terça-feira, março 27, 2012

Trinta e quantos, mesmo??


No próximo sábado completo 36 anos, ou melhor, 36 outonos, porque eu não nasci na primavera, me desculpem os mais puristas. Uma amiga gaiata me alertou: "Mayra, aproveita esta semana que é a última que você ainda está mais perto dos 30. A partir da semana que vem você estará mais próxima dos 40". Todo mundo tem a sua maneira de ver as coisas, não é mesmo? Eu nunca tinha visto por esse lado.

Ok, estou com 35 anos. É tanta história pra contar, tantas ressacas vividas, tantas farras aproveitadas, tanto choro e riso extravasados. São tantas paixões e desilusões perdidas. Tantos beijos, abraços e afagos. São tantas memórias, tantos brindes, tantas viagens. Tantos micos que paguei e vergonhas que passei. São 35 anos de comemorações de aniversários (nunca deixei de comemorar um só!). São tantos carnavais e festas de ano-novo. Natais com e sem a minha família. Muitas discussões inflamadas em mesas de bar, cantorias desafinadas depois da última saideira, incontáveis "fechamentos" do Beirute. São baladas, shows, filmes, livros, teatros e exposições de arte. Feijoadas, churrascos e cervejadas. Tantos pratos experimentados e panelas queimadas. Tantos elogios e críticas. Perdas e conquistas. Crises de asma, de coluna e de idade. Opa, de idade?? Acho que não.

Ah, eu me sinto bem, vai. Estou num momento de reflexão, de auto-entendimento e de vontade extrema de fazer coisas que nunca fiz! E não, eu não vou contar pra vocês que coisas são essas, tá? Favor não insistir, a gerência agradece.

Ao mesmo tempo me sinto como se tivesse com 18 anos. Tudo bem, tudo bem, sem exageros... vou completar essa idade duas vezes, então isso deve ser algum sinal, né não? Tá bom, é muita cara-de-pau da minha parte. Ou não é?? Será porque cheguei aos 36 sem (ainda) ter casado? Sem (ainda) ter tido filhos? Sou uma eterna adolescente. Ah, sou mesmo. Pergunta pra minha mãe.

O que eu sei é que a idade não está "pesando", mas as vontades estão mudando. Os anseios e medos não são os mesmos, os planejamentos se transformaram, assim como as prioridades. Pelo menos o bom-humor continua e o jeito sapeca acho que vai conviver comigo até o fim dos meus dias, e que este - espero eu - demore muito ainda pra chegar.

Cá estou, uma mulher de quase 36 anos e que nunca teve problemas em bradar sua idade. Contando os dias do aniversário não pra ficar mais velha, mas pra comemorar como todos os anos, recebendo todo amor e carinho daqueles que sei que gostam de mim. Talvez o tempo tenha me deixado mais melancólica... De acordo com Carlos Heitor Cony, "Nostalgia é saudade do que vivi. Melancolia é saudade do que não vivi". Talvez esteja bem aí o segredo da minha proximidade com os 40. Aguardem que ainda tem muito por vir!

Parabéns e felicidades pra nós. O Maestro já dizia: "É impossível ser feliz sozinho". Será?

Beijinhos sempre aniversariantes.

quarta-feira, março 14, 2012

Diversão a seco


No meu primeiro carnaval pernambucano, nos idos de 1996:

-
Mayra, não come salsichão.
- Ah, me larga!
- Come qualquer coisa na rua, menos salsichão. Depois não diga que não avisei.

É claro que eu não ouvi o conselho do meu amigo e comi. E passei maaal, muito mal. Pus todos os meus bofes pra fora no meu primeiro dia de folia. Tive um piriri que não recomendo a ninguém no meio de Olinda e rezava pra encontrar um banheiro a cada 100m. Pra completar, faltava água na casa que tínhamos como base. Ou seja, eu me lasquei de verde e amarelo (e marrom, né? Urgh!). Ainda tive que passar o resto do carnaval inteiro bebendo água e ouvindo "Eu avisei! Eu te falei!", sem poder dizer nada. Ser teimosa tem dessas coisas. E ter 19 anos também.

Eu tenho um talento natural pra ficar sem beber em eventos onde invariavelmente se bebe, como, por exemplo, Carnaval, Copa do Mundo e no aniversário de 30 anos. Ah, e quando se está de férias na Europa no-meio-da-Copa-do-Mundo também, que é pra ser bem profissional no assunto.

Explico.

Eu inventei de fazer um tratamento pra emagrecer e entrar os 30 gostosona. Perdi seis quilos, dois números no manequim e a graça de viver. Tá, eu não perdi a graça (sem drama, Mayra!). Eu tava linda como pretendia e resolvi fazer uma festa de arromba. Minha mãe comprou garrafas e garrafas de espumante e algumas ostras para brindarmos com a família e os convidados trouxeram verdadeiros carregamentos de cerveja. Eu tomei uma taça de champanhe a noite toda e muita Coca-Cola Light. E ficou por aí. Tudo em nome da silhueta. Eu me diverti horrores, até porque eu sempre me divirto. Mas bora combinar que comemorar aniversário sem brinde perde um pouco a graça? Ainda mais quando se vira balzaca.

