baba!".

Na adolescência eu só tinha amigas mais velhas. Por isso, fui uma das últimas a fazer todas as coisas que hoje a gente chama de ritos de passagem. Menstruei, beijei e transei pela primeira vez - necessariamente nessa ordem - depois de todo mundo que me cercava. Ou seja, quando aparecia empolgadíssima pra contar a novidade, elas já estavam voltando com o pão e eu lá indo com o trigo na mão, jurando amizade.

Mas vamos voltar ao meu flashback da semana passada. Eu realmente senti na boca o gosto do meu primeiro beijo, juro pra você. A barriga não gelou e eu nem fiquei de pernas bambas. O que achei engraçado foi a identificação do negócio, o reconhecimento do sabor e, principalmente, a lembrança daquele carnaval. Eu lá, sentada num canto vendo a coroada dançar marchinhas de carnaval e então ele, o bofinho, o garoto que eu sempre olhava, apareceu e pegou na minha mão. Falou pouco, puxou meu rosto e pá!, me agarrou. Sem muito romantismo mesmo. Assim, de supetão. Eu já devia suspeitar que não seria muito diferente disso daí pra frente.

Só que eu tava falando do dia que eu lia sobre Idade Média pro mestrado e que senti o gosto do primeiro beijo no meio da minha sala, de repente. Vejam, eu estava na sala da minha casa. E senti uma saudade daquele dia, daquele clube, daquela inocência, daquele sustinho gostoso. Senti saudade daquela época em que a gente não fazia planos, não criava expectativas e simplesmente esperava alguém largar a vassoura na festa pra te puxar pra dançar quando a voz estridente da Kate Bush anunciava "Wuthering Heights" na vitrola da festinha. E que num leve esfregar nas suas costas e um abraço mais apertado você já travava e pensava "hoje vai rolar, hoje eu desencalho". Aquela inexperiência de ambas as partes, das festinhas descompromissadas, dos garotos que a gente queria que aparecessem e de quando vestíamos nossas saias balonês e usávamos gel New Wave com glitter no cabelo pra arrasar geral.

Senti saudade pela primeira vez, depois de muito tempo, dos anos 80. Daquele período-totalmente-brega e divertido da minha transição de menina pra garota. Do desconforto de lidar com a transformação do meu corpo. Da ansiedade de estar com a cabeça deitada no colo do menino que eu gostava e que nem me dava bola - só pensava em jogar béti e me via como menina só na hora da brincadeira da Salada Mista - pra ver o Cometa Halley passar .

E então eu olhei de novo praquele texto sobre arte medieval, olhei à minha volta e vi a Mayra adulta, a menina que cresceu. O gosto na boca foi embora, ficou a lembrança boa e então eu me servi de uma taça de vinho e brindei sozinha às minhas recordações.

Morar sozinha às vezes dá nisso. E não é que é bom demais crescer e poder lembrar disso de vez em quando?

Beijinhos nostálgicos, com sabor de Baré Tutti-Fruti e do meu primeiro beijo.

segunda-feira, outubro 11, 2010

Pega na mentira!


Desconfio seriamente de que as pessoas andam mentindo pra mim. E eu não gosto de mentiras. É duro isso, muito duro. É feio ver gente inventando história só pra você acreditar e ficar com inveja.

Por exemplo, que papo é esse de que choveu em Brasília depois de 125 dias de pura seca e calor insano? Não, não choveu. Eu, pelo menos, não vi. E não me venha dizer que caiu um toró daqueles na sua casa certa madrugada. Não caiu. Entendeu? Porque essas chuvas que as pessoas andam inventando por aí teriam dado o ar da graça (viram como eu não acredito mesmo nisso?) quando eu estava dentro do Senado ou dormindo. E não choveu na minha cabeça nem no pára-brisa do meu carro em nenhum momento, digo pra vocês. Portanto, não choveu.

Não satisfeitos em inventar uma chuva pra acalmar os ânimos e dar uma falsa esperança a pessoas como eu, que não aguentam mais o calor, vieram dizer também que choveu granizo outro dia. Não me venham com essa. Aqui na minha terra não caiu gelinho nenhum. Nenhum mesmo. Garanto. E acho de um mau gosto terrível dizerem isso pra mim. Tô aqui numa secura louca (sem trocadilhos, por favor!) e fulano vem contar esmola na minha frente? Onde já se viu? Granizo é mito, não cai em Brasília há muito tempo. E não adianta insistir porque eu sei das coisas.

Então neguinho vira e me diz que presenciou uma tempestade de poeira no Distrito Federal. Hello-ôu? Querem me convencer agora de que rolou uma tempestade em Brasília? Se não chove nem água, como vou acreditar que rolou isso? Ah, fala sério, né? Não aconteceu. Nem de poeira nem de nada. Eu não vi e se não vi, não existiu. Sou tal e qual São Tomé, só acredito vendo. E não adianta me mandar ler o jornal. Jornais também mentem, sabiam?

Enquanto eu ainda tentava procurar pessoas confiáveis neste mundo, buscar um fiapo de esperança, vem a bomba, a mentira-mór, a pior de todas e mais impossível de se acreditar: Brasília tremeu. Ah! Peraí, né? Apela não, meu velho. Terremoto em pleno Planalto Central? Conta outra porque essa foi demais pra mim e eu tô rindo até agora dessa balela. Estava eu linda e contente na UnB assistindo à minha primeira aula como mestranda e ao chegar em casa escutei essa conversa fiada. No way. Vai enganar outro, seu Pinóquio. A única tremida que eu senti foi ao ver aquele gatinho que eu tô interessada passar outro dia na minha frente e falar comigo. E só. Tremida bem boa, por sinal.

Perdi a fé no mundo. Perdi a esperança de acreditar nas pessoas. Até meu pai e minha mãe endossaram todas essas histórias. E o meu irmão!!! Vejam só. Tudo lenda urbana, digo pra vocês. Nada disso aconteceu, porque eu não vi. E se isso tudo for realmente verdade, eu sou o própro anti-Forrest Gump. Uma coisa meio assim... "cadê eu"? Oncotava? Poncoía? Poncofui? Será que tomei a pílula vermelha do Matrix e não me lembro?

Ah, já sei, tava ali esperando o disco voador que, segundo também me contaram, vai pousar no vulcão que fica na beira do Lago Paranoá. Porque ouvi dizer, inclusive, que ele tá pra entrar em erupção a qualquer momento. Ahã. É só o que tá faltando, néam?

Beijinhos incrédulos e com muita raiva de ter perdido tudo isso.

quinta-feira, outubro 07, 2010

Entre papagaios, escritores e um mestrado


Naqueles tempos em que o Ibama permitia que tivéssemos animais silvestres em casa, eu criava um casal de papagaios. Vim descobrir anos depois que se tratavam de dois machos, o que explicou viverem mais de 10 anos dentro do mesmo viveiro e nunca terem se reproduzido. Diagnóstico equivocado de algum veterinário maluco. Como podem ver, até papagaio gay fez parte da minha vida.

Quando chegaram lá em casa eu devia ter uns 5 anos de idade. Meu pai se encarregou de dar os nomes: Gabriel García Marquez e Margueritte Yourcenar. "Hein?", você diria no meu lugar. Coisa de pai intelectual. Antes que eu precisasse de um curso pra aprender a chamar os bichinhos, ele logo simplificou. Ambos são nomes de escritores consagrados das literaturas colombiana e belgo-francesa, respectivamente, e ficaram mundialmente conhecidos pelos apelidos: Gabo e Margô. O que facilitou muito a minha vida. Pois bem. O Gabo morreu Gabo. A Margô, bem... quando se descobriu que era "o" Margô, era tarde demais pra mudar o nome. Morreu papagaio-travesti mesmo. Foi chamado assim até o último currupaco.

Como eu morava no primeiro andar, os dois aprenderam a repetir tudo o que gritava-se lá embaixo. A começar pelo meu nome que vinha da varanda quando meus pais ou a babá estavam à minha procura. Outros nomes como "porteeeeeeiro" e "puta que pariu", em razão de sempre haver joguinhos de béti (lembram?) ou futebol logo ali, eram repetidamente pronunciados pelos dois louros. Eu entrava no elevador e alguém sempre dizia:

- Você que é a famosa Mayra? A gente sempre ouve seus papagaios. Quais os nomes dos seus bichinhos?

Então a criança aqui enchia o peito, respirava fundo, se concentrava e tirava uma onda, claro:

- Gabriel García Maaaaarquez e Margueritte Yourcenaaaaar. Dois escritores estrangeiros. Já ouviram falar?

Então a porta abria e eu saía com a pompa de pirralha metida. Chamar de "Gabo e Margô" era para os íntimos. Só dentro de casa. E os coleguinhas comentavam: "Esses pais da Mayra são esquisitos, né? Dão papagaios pra ela e batizam com nomes que só eles sabem dizer". Pois é. Era assim mesmo. Fazer o que?

E aí que eu cresci com dois escritores "preferidos" que pra mim nada mais eram que dois papagaios fofos. Assim que pude fui conhecer a obra deles, os escritores. Logo me apaixonei pelo Gabo. Já Margô era histórica demais pro meu gosto. Foi assim que comecei a me interessar por literatura: antes mesmo de aprender a ler. Fiz tudo ao contrário. E hoje sou uma alucinada pelos livros e por isso mesmo agora estou me preparando pra enfrentar o mestrado na UnB em Letras-Literatura. Fui aceita esta semana como aluna especial. De volta às aulas aos livros. Porque papagaio hoje em dia, só se for aquele que a gente solta com uma linha e sobe ao céu com a ajuda do vento.

Beijinhos de quem praticamente aprendeu a falar e a ler com dois papagaios.

segunda-feira, setembro 27, 2010

Mais uma estrelinha no céu


Quando eu nasci, meus dois avôs já haviam partido. Cresci ouvindo histórias de que eram divertidíssimos e com um senso de humor fantástico. Ainda hoje ouço alguém dizer "você teria adorado eles se estivessem vivos".

Então eu tive um avô postiço, daqueles que eu brincava e ganhava presentes como se fosse neta de verdade. E no fundo, no fundo, eu era. Ele, o vovô Heli, marido de uma tia avó, acaba de virar uma estrelinha no céu. Foi embora ontem e deixou saudades. Acordei hoje com a notícia e fiquei um pouco atordoada. Não o via há alguns anos e sempre tinha notícias por um ou outro parente. A ficha tá começando a cair só agora. E tá sendo doloroso.

Era também meu padrinho de batismo. Quando mamãe ainda nem sabia que estava grávida, ele pegou na barriga dela e disse: "A Mayra está aqui". Então ela fez o teste, que deu positivo, e depois nasceu esta menina que vos fala. Acertou duas vezes: na gestação e no sexo da criança.

Seu único filho, o poeta Torquato Neto, se matou aos 28 anos. Nem ele nem minha tia avó foram os mesmos depois da tragédia, mas ele tentava manter a alegria de viver. Viveu do jeito que quis. Era um personagem, uma caricatura. Amava intensamente e sempre soube demonstrar isso. Soube aproveitar muito bem seus 92 anos de vida. Foi bom enquanto durou.

A estrelinha subiu. Hoje a noite vou olhar pro céu e sei que ele vai estar lá sorrindo pra mim, como fazia quando ia me pegar na casa da minha avó pra passar o final de semana nas férias. O céu hoje vai ficar mais feliz, com certeza. E aqui embaixo a gente se conforta com o calor e a lembrança daquele sorriso.

Beijinhos com saudade.

sexta-feira, setembro 17, 2010

Um é pouco, Dois é bom. E eu quero é mais...


Às vezes é preguiça. Às vezes é só falta de tempo mesmo. E, às vezes, é vontade nenhuma de escrever aqui no blog. Simples assim.

Pois bem, andei sumidinha, de fato. Viajando feito doida. Porque depois que a pessoa aprendeu o caminho do aeroporto ficou impossível. Que eu já gostava de um cartão de embarque não era novidade pra ninguém. E depois que eu resolvi que 2010 seria o ano dos pousos e decolagens, a coisa desandou de vez. Até enjôo de aeroporto eu já tive. Mas passou, rapidinho. Quando não é a passeio, vou a trabalho. Acabo de chegar de Inhotim, em Minas Gerais. Lugar fantástico que merece um post só pra ele depois. Mas só depois.

Mas eu também andei aprendendo coisas novas que tomaram minha atenção. Uma delas é que eu virei tuiteira. Não, pessoa antenada que sou, eu não tinha a manha da parada. Eu não sou nenhuma campeã de audiência - nem quero - mas estou me divertindo com essa ferramenta. O melhor é que eu fiz uma conta há mais de um ano e já tinha mais de 100 seguidores sem nunca ter tuitado nada. Isso é que é índice de popularidade, néam? Lula que se cuide. Continuar assim, bato os 78% de aprovação dele fácil. Hehehe.

brincando de internet nos últimos dias. Desbravando, descobrindo e procurando sarna pra me coçar. Sim, porque não basta a pessoa ter blog, participar de redes sociais, cozinhar no cafofo pra vizinhança, estudar pra tentar mestrado e o escambau. Ela tem também que inventar coisas pra ocupar o tempo que anda sobrando. Deixa tudo andar direitinho que vou atualizando vocês das minhas novas empreitadas. Eu sempre tô me metendo onde não devo.

E nas minhas andanças de mulher-solteira-viajandona-tuiteira, descobri que preciso encontrar um meio termo nos meus textos aqui do Milk Shake: raciocinar entre os 140 caracteres do micro-blog e os muuuuitos caracteres dos meus posts é um bom exercício. Dá até pra perder calorias e ficar (mais) gostoso passar por aqui. E aproveita que tá aqui na página e clica ali no link pra me seguir no Twitter. Eu não falo nada que se aproveite não, mas pouca gente fala. Então pronto. Cada um no seu quadrado e fica todo mundo feliz. A vida é assim mesmo. Como diria a Clarice Lispector: uma missão secreta que nos cabe cumprir todos os dias.

Beijinhos de tuiteira amadora que tá voltando ao mundo milkshakeano.

sexta-feira, julho 23, 2010

Visca Barcelona!


Chegamos em Barcelona em plena véspera de feriado, o dia de San Juan, uma espécie de São João deles onde celebra-se o solstício, noite mais curta do ano e entrada oficial do verão. É uma festa grande na rua, fogos de artifício e foguetes pipocando pra todos os lados, música e tendas na praia, regadas a muito vinho e cava, o espumante deles. E foi neste dia que eu quebrei meu nariz, como já contei aqui. A festa em si é bem divertida, até porque Barcelona reúne gente do mundo inteiro o tempo todo. Você ouve dezenas de línguas diferentes sem parar. Dá pra ficar zonza. Na foto, dá pra notar como a praia fica lotada (fica assim em toda a orla, imaginem!) e a gente volta pra casa com areia até na alma!!!


E eu quebrei o nariz e fui, no mesmo dia, pro hospital, pra praia e pro show do Kiss. Olhava pros fãs chegando todos de caras pintadas e dizia: "Essa galera não sabe o que é ser heavy não. Que mané pintar a cara, metal que é metal usa maquiagem natural, quebra logo o nariz". As amigas não aguentavam e destrambelhavam a rir, néam? E como tínhamos ido à praia mais cedo, estávamos com look verão-total no show. Eu ainda disfarcei com uma blusa preta, mas as duas estavam de havaianas (sim, num show de rock... só em Barcelona) e a Paty ainda abriu a canga no chão enquanto esperávamos sentadas começar. E o melhor: ninguém dava a mínima pra isso.



Conhecemos um barzinho curioso chamado Chupitos, que nada mais são que "shots" de bebidas. A diferença é que o bar não tem mesas e serve apenas isso. E são mais de 300 tipos diferentes que você escolhe pelo nome, sem fazer idéia do que vai vir. Esses da foto levavam chantilly em cima e pegavam fogo. Uns empolgados pediram o Monica Lewinski e quando viram, um copo acoplado a um grande pinto de borracha era colocado em suas bocas e chacoalhado até babarem uma espuma branca. Ficou com nojo? Pode até ficar, mas eles viraram o centro das atenções e a gente riu demais. O Viúva Negra, que uma amiga pediu, prometia causar reações inesperadas. Quando ela virou o chupito, bochechou, engoliu e depois soprou, sentiu calafrios que eu nem quero descrever aqui a cara que ela fez...



Em Barcelona é permitido plantar maconha em casa e também andar pelado na rua. Não necessariamente nessa ordem. Mas se você se deparar com algum peladão no metrô ou na fila do banco, não adianta chamar a polícia. Recolha-se à sua insignificância e finja que não é com você. Tudo muito natural. Só não apele como o cidadão da foto. Se for pra ficar nu, fica de verdade. Porque pelado de boné, mochilinha e Crocs, ninguém merece. E você aí achando que topless nas praias européias era o auge da falta de pudor, né?

Fotos da viagem pra Barcelona aqui.