No mesmo ano teve a Copa do Mundo (2006) e eu ainda tava nessa de dieta. Nos jogos do Brasil eu bebi Liber (ui!!) a dar com pau, pra ver se entrava no clima da galera. Eu não entrei, é lógico. Gritei, torci e tive até ressaca no dia seguinte. Tá, não tive, mas bem que queria ter tido. Vai ver foi por esse motivo - e somente ele - que o Brasil foi eliminado. Ahã. O que eu sei é que cerveja sem álcool faz a gente ir mais ao banheiro do que a normal. E empapuça na terceira latinha. Eca!

E lá fui eu pra Europa comemorar 30 anos de amizade com uma amiga, em 2010. O bacana da nossa viagem é que era mais uma Copa do Mundo onde veríamos cada jogo do Brasil em uma cidade diferente. E eu já fui no avião falando: "Putz, esse ano eu bebo na Copa, porque na passada eu tava abstêmia, de dieta!". Aí a maluca aqui vai e se estabaca no chão em Barcelona e quebra o nariz, como muitos de vocês já sabem. O resultado? Cinco dias no anti-inflamatório e dois jogos do Brasil (e vários outros de times europeus) a seco. A sorte é que na Espanha você encontra cerveja sem álcool que preste, na pressão, em qualquer bar. Isso foi a redenção. Nem lembrei da ferida na cara e segui me divertindo, como sempre.

É fato que eu não perco a pose nem o programa, com ou sem álcool. Mas o curioso da questão é estar em eventos emblemáticos sem beber. Isso sim, dá raiva, não vou mentir. Mas sabem que eu já estou me acostumando? Este ano entrei de dieta de novo e reduzi os drinques, pra variar. Meu aniversário tá chegando e devo beber muito pouco pra não recuperar os quase quatro quilos que já se foram. Mas é claro que eu vou querer fazer tim-tim com as pessoas queridas pra comemorar, né? ? Afinal, eu vim ao mundo a passeio e o que é que as pessoas fazem quando estão passeando, hein, hein?

Beijinhos sóbrios.

quarta-feira, março 07, 2012

Maldita Crise de Abstinência



Eu tenho sonhado com coisas que eu não posso comer. Não estou falando de caviar, escargots ou do Brad Pitt. Tô falando mesmo é de Yakult no café da manhã, fatias de queijo prato cobertas com geléia de morango (sabor de infância) e um copão de Nescau gelado vendo televisão. Coisas simples assim.

Ter intolerância à lactose é uma merda, com o perdão da palavra. Mas eu não me canso de reclamar. Na verdade, ser intolerante é um inferno! Faz da gente um ser infeliz e invejoso. Se eu tivesse nascido com isso, seria mais conformada, pois não teria aproveitado 28 anos (eu disse vi-te-e-oi-to anos) da minha vida comendo de tudo que deriva do leite e achado tudo (muito) bom. Há sete anos padeço dessa "enfermidade" e sofro reclamando. Acho, sinceramente, que deveriam existir clínicas de reabilitação para pessoas como eu. Porque quando a crise de abstinência bate, eu sou capaz de comer uma bandeja de mussarela ou uma lata de leite condensado pra compensar. Só não faço porque eu sou doida mas não desse tanto.

Eu sou é um ser bem teimoso, viu. Muitas vezes chuto o balde e como mesmo sabendo que vou passar mal e colocar tudo pra fora. O pior é que à medida que o tempo tá passando, parece que minha intolerância está piorando. Talvez seja justamente por conta dessa teimosia. Antes eu não era tão dependente das "cápsulas da felicidade" (como chamo as pílulas de lactase) pra poder digerir algo com leite e hoje preciso tomar pra tudo, às vezes duas de uma vez só pra não "devolver" o alimento.

Agora para aí pra pensar num ser que cresceu tomando leite "mugido", que vinha da fazenda em galões enormes. Uma pessoa que comia queijo fabricado nessa mesma fazenda. Uma adolescente que acordava no final de semana na roça às 6h da manhã e seguia pro curral com uma caneca com Nescau pra pôr direto na teta da vaca. Pois é. Se Deus escolheu castigar alguém, fui eu. Ou esse excesso todo de leite na minha vida me tornou intolerante ou eu estou pagando algum pecado muito cabeludo.

Pra completar, eu adoro molhos à base de queijo, iogurte ou creme de leite e preciso ficar me policiando pra não fazê-los sempre que vou pra cozinha. Há quem vire pra mim e diga: "Reclama não que podia ser pior, poderia ser camarão ou glúten". Olha... eu não sei você, mas eu não costumo comer frutos do mar no café da manhã, já pão sim. Portanto, posso até concordar com o glúten (até porque, minha gente, tem na cerveja, né?), mas daí a dizerem que não posso reclamar... me desculpem, mas sim, eu posso.