Beijinhos nada catalães.

segunda-feira, julho 19, 2010

Un peu de Paris


Voltar a Paris pela segunda vez foi interessante. A começar pela completa e irrestrita liberdade de não ter que visitar pontos turísticos obrigatórios. Se fui à Torre Eiffel todos-os-dias que fiquei lá, foi porque, simplesmente, eu queria. E quando decidir não ir, não fui. Sem peso na consciência. Os amigos-companheiros-de-viagem quiseram voltar lá no pôr-do-sol pra tirar as últimas fotos antes de irmos embora da França. Soltei a pérola que saiu estranha, mas convicta, da minha boca: "Vão lá, não aguento mais ir pra Torre Eiffel". Que esnobe, hein?? Hehehe. E me joguei sozinha pra Pigalle. Delícia.


Havia estado em Pigalle somente à noite, para ver as luzes de neón e curtir uma balada. Desta vez, saí de Montmartre andando com um mapa na mão em busca do Café Les Deux Moulins, aquele em que Amelie Poulain trabalhava no filme e onde se passam boas partes das cenas. Descobri uma Pigalle divertida, de gente bonita, construções tortuosas e de muito agito. Beiravam as 8 da noite e o sol do verão ainda ardia no céu. Entrei no café, pedi uma taça de vinho no balcão e sentei-me em uma mesa. Fiquei me sentindo a própria parisiense dentro de um dos meus filmes preferidos, não fosse o guia de Paris que abri pra ver outros lugares interessantes pra se visitar. O café é uma graça. Fui ao banheiro disposta a arrancar uma meia-calça que vestia e que havia puxado o fio loucamente, quando me deparei com um pequeno "museu" com alguns dos principais objetos do filme: o abajour de porquinho, o duende viajante, as polaroides... Uma fofura!!! Tirei um montão de fotos no meu iPhone... que foi roubado assim que cheguei no Brasil. Paciência, néam?


E é lindo como na Europa eles celebram a chegada do Verão! Em Paris, a Fête de La Musique é o evento que rola durante as 24 horas que antecedem a estação do calor. E põe calor nisso! É impressionante como a temperatura muda de uma hora pra outra. Chegamos ainda pegando um friozinho e, como num passe de mágica, bastou o verão mudar no calendário pra estarmos de bermuda e camiseta passeando pela cidade. A Fête de La Musique é uma sensação. Música de todos os lugares do mundo acontecendo por todos os cantos possíveis e imagináveis da cidade. Uma delícia só! Passeando pelo Boulevard Saint Germain vimos tanta gente bonita e ouvimos tanta música boa que dava pra jurar que era uma pegadinha, de tão inacreditável.


Assistimos ao jogo Brasil X Coréia do Norte no bar Favela Chic, de brasileiros. Rolou telão, torcida e muito samba. Os franceses já estavam meio desacreditados e putos com a seleção deles (foram desclassificados um ou dois dias depois) e pareciam bem animados com o Brasil. Fui comprar uma caipirosca e o atendente, em francês, me perguntou se queria vodca nacional ou importada. "Importada, claro!". Então ele me aparece com uma Smirnoff na mão. Hein??? Pára tudo!!! Qual é a vodca nacional, moço? "Ah, só tem Absolut". Pois é nacional mesmo, vai. Vou fazer esse sacrifício... rsrsrs. E tomei a pior caipirosca do mundo. Não pela vodca, mas pelo primo-francês-de-suco-Maguary-de-manga que misturaram. Querer tomar drinque tupiniquim feito por gringo dá nisso.



Detesto cemitérios. Não quis visitar os famosos cemitérios franceses na outra viagem e dessa vez não escapei, terminamos visitando o de Montparnasse. Os amigos insistiram e lá fui eu. Logo de cara encontramos o túmulo de Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre. Tá, foi emocionante. Mas depois a peregrinação em busca de outras lápides me deu uma sensação estranha. Meio aquela coisa de criança brincando de caça ao tesouro. Olha, achei o do Baudelaire!!!. Ou de repente tropeçar onde Júlio Cortazar está enterrado. Eu hein!! Sentei num cantinho e fiquei lendo enquanto meus amiguinhos se divertiam com isso. Gosto mais de gente viva.

Mais fotos da viagem você encontra aqui.

Bisous parisienses.

quinta-feira, julho 08, 2010

Juízo de 20 com infra de 30


Uma das primeiras lições que aprendemos no curso de jornalismo é sobre o famoso lead. Essa palavrinha de quatro letras nada mais é que o essencial, o resumo da notícia que se vai dar, com as principais informações inseridas. A partir daí, o leitor tem uma idéia do que se vai dizer e decide se quer saber detalhes ou não, já sabendo do que se trata.

Mas por que comecei este post falando nisso? Explico! Voltei das férias na Europa esta semana e minha viagem não conseguiria ser descrita sem que eu desse o lead pra vocês: eu quebrei o nariz em Barcelona correndo atrás de um táxi. Prontinho. Entenderam a lição? Eu poderia começar contando minha saga cronologicamente, mas vocês devem concordar que não daria pra passar batido sobre isso, néam? Pois bem, vamos aos fatos.

Chegamos na Catalunha em pleno dia de San Juan, o São João deles, que celebra a entrada oficial do verão. É, simplesmente, a noite mais curta do ano, devido ao solstício. Feriado local, Barcelona fica em festa, com música rolando em todas as praias, com tendas montadas, fogos de artifício e muita gente bonita. Pessoas se espalham pela areia, dançando, namorando, batendo papo e tomando vinho ou cava, como chamam espumante por lá. É muito bonito e sedutor. O astral é incrível. A celebração reúne gente de todos os lugares do mundo, até porque o turismo ali é fortíssimo e gringo é o que não falta na rua.

Tá, mas e o nariz, onde é que entra nisso tudo?? Calma aí que já chego lá. O fim da festa de San Juan é meio reveillon de Copacabana, sabem? Aquela coisa desesperadora de você querer ir embora pra casa e não achar um táxi. Fiquei cerca de quarenta minutos tentando pegar um e quando passavam, estavam ocupados ou, quando livres, não queriam pegar passageiros. Se tornou um desafio conseguir ir pra casa com o dia já amanhecendo. Todos que passavam com luzinha verde, a gente corria, gritava, acenava... na esperança de sensibilizar algum motorista a parar. E numa dessas, a pessoa aqui tropeçou e caiu de cara no meio-fio. Isso mesmo que eu disse: eu caí de cara no meio-fio. Cataploft! Que nem fruta madura. E não ri porque a coisa foi feia. Rsrs. O táxi? Não, ele não parou.

Quando pus as mãos no rosto e só vi sangue, senti meu corpo gelar de pânico e fui em direção a um carro estacionado pra ver como eu estava no espelho retrovisor: não dava pra ver, minha cara estava completamente "pintada" de vermelho e no topo do meu nariz, uma grande ferida. Comecei a chorar: "perdi minhas férias", logo pensei. E era apenas o quinto dia de 18. Então correram na padaria ali perto, compraram água e arrumaram gelo pra me trazer. Lavei o rosto e fiz compressa. Pra completar, estava sem celular e consegui um emprestado de um dos passantes que se consternou com minha situação. Liguei pra amiga que me hospedava e que havia ido pra outra praia. Ela tinha tido mais sorte do que eu e estava dentro de um táxi indo pra casa. Mudou o caminho e foi me buscar. Ufa!

A situação estava sob controle. Em questão de minutos, consegui ser a pessoa mais calma do mundo, acreditem. Já havia me conformado com tudo aquilo e só pensava em ir ao médico, saber o que realmente havia acontecido. Enquanto aguardava minha amiga chegar, passou um catalão e veio falar comigo, mostrou-se bem preocupado e me disse:

- Você precisa passar algo pra não infeccionar isso.
- Mas eu lavei com água. Daqui a pouco vou ao médico, não precisa se preocupar.
- Veja bem, você caiu no meio-fio, no meio da rua, onde as pessoas fazem xixi... Eu moro aqui perto, vamos lá que a gente limpa isso.

Ele disse a palavra mágica: xixi (tudo isso em inglês/portunhol, tá gente?). Quando pensei naquilo me deu desespero e nojo. E eu tava olhando pra um cara que eu nunca tinha visto na vida mas que tinha uma certa razão. Perguntei se ele tinha um telefone e liguei pra minha amiga, avisando que estava indo lá tratar o machucado e que ela desse um toque quando chegasse.

Vou falar uma coisa. As pessoas dizem que os catalães são grosseiros, mal-educados e que nunca se importam com estrangeiros. De fato, vi muitos assim. Mas essa criatura que veio me ajudar, caiu do céu. Chegamos ao apartamento dele (aliás, um senhor apartamento, viu...), deitei na banheira, ele forrou meu rosto e lavou cuidadosamente minha ferida. Passou um antiséptico e então minha amiga chegou pra me buscar. Foi lindo tudo isso.

Sabe aquele seguro-saúde de viagem que é obrigatório mas que muita gente insiste em não comprar pra enconomizar 80 dólares? Pois é, foi ele que me salvou. Passamos em casa pra pegar o cartão e terminei caindo no sono enquanto aguardava retorno. Acordei parecendo o Sloth, aquele monstrengo dos Goonies, sabem? Nariz torto e cara (muito) inchada. E um sorriso imbecil na cara de quem resolveu que não perderia as férias por conta disso. Já saí do banho me auto-sacaneando. As amigas não entenderam nada mas entraram no clima. O seguro me mandou pra um super centro de traumatologia em Barcelona. Fui prontamente atendida e muito bem tratada por todos. O raio x apontou um fratura leve e Luiz Alberto, traumatólogo que cuidou de mim (virou quase um amigo de infância), me passou antiinflamatório e alguns cuidados pra tudo correr bem. Só não relaxei quando me pediu pra voltar em 5 dias que um otorrino veria se teria que engessar. Oi?? Como assim engessar, Luiz Alberto???

- Calma, Mayra, se a sua recuperação for boa, isso não será necessário.
- E se precisar, eu vou ficar com um capacete de gesso??? Luiz Alberto, eu estou de férias a ainda vou ficar 12 dias viajando!!! Faz isso comigo não!
- Calma, Mayra. Hoje em dia se engessa só o nariz.
- Ah tá, só o nariz, beeeeem melhor, né? Fala sério...

Então me veio à mente aquela cena de Sideways, em que a japa quebra o nariz do fulano com porrada e ele fica uma parte da viagem com um curativo gigante no meio da cara. Queria aquilo pra mim não. E aí, resolvo descontrair e olho pra minha amiga e digo em português com os olhos marejados e voz de choro: tô horrível e não vou pegar ninguém assim! Hahahaha. E aí as duas começam a rir descontroladamente. Luiz Alberto, sem entender nada, começa a rir junto, claro.

- Ok, Luiz Alberto. Mas e a ferida, vai ficar aberta assim?
- É melhor, pra cicatrizar.
- Mas eu tô indo pra praia quando sair daqui!!! (a pessoa animada saiu de casa pra ir pro hospital já de biquíni, entendam).
- Ah, vc vai pra praia agora (rindo muito)? Então a gente põe um curativo só pra proteger da areia.

E lá se vai a Mayra com um curativo ri-dí-cu-lo branco cobrindo todo o nariz passear por Barcelona. E sabem da maior? Fui pra praia, sim. Fui conhecer vários lugares ótimos e não perdi o bom humor por isso. Ah, e sabem onde eu terminei nesse mesmo dia? No show do Kiss que aconteceu no Montjuïc, uma montanha bárbara que tem lá!!! Que, aliás, foi fantástico. Os caras são demais!

No dia seguinte, minha mãe vê na televisão que 30 pessoas foram atropeladas por um trem na noite de San Juan e que 12 morreram em Barcelona. Manda uma mensagem pro meu celular pedindo notícias e no que respondo falando que tinha ido ao hospital, quebrado o nariz mas que tava tudo bem, ela pira por completo. Uma falando de um assunto e a outra de outro. Quase mato uma mãe do coração... rsrs.

Bom, dado o lead, em breve dou notícias mais detalhadas da viagem. Agora vocês vão entender quando virem um certo "terceiro olho" na minha pessoa nas fotos... hehehe.

Beijinhos de quem tá com o nariz quase 100%, só rezando pra cicatriz não ficar muito grande. E não, eu não precisei engessar. Um médico argentino liiiiiiiiiiiiiiindo de morrer me atendeu e disse que eu poderia seguir viagem tranquila. Adorei.

terça-feira, junho 01, 2010

A Unimed é quem paga!


Então a pessoa tinha tomado um vinhozinho na casa dos amigos e resolveu largar o carro lá pra não dirigir sob efeito de álcool. O casal, muito solícito, decidiu me levar em casa, coisa que aceitei de bom grado. O preço do táxi em Brasília anda pela hora da morte.

Chegando ao condomínio e nos aproximando da minha residência, me dou conta do impensável: esqueci as chaves de casa no porta-luvas do meu carro. Mania antiga que eu ainda não consegui largar. Close na cara de pânico da mocinha aqui que logo pensou: "Putz, vieram me trazer aqui e eu não tenho como entrar, que bonito isso!". Meio sem-graça, dou a notícia aos bons samaritanos e então decreto: vamos arrombar a janela!

- Que é isso, Mayra!
- Ah, não disse pra quebrar, mas vamos forçar a fechadura que em algum momento deve ceder.
- Será?
- Bom, eu nunca tentei, mas aqui é praticamente a Vila do Chaves e as casas ficam mesmo meio abertas...

Eis que passa, nesse instante, uma das vizinhas com seu adorável cachorrinho e me vê naquela siutação: forçando a janela da minha própria casa. E diz pra mim: "Ih, já passei por isso! Faz assim: suspende a janela, empurra pra lá, força daqui e pluft, o trinco cai sem danificar nada". Agradeço mais-sem-graça-ainda. E não é que funcionou? Que danadinha, gente!

Agora a parte divertida da coisa toda. O tal casal fofinho que foi me levar estava indo à minha casa pe-la-pri-mei-ra-vez. E sim, entraram pela janela. Primeiro a esposa, depois ele e por fim, a anfitriã. No topo dos meus 1,58m, dei um pulo de costas e sentei na janela, então joguei meu corpo pra trás, caindo no sofá. Quase um salto em vara das Olimpíadas. Todo mundo dentro, todo mundo acomodado. Então vamos abrir mais uma garrafa de vinho e brindar à nossa performance, néam?

O papo tava ótimo e o casal resolveu ir embora. Pela janela, é claro. Nisso todo mundo já estava às gargalhadas. Outro amigo havia ficado de ir me buscar pra irmos pra uma festa. Chegou enquanto eu me arrumava. Eu só gritei lá do segundo andar: "Entra pela janela, amore! A porta tá sem chaves!". Sem mais perguntas e com a agilidade de um atleta, em poucos segundos encontrava-se lá dentro.

Fico pronta. Outra puladinha pra irmos pro carro e fomos curtir a balada. Já tava íntima daquela janela. A festa foi ótima. Morta de cansada e toda descabelada de tanto dançar (eu bato cabeça até ficar tonta na pista, sabem?), consegui uma carona pra voltar pra casa. O mocinho, muito prestativo e gentil, chega ao condomínio e faz questão de me deixar na porta de casa. Pra evitar todo e qualquer tipo de constrangimento, digo:

- Pode ficar aqui, eu sigo sozinha.
- Que é isso, tá tarde. Faço questão de deixá-la na porta.

Close na cara de Ohw My Gowd!

Aí eu queria enfiar minha cara num buraco. O rapaz insiste, entra no condomínio e estaciona quase dentro da minha casa. Agradeço, saio do carro e fico na porta da minha residência dando tchauzinho pro cidadão (vai embora, meu filho, que eu preciso entrar e não quero pagar mico). Mas o mocinho não vai, não vai e não vai. E então eu comecei a ficar com muita vergonha. Destrambelhei a dar tchauzinho com um sorriso amarelo e ele não-engatava-a-porra-da-ré. Então me aproximei da porta do carro e falei: "Meu bem, pode ir, eu tô bem, mais bem entregue impossível". Não adiantou, disse que só ficaria tranquilo depois de me ver entrar. Foi aí que eu deixei de ser uma lady. Meu sangue subiu, esquentou de verdade e eu contei até 10 pra não ter uma síncope. E abri o jogo:

- O negócio é o seguinte. Estou sem a chave de casa e preciso entrar pela janela. E não, você não precisa ver isso sendo feito por uma mulher de vestido e salto alto. Ok?

O mocinho ficou branco olhando pra mim e eu com cara de "vaza daqui agora, sacou?". Desencanei, mandei minha dignidade à merda e pulei a janela com fé e cabeça erguida. Tchau e benção. No dia seguinte, a primeira coisa que fiz quando acordei foi ir buscar meu carro. E providenciar uma cópia da chave de casa pra ficar dentro da carteira. Porque doida que é doida, anda com DUAS chaves da casa pra não dar vexame nas próximas vezes.