Se você quiser entender o motivo, experimenta cortar o leite e todos os seus derivados por uma semana. Eu disse todos. Nem digo um mês senão você corre o risco de morrer de inanição. Sério mesmo. Eu dei um chilique no médico quando o resultado dos exames acusou a intolerância. Chorei ao me dar conta de que não haveria mais Toddynho no meu lanche do trabalho, nem iogurte light no café da manhã. Quis quebrar tudo quando fui pra França pela primeira vez, a "terra dos queijos", e passei mal praticamente todos os dias porque não abri mão de experimentar o que passasse na minha frente. Quis morrer quando lembrei que eu ODEIO tofu (aquilo é tudo, menos queijo, bora combinar?).

Agora me fala, você é cabra macho? Mulher forte? Então faz o que eu tô dizendo: corta tudo isso na sua vida por um tempo e depois me diz se não não morreu de tristeza. É que nem o retrovisor direito do carro: você só se dá conta de que faz muita falta quando fica sem. A diferença é que sem ele você não vomita, né? Se você encarar meu desafio, com certeza vai parar de dizer por aí que eu reclamo à toa.

Beijinhos sabor queijo de cabra.

terça-feira, março 06, 2012

Uma Pitada de Ânimo

Não é segredo pra ninguém que eu gosto de uma cozinha. Minha relação com as panelas vem dos tempos de criança. Meu primeiro livro de culinária chamava-se Anita na Cozinha e eu devo ter ganhado ele quando tinhas menos de dez anos de idade. Sim, a minha mãe, cozinheira de mão cheia, sempre me estimulou a aprender a cozinhar. Ainda pequena aprendi a fazer um bolo de chocolate que era sensação lá em casa. Meu irmão adorava tanto que eu tinha que assar duas fôrmas: uma pra ele e outra pro resto da casa. Aos 12, ganhei um super livro da minha mãe, livro de adulto, sabe? Fiquei super-metida e mostrava pra todas as minhas amiguinhas. A Boa Mesa, de onde até hoje eu tiro receitas. Mas meu negócio eram os doces, me aventurava muito pouco fora do mundo das sobremesas, ou seja, engordar o povo era minha diversão. Até que aos 21 anos decidi ir morar sozinha. E como diz o velho ditado: "A necessidade faz o monge". Lá fui eu tentar aprender o básico "pra sobreviver" (ai, que exagero, Mayra!).

Eu era praticamente vizinha da minha mãe e dividia um apartamento com um amigo (um verdadeiro "santo", eu diria), que foi minha primeira cobaia, coitado. Porque eu fui tinhosa e não ia almoçar na casa da mamãe. Pelo contrário. Eu ligava pra ela quase todos os dia perguntando como fazia carne moída, fritava um bife, cozinhava arroz soltinho e coisas do gênero. As aulas eram todas por telefone. Na sequência, eu ligava pro meu amigo e dizia: "vem almoçar em casa hoje que eu tô cozinhando", como se fosse uma vantagem tremenda pra ele. Acho que se tivesse vídeo-chamada naquela época eu teria visto várias vezes a expressão de medo que, possivelmente, ele fazia ao me ouvir dizer isso. Mas ele ia, comia e ainda dizia que estava ótimo!!! Melhor que encomenda, né?

Na mesma época eu tinha um namorado que cozinhava super bem e eu ficava toda acanhada de fazer algo pra ele comer. Então eu treinava escondida em casa, quando estava só, com medo de alguém confundir meu apartamento com o Vaticano quando surgia uma fumaça saindo pela janela. Não, eu não tinha escolhido o novo Papa, tinha era queimado alguma coisa mesmo. E assim eu fui, perseverando e experimentando receitas.

Mesmo depois de voltar a morar com a minha mãe, arriscava encarar o fogão de vez em quando pra não perder o hábito. E só então, na minha última saída de casa pra morar sozinha de novo, eu encarei com determinação a ideia de cozinhar com frequência. Nisso, hoje eu faço comida em casa quase todos os dias. E ainda aproveito pra chamar os amigos para experimentarem e me darem suas notas de vez em quando.

Nunca mais eu escrevi aqui no blog, sabe-se lá o motivo. Talvez por preguiça ou por falta de assunto. Até pensei em encerrá-lo de vez e dar um delete no endereço. "Chega de blog, já se vão dez anos, né?". Mas aí eu pensei: por que não escrever sobre outros assuntos daqui pra frente que não sejam só as peripécias da minha vida? Por que não compartilhar uma ou outra experiência gastronômica, com meu já conhecido texto, com vocês? Por que não aproveitar que este blog já tem nome de coisa de comer e me empolgar de novo em trocar umas palavrinhas com quem sempre me leu?

E aqui estou. Querendo voltar a escrever sobre vários assuntos, querendo colocar as idéias em ordem e, muito provavelmente, doida pra dividir com vocês meus pequenos momentos solitários no castelo que agora tem uma cozinha de verdade (a outra era de casa de boneca, juro!), onde eu invento e testo as mais divertidas receitas. E não, a fumaça do conclave nunca mais saiu pelos meus cobogós. Eu agora virei gente grande e até que me garanto com uma colher-de-pau na mão. Pelo menos é o que tenho escutado por quem já provou do que ela faz. E aí, quer continuar provando do meu Milk Shake?

Beijinhos culinários de jornalista prendada.