Beijinhos de quem ficou cheia de hematomas por conta dessa peripécia.

segunda-feira, maio 31, 2010

Je Vois la Vie en Rose


Sabe aquela sensação de que você devia ou poderia ter feito algumas coisas quando era mais novo (leia-se aos 20 anos), ouvia todo mundo contar suas experiências e olhava com cara de pidão? Sabe-se lá o motivo de você não ter feito, mas sempre rolava aquela invejinha e pra piorar, a impressão de que não, você não faria aquilo nunca mais porque o tempo não volta.

Eis que você percebe que não é bem assim. Rá! O tempo volta sim e nunca é tarde pra recuperar o que não se fez. Tudo bem, você não é mais aquela garota espevitada e impulsiva (falou comigo?) dos 20 anos. Virou balzaca, gente grande, paga contas e tem responsabilidades. Mas nunca é tarde pra se divertir. Ao menos que com o passar dos anos você tenha deixado a vontade de viver pra trás. O que não é, definitivamente, o meu caso. Explico.

Cansei de ouvir as histórias de amigos que pegaram uma mochila, um avião, um trem, um ônibus, uma carona e se mandaram por esse mundo de meu Deus. Fosse de férias, de onda ou simplesmente por falta de juízo. E eu só olhava com aquela cara de eu-também-quero. E por razões diversas, nunca o fiz. E aí, quanto mais o tempo passava, mais eu pensava "gente, tô ficando velha pra essas coisas" (oi?).

No final do ano passado eu fiquei pensando o que faria nas minhas primeiras férias como concursada. Trinta dias, milhões de planos e o melhor: dinheiro na conta pra fazer o que eu quisesse (tá, nem tanto dinheiro assim). Decidi então que iria pra Europa rever amigos, visitar pessoas e conhecer novos lugares. Solta e desgarrada. Ao Deus dará. E sem essa de mochila nas costas porque eu já sou uma balzaca com duas hérnias de disco. Mas eu queria uma coisa quase igual, só que com mais glamour, óbvio.

Comecei a organizar o roteiro na minha cabeça. Faria a viagem sozinha. Certo dia saio pra almoçar com uma amiga de infância. Comento com ela dos meus planos e então ela diz que estava planejando a mesma coisa. Coincidência ou não, pouco tempo atrás dissemos que comemoraríamos 30 anos de amizade com uma viagem pra Espanha. Sem querer deu certo. Isso mesmo! Estamos indo juntas surtar no Velho Mundo por de-zoi-to dias. E sabe o que é melhor? Com o juízo dos 20 e a infra dos 30. Nada melhor.

E aí que as notícias correm e encontro outro amigo de longas datas. Então ele me avisa que estará na Europa justamente quando nós estaremos indo. Resumo da ópera: vamos nos encontrar em três cidades diferentes dentre as cinco que iremos visitar. Encontros, itinerários e garrafas de espumante têm ilustrado nossos momentos de celebração, amizade e muita empolgação.

E outra coisa que eu não contei dessa viagem: iremos ver cada jogo do Brasil nesta Copa em uma cidade diferente da Europa. Sim, sim, Salabim! Tirando abertura e final, estaremos dando a pinta por lá no meio do campeonato. Eu já avisei pros dois que vou de verde e amarelo pra todo canto deixando bem clara a minha brasilidade-de-ser. Vou parecer um periquito. Quero nem saber. E se rolar vergonha alheia, melhor ainda. O bom é que amigos se entendem e eles já entraram na mesma proposta canarinha.

França, Espanha e Portugal. Três solteiros, algumas malas e a corda toda pra comer bem e fazer comprinhas, além de cair na balada, é claro. Ah, eu merecia boas férias, não é mesmo? E essas, com certeza, serão inesquecíveis. Prometo que conto pra vocês as partes publicáveis (piscadinha de olho e risinho sacana).

Beijinhos super-empolgados de quem viaja daqui a pouco mais de duas semanas.

quarta-feira, maio 12, 2010

Da série "Recordar é Viver" - I

Quem acompanhou o drama do sumiço do blog nos últimos dias, não deve ter entendido o motivo de tanta agonia e "apego" da minha parte. Afinal, a gente pode criar novos blogs a qualquer momento e começar tudo de novo.

Pois bem. Eu dei mole e não salvei meus textos publicados neste endereço, que existe desde 2008. Seriam 34 textos perdidos! Pra quem pretende um dia criar o próprio site e incluir nos arquivos TODOS os posts publicados desde 2003, era motivo pra pânico, sim!

O blog voltou. Sei lá até quando. Basta o Google cismar de novo e... plim! Ele vai sumir como num passe de mágica. Mas eu já salvei tudo para minha alegria e segurança. E eu ando relendo, reescrevendo e selecionando esses textos publicados em 7 anos de blog. E decidi republicar alguns aqui. Bom pra quem nunca leu e bom pra quem já conhece as histórias se divertir de novo com elas. Bom que assim ouço a opinião de vocês, já que isso tudo pode um dia fazer parte de um livrinho ou coisa parecida. Quem sabe?

Beijinhos.


Texto publicado em agosto de 2005


Entrei no táxi. Ao meu lado, um motorista cinquentão com cara de gente-que-faz começou a puxar papo um sotaque ótimo do nordeste:

- Trabalha no Senado é?
- Trabalho.
- E essa esculhambação toda aí, hein?
(pense numa pessoa doida pra conversar e que não era eu)
- O que que tem?
- Ah, você acha que vai dar em alguma coisa?
- Sei não.
- Vai não, minha filha. Te digo logo. Esse país é muito bagunçado.
- Pois é, né?
(fiz cara de "é comigo???")

E lá se foram diversas teorias sobre o esquema do mensalão, se o Lula sabia ou não de tudo desde o começo, se o PSDB deve ou não ser punido porque descobriram que neguinho recebeu dinheiro lá também, se o Delúbio isso, o Zé Dirceu aquilo...

Escuto Britney Spears começar a cantar e reparo que a música não vem do rádio. Era o som do celular dele, que atende com voz mansa (dirigindo):

- Oooooi, tudo bem? (pelo tom, percebi logo que tratava-se de uma mulher. Homem só fala manso com um rabo-de-saia).

- (...)

- Pois é, querida (bingo!), não deu pra ir ao nosso encontro. Você tá muito brava comigo? (ah, eu ficaria...).

- (...)

- Fica brava não, meu doce de coco. A gente combina de novo e eu prometo que vou. Mas me diz uma coisa... você não tem namorado nem marido meeeesmo, né? Porque na minha terra, lá na Paraíba, o cabra quando encontra o amante agarrado na mulher dele resolve com a peixeira. Aqui é no tiro mesmo. Eu não quero encrenca. (e eu no assento do lado, com cara de finge-que-eu-nem-tô-aqui-viu?)

- (...)

- Tem mesmo não, né? Solteiríssima? Então tá bom. E esse friozinho, hein? Bom pra ficar abraçadinho, tomando um vinho. Mas pode ser uma cervejinha também (e o cidadão olha pra mim e dá uma piscadinha. Eu já sem saber se devia tapar os ouvidos ou fazer um "jóia" pra ele, como quem diz "mandou bem, brother").

- (...)

- Olha meu doce, vou ter que desligar. Estou trabalhando. Te ligo depois tá?

Desliga, olha pra mim e diz:

- Você não concorda?

- Eu?? Com o que?

- Que é um risco esse negócio de conhecer uma pessoa e ela ter um macho
(concordar eu concordo, principalmente quando é um cara lindo, interessante e tem um macho). Já vi muito amante morrer na mão de marido traído. E mulher safada é o que não falta nesse mundo.

- É perigoso mesmo (eu ia dizer o que??? o motorista do táxi tava querendo um conselho emocional...). Mas tem homem safado também...

- Pois é. Eu fui pro bar outro dia e conheci essa moça. Papo vai, papo vem, marquei um encontro com ela. E eu não fui de propósito. Marquei e furei.

- Pôxa. E por que você fez isso com ela?

- Ah, pra ver se ela tava mesmo a fim. Se ela me ligasse brava por conta do bolo, aí eu saberia que vale a pena investir.

- Ah é? Isso é uma estratégia?
(não teve jeito, me empolguei e já tava participando do papo como se fosse a melhor amiga).

- É. Tenho 56 anos e isso sempre funcionou. Mulher é bicho ruim. Ou você maltrata, ou ela não te dá bola (disse isso com a cara mais lavada do mundo).

- Como assim, Bial??? (isso foi uma fala interior com o impacto daquela afirmativa. Fiquei calada, muda, perplexa).

O carro chegou ao destino e eu ainda tava formulando uma das minhas várias teorias sobre a safadeza humana pra dizer praquele senhor-troglodita. Melhor mesmo não ter dado tempo. Ele atiçou meu lado feminista dando a deixa pra eu comprar uma briga. Paguei a conta e desci do carro. Olhei pra trás e dei a língua. Não tinha mais nada que eu pudesse fazer.

Beijinhos de mocinha que não acha que um tapinha não dói. Dói sim. E muito.

sexta-feira, maio 07, 2010

Um passeio etílico no shopping

E lá tô eu passando no Iguatemi, o shopping do meu quintal, para almoçar antes de ir pra casa. Quando não levo marmita pra TV, faço um pit stop rápido na praça da alimentação ao sair do trabalho. Ser vizinha de shopping tem dessas coisas. Rá!

E curiosa como sou, sempre dou uma circulada pra ver o que tem de novo. Afinal, o Iguatemi abriu com somente 70% das lojas em funcionamento. E sempre tem uma novidadezinha aqui, outra ali. Pode falar que o shopping tá inacabado, que achou mal feito, que tinha goteiras quando inaugurou. Fala aí o tanto que você quiser, porque eu não vou ouvir mesmo...

Pois bem. Subo a escada rolante e a melhor e mais esperada visão de todos os tempos se concretiza: a Livraria Cultura de portas abertas, fi-nal-men-te. Felicidade extrema. O estômago roncando, mais parecido com uma máquina de lavar roupas centrifugando e eu lá, olhando meu mais novo ambiente de não-fazer-nada. Eu vou a pé da minha casa, lembram?? Fazer nada lá vai ser muito mais legal! E ainda tem um café espetacular com área externa e tudo. Ai ai...

Cinco da tarde. Olhos vidrados em todos os detalhes, que nem criança em loja de brinquedo. Tal qual o gênio da lâmpada surge na minha frente um garçon, taças e garrafas de champanhe (assim, no plural).

- Aceita, moça?
- Ora not! Sure!!

Tomei meia taça, fiquei lerda. Daí lembrei que tinha ido lá pra almoçar, não pra beber. E beber de estômago vazio não dá certo, concordam? Antes que me sentisse quase grávida do Alien, devolvi a taça à bandeja e foi aí que o gentil garçon me disse:

- Vem às sete horas, vai ser o coquetel oficial e é aberto pra todo mundo.

Prometi que ia pensar no assunto com carinho. Sigo então pra praça da alimentação, peço meu ranguinho e destrambelho a mandar mensagens pros amigos: "Coquetel de inauguração da Livraria Cultura hoje às 19h. Champanhe de graça e gente bonita. Bora?". O celular começa a pipocar com as mensagens de hoje-não-posso, hoje-não-dá, que-pena-mas-não-poderei-ir e antes que eu desencanasse da proposta por completo, pisca um "Bora!" no meu aparelho. Sempre tem alguém disposto! Atóóóro.

Às sete em ponto minha amiga me pega em casa (lógico que eu fui arrumar a cara e o layout) e lá vamos nós. Conforme previsto, muita gente interessante, bebida a rodo e grupo de chorinho tocando. Ah, livros pra todos os lados também, já ia esquecendo. Mais agradável, impossível. Volta olímpica pra conhecer o lugar (que tá um arraso!) e taças na mão. Champanhezinho aqui, canapé ali, folheia um livrinho acolá e encontramos duas poltroninhas lindas onde nos aboletamos até o fim da "festa". Os garçons nos adoraram e não nos deixaram em paz. Copo cheio 24 horas! É aí que mora o perigo...

Perto do horário de fechar, já com um bocadinho de champanhe na cabeça e cartão de crédito no bolso, um livro o qual eu vinha babando há algum tempo e sem coragem pra pagar o preço começa a dançar-e-sapatear na minha frente. Tipo implorando por atenção, sabem?? Assim... um livro super carente, praticamente um sem-teto pedindo pra ser levado pra casa. Não deu outra: "Cooking - Segredos e Receitas" mora hoje na prateleira do meu cafofo. Domingo é dia das mães e já vai ter receitinha nova tirada dele, uma vez que sou eu a encarregada do almoço todos os anos. Nham, nham!

Isso é que dá beber dentro de shopping. Da outra vez foi na abertura da L'Occitane do Conjunto Nacional. Cheguei lá com Dona Pri sem saber de nada, champanhezinho rolando e a gente saiu cheias de sacolas e sinos tocando na cabeça. O marketing é a alma do negócio. E o álcool também.

E vou te falar... a gente nem foi aproveitar o coquetel da Tok Stok que também tava abrindo no Iguatemi no andar de baixo ao-mesmo-tempo-agora que a Cultura, porque não tinha necessidade, néam? Fácil, fácil eu iria sair de lá com um sofá novo e mais um jogo de copos. Melhor e mais seguro voltar sóbria. Mas que sempre é divertido, disso eu não tenho dúvidas!!! Afinal, uma champanhota descompromissada numa quarta-feira não faz mal a ninguém!

Beijinhos fazendo tim-tim no shopping do meu quintal.

PS. Só esta semana teve abertura de duas outras lojas com boca-livre com tudo que você tem direito. Passei longe, não se preocupem. Até porque, babies, os mimos que vendem nelas começam todos com quatro dígitos!!! Nem com muita cachaça eu encaro!! Hahahahaha.

segunda-feira, maio 03, 2010

Por isso é que eu canto e não posso parar


Tenho saudade do tempo em que eu assobiava e chupava cana. Do tempo em que eu não tinha tempo pra nada e ao mesmo tempo arrumava tempo pra tudo. Dois empregos, uma faculdade, curso de inglês, cursinho pra concurso, academia, namorado, vida social... ufa! Ah, e eu ainda alimentava diariamente com textos criativos este adorável blog.

Tenho saudade do tempo em que eu conseguia pôr em prática meus vários projetos. Do tempo em que sentia tesão em inventar mais sarna pra me coçar e rir porque ninguém imaginava que que eu daria conta do recado. E eu achava a coisa mais normal do mundo porque sempre dava certo. Afinal, sempre fui assim.

Tenho me sentido estagnada. Velha. Ando cansada, bem cansada. Não sei o que está havendo. Há alguns meses me vejo tentando colocar tudo o que tenho vontade em prática mas não consigo. Eu-não-consigo, entendem? Administrar meu tempo tá difícil. Ou melhor, o excesso dele. E então me dei conta de que não sei lidar com tanto tempo livre. Você consegue? Parabéns pra você. Eu não.

Hoje me gabo por trabalhar somente até as 14h30. Muitos morrem de inveja e não se contêm em dizer isso pra mim. Imaginem... saio do trabalho com o sol ardendo, horário comercial sobrando pra resolver coisas, dias lindos, tempo pra ir ao cinema, ler um bom livro, escrever no blog, malhar o corpinho-de-mulher-de-30-anos, encontrar os amigos, fazer novos cursos, experimentar aquela receita nova na minha cozinha. E sabem? Eu não faço nada disso. Vez ou outra ainda arrisco uma coisinha aqui, outra ali. Entro no meu cafofo, ponho uma camisola e vejo o tempo passar. Enrolo e me enrolo que não produzo nada. E isso me dói.

sofrendo. E sei que a única pessoa capaz de mudar tudo isso sou eu. Não é preguiça, não é indisposição. E eu não sei o que é. Quero arrumar minhas gavetas, quero jogar meus papéis fora, quero organizar minha vida e meus pensamentos. Quando a coisa acumula e me vejo incapaz de me mover, só consigo chorar. E choro como um bebê, então me escondo ainda mais dentro do meu mundo. Um mundo que não gira. Isso tem me causado uma tristeza profunda. Essa incapacidade de me administrar está me matando. Cadê a Mayra que sempre esteve aqui???

Acordo todos os dias cheia de energia pra ir trabalhar. A energia que sempre tive pra muitas coisas. Dou o melhor que posso enquanto estou na labuta. Até esqueço os minutos que se contam pra bater o ponto ao ir embora. Eu gosto do que faço, já disse isso aqui. Mas não consigo pensar em me ver com essa atual rotina nos próximos meses, próximos anos. Será que preciso de uma catapulta pra me projetar pra frente? Nunca fui assim!!!

Isso é um desabafo. Uma maneira que encontrei de dizer a mim mesma: Mayra, levanta essa bunda daí e vai correr atrás dos seus sonhos!!! Cadê o mestrado que você se prometeu fazer? Cadê aquele curso de culinária que você queria tanto? Cadê o curso de inglês que você não terminou até hoje? Cadê os projetos da fotonovela, dos textos do blog e de tantas outras coisas que você já listou e quis realizar? E aqueles livros todos que você comprou num último surto de consumo que estão criando teias de aranha na sua prateleira? Está tudo engavetado na estante do esquecimento.

E hoje eu acordei determinada. Certa de que chegou a hora de pôr um ponto final nesse marasmo. O final de semana foi meio triste. Tentei me movimentar e não consegui. Fiquei mais triste ainda. Chorei muito. Conversei com amigos, com minha prima querida, que me disseram palavras que me fizeram querer levantar hoje da cama, assobiando e chupando cana como eu sempre fiz. E eu resolvi que já passou da hora de recitar como um mantra aquela frase da música do Chico Science que eu sempre gostei: "Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar".

Atenção, mundo, aqui vou eu.

Beijinhos de injeção de ânimo porque o mundo precisa girar e eu não posso ficar parada vendo isso acontecer da minha janela.

quinta-feira, abril 22, 2010

É porque eu gosto taaanto de você


Eu tenho inveja de Brasília.

Porque ela cinquentona é cheia de curvas e retas que eu aos 34 anos não tenho.

Porque é moderna, arrojada e espaçosa. Se eu me atrever a ser tudo isso junto vou ser chamada de piriguete. Ela não.

Porque sua lógica urbanística é feita de letras e números e eu adoro não ter que decorar nomes de ruas e avenidas. Planos cartesianos fazem mais sentido na vida das pessoas.

Porque não tem esquina. Tem cantos e isso é suficiente. E não tem travessas nem cruzamentos.

Porque acolhe sem preconceito nativos de todos os estados do país. E faz dos nascidos nela, pessoas que se interessam em conhecer o resto do Brasil.

Porque daqui, todos os caminhos levam para Unaí. Eu não sei o que tem lá, mas sei que é fácil de chegar.

Porque tem personalidade a ponto de quem a visita pela primeira vez amá-la ou odiá-la. Odiou? Volta pra casa, simples assim.

Porque aqui não se buzina. Odeio cinquentonas histéricas.

Porque é poderosa. E sim, pode tudo.

Porque é um avião. Precisa dizer mais? Fiu-fiu!

Porque tem vias largas, eixos que se cruzam e monumentos magníficos que deixam quem a vê pela primeira vez boquiabertos.

Porque tem um pôr-do-sol ci-ne-ma-to-grá-fi-co. E não adianta dizer que o da sua terra é mais bonito. Não é.

Porque tem um clima muito doido. No entanto, nos manda pra cachoeiras nos arredores na seca e nos faz reunir os amigos na época de chuvas.

Porque tem o maior mastro em aço de bandeira do mundo. E a menor sala de cinema do mundo também.

Porque tem o Beirute, o Xique-Xique, o Careca e a Pizzaria Dom Bosco. Atóóóro ir pra lá quando na dúvida do que comer e do que beber.

Porque tem um foguete no Parque Ana Lídia que todo mundo brincou quando criança.

Porque tem a presença do JK pra todo lado. E eu gosto do JK.

Porque aqui é a cidade do rock, a cidade do chorinho e a cidade da esperança.

Porque aqui se pára na faixa de pedestres, inclusive pros Dragões da Independência atravessarem.

Porque ver batedores na rua (des)organizando o trânsito é lugar-comum. E encontrar o Presidente da República em eventos também.

Porque é ótimo dizer "tô na ponte" quando ainda nem saiu de casa. E porque tem uma ponte linda que imita o movimento da pedrinha quando jogada na água.

Porque eu me emociono até hoje quando desço a Esplanada no fim da tarde, com a luz linda depois de uma chuva e vejo que a maquete criou status de cidade grande.

Porque foi a cidade que meus pais escolheram e acolheram como deles. Porque eu nasci aqui, fui criada aqui e não faz parte dos meus planos ir embora tão cedo.

Pensando bem, acho que não é inveja não... é admiração. Muuuuita admiração.

Beijinhos de "é pique, é hora, rá-tim-bum" pra essa cidade linda!

segunda-feira, abril 19, 2010

Que leitE quentE, tchê!


Recentemente viajei bastante a trabalho. Estive em Fortaleza, Rio, Porto Alegre e Curitiba. Nessas viagens a gente rala muito, dorme pouco e ainda se diverte com a equipe. Se não relaxar, não há trabalho que dignifique o homem, não é mesmo?

Mas eu preciso desabafar (sob risco de ser apedrejada, eu sei). Estive pela terceira vez na minha vida na capital gaúcha e, infelizmente, ela não conseguiu me encantar de novo. Nada a ver com meu trabalho, que correu bem e deu tudo certo. O lance é o charme de Porto Alegre, ou a falta dele, não sei. Se existe, preciso descobrir. Já tentei entender o que é que a cidade tem pra oferecer e não consigo ver nada que me faça querer voltar, com todo respeito aos nativos de lá. O rio Guaíba e suas proximidades parece ser o único cartão postal da cidade. O centro está descuidado, sujo e sempre muito escuro e sombrio. As ruas estreitas e os altos prédios dão uma sensação de opressão que eu não consigo me adaptar. Vai ver é porque eu sou de uma cidade ampla, com muito verde e sem arranha-céus. Será?

Conheci Curitiba no carnaval deste ano. Depois de muito ouvir falar (bem) de lá, estive por uma semana numa das cidades mais bem organizadas em que já estive. Bem organizada e bonita. Curitiba é arejada, limpa, agradável. Quanto aos curitibanos, não sei dizer. Mesmo ficando por lá 8 dias não conheci nenhum. Neste último final de semana retornei pra trabalhar e tive e mesma impressão de antes: Curitiba é o máximo! E acho que essa impressão ficou ainda mais presente por chegar lá vindo de PoA. Acho que rolou um choque cultural, sem querer ofender os gaúchos. A capital do Paraná só perde pros pampas no quesito "beleza-e-simpatia-das-pessoas", o que é um fator importantíssimo, vamos combinar.

Eu sou uma pessoa positiva, sabe? E me proponho sempre a insistir até que a coisa se resolva. Faço isso com tudo em minha vida. Não sei se é otimismo ou teimosia. Só sei que não desisto fácil. E como eu sou insistente, ainda quero voltar a Porto Alegre pra conhecer a tal cena musical de que tanto falam. Rock and roll na veia? Não vi muita coisa. Mas dá pra notar que as pessoas têm uma certa atitude diferente dos outros lugares. Bairrismo? Talvez. Até porque lá é o único lugar do país onde se toca o hino do estado antes do hino nacional e todos os presentes cantam em alto e bom som. É de emocionar, confesso. E eu nem sei o hino do DF, pensem... E você, sabe o hino do seu estado na ponta da língua?

Beijinhos de quem quer iniciar uma sequência de viagens a passeio.

terça-feira, março 02, 2010

Doida a ponto de rasgar dinheiro? Nem tanto...


Todo mundo estranha, mas é porque todo mundo pensa igual. Só que quando eu digo que se ganhar na Mega Sena um dia vou trabalhar bo-ni-ti-nha na segunda-feira, ninguém acredita. E eu estou falando sério. Não é porque quero fingir naturalidade ou que não ganhei nada pra fugir dos interesseiros de plantão. É porque, simplesmente, não consigo me imaginar cheia da grana e sem trabalhar. Desculpaí, mas não consigo não. Então sempre me dizem:

- Mas Mayra, você pode trabalhar... mas trabalhar no que gosta.

E quem disse que eu não gosto do que eu faço???? E quem foi que falou que eu passei 12 anos na universidade fazendo 4 cursos e mais 4 anos estudando pra um concurso, o qual eu passei, para largar tudo porque agora terei dinheiro pra dar e vender? Eu não. Felicidade não se compra, já falou alguém um dia.

Ter dinheiro é bom, mas juntar o útil ao agradável é muito melhor. Já pensou poder viajar no final de semana pra jantar em Paris depois de uma semana cheia no trampo? Ser a primeirona a ter aquele carro lindo que acabaram de lançar e que você ficou louca quando viu o comercial na televisão... à vista? Tomar um porre e poder levar suas melhores amigas pra dar um rolé em Nova Iorque por sua conta naquele feriado que, antes de ganhar o prêmio, vocês combinaram que iriam passar gastando na Zé Paulino, em Sampa? Você aí pode me chamar de doida ou dizer que aindei bebendo gás. Mas eu digo e repito: eu iria trabalhar na segunda-feira bo-ni-ti-nha. Com um sorriso de orelha a orelha, é claro, não vou negar.

Recentemente, depois de fazer um jogo e sonhar, como todo mundo faz quando sai da lotérica, comentei que aplicaria boa parte do dinheiro, faria comprinhas com outra e ajudaria algumas pessoas com outro montante. Uns amigos do trabalho logo disseram:

- Ah, eu também faria isso. Mas pegaria o dinheiro e iria viajar por um bom tempo. Trabalhar? Nem tão cedo!

Parei, pensei e fiquei imaginando essa possibilidade. Viajar é bom. Dar um tempo de tudo e conhecer lugares novos também. Mas por quanto tempo? Acho que isso enjoa uma hora, né? E antes que eu me manifestasse, dizendo que estaria bo-ni-ti-nha fazendo login no meu computador do trabalho na segunda-feira, lembrei: estou em estágio probatório! E sabem o que isso significa? Que se eu ganhar na Mega Sena hoje e quiser largar tudo, é largar tudo mesmo!!! Não se some do mapa antes dos 3 primeiros anos de estágio. Não se pede licença (nem que seja sem vencimentos) nessas condições. E se eu enjoasse de saracotear e resolvesse voltar? Daria não. Teria jogado meus anos de estudo pela janela só porque virei milionária. Doida eu? Ah, muda o adjetivo porque você já me chamou disso hoje.

A gente surta de tal modo com todas as possibilidades que surgem quando vemos tantos zeros poderem fazer parte da nossa conta bancária, que uma figura certa vez me disse que se ganhasse na loteria, a primeira providência dela seria entrar no trabalho espalhando bofete na cara de todo mundo que ela não gosta. Eu hein. Faço isso não. Como disse o poeta, "a inveja é uma merda". Quer maneira mais sublime de fazer seus desafetos passarem raiva? Bate em ninguém não, colega, sorri gostoso e sai pro abraço: ganha na Mega Sena ou se conforma. Simples assim. Desse jeito, você continua levando sua vidinha boa, mantém as amizades e realiza seus sonhos sempre que eles surgirem. Ou vai agora querer me dizer que nasceu pra ser uma Paris Hilton e quer viver na futilidade? Diga isso e será uma pessoa rica, triste... e sozinha.

Beijinhos de quem não ganhou dessa vez e que chegou segunda-feira bo-ni-ti-nha pra trabalhar, sem que o mundo tenha se acabado por conta disso.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Mas eu só quero é ser feliz


Eu bem que tentei fazer "malhação inteligente". Deu muito certo não. Te conto.

Já tem um tempinho que voltei a malhar. Assim... regularmente, tem pouco tempo, confesso. Antes eu pagava mais que frequentava, mas resolvir acabar com isso e levar à sério o tratamento da coluna e valorizar meu suado dinheirinho. Malho numa academia banbanban de Brasília, daquelas metidas a besta e cheia de pessoas lindas-gostosas-e-saradas. Um colírio pros olhos. E pára por aí. Morro de preguiça desse tipo de ambiente. Prontofalei.

Pois bem, lá ia eu pra ginástica munida do meu inseparável livro, pagando de intelectual. Tá, completamente wannabe, concordo. Enquanto enfrentava meus 40 minutos na bicicleta, lia tranquilamente sem perceber que o tempo passava. Funcionava bem. Só que quando chegava na hora dos exercícios de musculação, o livro virava um trambolho que eu não sabia onde colocar. Só restava o chão. E vamos combinar que quem tem amor aos livros, não acha a melhor coisa do mundo colocá-los num piso todo sujo de suor, néam? A tal "malhação inteligente" só funcionava enquanto estava na ergometria. Depois virava "malhação inconveniente". Chato isso. Sem contar que o humor mudava drasticamente e a vontade de sair correndo de lá só crescia. Só que eu não podia. Ou melhor, não devia.

Tive que mudar de estratégia. Resolvi turbinar meu iPod pra ver se substituía a leitura e me distraía durante as pedaladas. Deu certo. Demorou pra encontrar a trilha sonora perfeita. No início resolvi remar contra a maré e ouvir músicas calmas, interiorizar a proposta de esse-é-um-momento-muito-meu. Só uma louca mesmo pra querer meditar enquanto queima calorias com dezenas de pessoas ligadas nos 220W ao redor, concordam? Foi aí que resolvi mudar meu set list e minha vida também mudou.

Analisando os quase 40G de música que possuo no computador, fui jogando no mp3 player tudo que eu achava que podia ser animado. Até a pasta de "funks cariocas", me passada tempos atrás por um colega do trabalho que tinha acabado de chegar do Rio com as novidades do gênero, foi parar lá dentro. Eu nem imaginava que encontraria ali a libertação.

Sentada na bicicleta, pus as músicas no "shuffle" e fui pedalar feliz. Róquênrôu, MPB e música pop se alternavam em meus ouvidos. Até que de repente, não mais que de repente, começou um funkão daqueles "de com força", sabe? Daqueles cheios de palavras de baixo calão que vc chega a olhar pros lados pra ver se tem mais alguém ouvindo. Constatei que era exclusividade minha e aumentei o volume pra escutar direito:

"Não gosto de peru pequenoooooooooo. Eu gosto é de xereca grandeeeeeeeeeeee! Tum, tuntuntuntum! Olha o batidããããão". Rapaz!!! Isso caiu como uma luva!!! Ativou a endorfina que foi uma beleza!!! Destrambelhei a pedalar feito louca, animadésima... e ouvindo baixaria!!! Porque... como diz uma amiga minha, "eu sou uma lady, porra!".

Tive um breve momento, confesso de novo, de que-que-isso-que-cê-tá-ouvindo-Mayra? Mas passou logo. Mentalizei o mantra "Tá no inferno, abraça o capeta" e segui firme subindo minha ladeira de bike. Malhação braba, brother.

"Caolha, nariz de tomada, sem bunda, perneta, corpo de minhoca, banguela, orelhuda, tem unha encravada, com peito caído e um caroço nas costas. Ih! Eu sou a dona Gigi...".

Hahahahaha (sim, comecei a rir muito sozinha, pagando o mico básico de quem tá com fone de ouvido e esquece que o mundo a sua volta não está compartilhando aquilo). Bom demais isso!!! A gostosona, futura candidata a BBB que corria na esteira ao meu lado, me olhou com cara de desdém. Beijomeliga, minha filha. Aposto que você tá ouvindo aquela chata da Rihanna. Não conhece ainda os reais prazeres da vida, tadinha...

No medo de perder o controle das coisas quando partisse pra musculação, mantive a seleção: "Seu pittbull é Lassie, tu é rosa ou margarida? Tu tem marra de Sansão, mas tu é Dalila. Tu é Dalilaaaa. Tu é Dalilaaaaaaa"! E eu lá, trabalhando os glúteos na tal cadeira abdutora. A cada "Dalilaaaaa" o momento sincronizava com a hora de fazer força e soltar o ar. Sen-sa-cio-nal. Como não descobri isso antes??

Eis que chega o momento fatídico: a abdominal. Vou contar só pra você que eu detesto abdominais mas vou ter que admitir que fazer esse exercício ouvindo "Sou eu Bola de Fogo, E o calor tá de matar, Vai ser na praia da Barra, Que uma moda eu vou lançar. Vai me enterrar na areia? Não, não vou atolar" são outros quinhentos. No refrão ("tô ficando atoladiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinha") eu me concentrava toda pra fazer os movimentos. As abdominais nunca mais serão as mesmas depois do MC Marcinho.

Pra fechar, no alongamento, adotei a paródia de "Tédio", do Biquíni Cavadão, carinhosamente chamada de "Adultério", do Mr. Catra. Vamos lá, acompanhe o refrão cantando no ritmo que você conhece e aproveite pra entrar pra minha turma:

"Na 4x4 o tempo voa
Whisky e Red Bull
Quanta mulé boa
O pau tá ficando duro
O bagulho tá sério,
Vai rolar o adultério"

Exatos 15 segundos!!!! O suficiente pra ficar em cada posição e alongar tuuuuuudo!!!! Diz aí se não é a fórmula mágica pra fazer qualquer wannabe gostar de academias? Tá, eu sei que não é nenhuma poesia, mas resolve direitinho a questão a que se propõe. A coisa tá dando tão certo que eu agora vivo procurando novos funks pra baixar e garantir presença na academia. Saio de lá me sentindo a própria popozuda. Afinal, a proposta não é exatamente essa??? Se liga no batidão, mané!!!

Beijinho com a mão no joelho e dando uma abaixadinha na aula de agachamento.