sexta-feira, julho 15, 2011

A carteira perdida - o desfecho



E então, quatro dias depois do cara perder a carteira, eu achar e perder de novo, ele me manda uma mensagem no Facebook (confesso que me tremi toda quando vi. Com que cara eu ia dizer que a carteira não estava mais comigo?) :

"Mayra, muito obrigado. Já peguei a carteira com o Ricardo no hotel. Valeu mesmo. Abraços."

Que Ricardo?? Que hotel, cara pálida?? Um ponto de interrogação foi gravado na minha testa naquele instante.

Eu devia ter ficado feliz com o desfecho final da saga da carteira duplamente perdida e tocado a vida. Afinal, ele a tinha recuperado. Mas não. A pulguinha atrás da minha orelha não permitiu que eu desse o caso por encerrado. Respondi ao moço:

"Que boa notícia! Espero que ela tenha chegado a você da mesma forma que eu a encontrei, pois houve uns contratempos entre ela sair das minhas mãos e chegar às suas..."

Que phyna eu sou, não é mesmo? É claro que eu plantei a semente da dúvida na cabeça do cara. Em poucos minutos, recebi uma resposta: "O que aconteceu, Mayra???". Assim, cheinha de pontos de interrogação. Então eu resolvi ser má. Ah, o cara demorou quatro dias pra me dar notícias de vida e agora eu vou passar o texto todinho assim, de bandeja? De jeito nenhum!!! Eu quis me divertir um pouco e incorporei o Sherlock que habita meu ser.

Demorei 24 horas pra responder. É isso aí. E ainda pensei: a carteira já tá com ele, oras, então não tem problema eu dizer a verdade, né?

Fui lá e contei, sem riqueza de detalhes, o que havia acontecido. E terminei com a frase-clímax: "Quem é Ricardo? Que história é essa de hotel?". Ser viciada em Rubem Fonseca faz isso com a gente.

Só que o cara resolveu entrar na minha onda de criar expectativa, mistério, luxo, poder e sedução (tá, nem tanto) e demorou outras 24 horas pra me responder. Ai cacete!!! Ansiosa como sou, nunca me arrependi tanto de inventar moda... Nesse meio tempo, fiquei viajando no que ele ia estar pensando: "Essa mulher é uma louca!!!". Ou: "Que história ótima!". Aí já comecei a pensar que a gente ia marcar um café e rir disso tudo, virando os melhores amigos do mundo. Sim, eu assisto muita comédia romântica. Detalhe que eu só vi a foto 3x4 dele na habilitação, porque no Facebook tinha uma criança sorrindo. Um verdadeiro tiro no escuro, porque a gente sabe que ninguém fica bem em foto de documento. Nem o Brad Pitt, aposto.

Aí ele só escreve assim: "Segunda-feira esse Ricardo me ligou dizendo que tinha encontrado minha carteira num táxi e que estava hospedado num hotel. Fui lá e peguei. Essa história dava um livro, hein?".

Tem senso de humor. Gostei. E olha, um livro eu não sei, mas já rendeu dois posts deste blog. Minha única questão pra sossegar de vez com isso tudo, era esclarecer a dúvida maior: como esse tal de Ricardo ligou pra ele se eu revirei aquela carteira inteirinha e não achei telefone nenhum? Será que ligou pra tal Karina? Decifrou algum código que eu não pesquei? O que esse Ricardo tem que eu não tenho??? Respondi mais uma vez perguntando isso em poucas linhas.

A resposta? O crescente soar de grilos: cri-cri-cri-cri-cri. Sim, meus amigos, nunca mais esse moço me respondeu. Nunca mais deu notícias de vida. Nunca mais disse uma simples palavrinha. E eu, querendo aplicar o que aprendo nos romances policiais que leio me saí uma péssima detetive, sem ter o principal desfecho da minha história.

Bom, pelo menos o cara tá lá com a Cartier-Paris de volta no bolso, né? Perdeu a chance de um café divertido na vida dele. Só digo isso. Porque eu sou uma pessoa de bom coração e sempre disposta ajudar o próximo, mesmo quando ele está bem feinho na foto da CNH.

Beijinhos faltando uma peça do quebra-cabeças.

terça-feira, julho 05, 2011

Achada e Perdida


Eu costumo dizer que minha mãe é um personagem de tirinhas de jornal. Toda semana tem uma história diferente, engraçada, digna de ser contada pras pessoas. Então eu descobri que realmente sou filha dela e não fico muito longe de ser um desses personagens também. Sabe aquelas pessoas que você diz "têm coisas que só acontecem com você?", pois é, sou eu. Quem conhece este blog há muito tempo, sabe disso.

E este final de semana aconteceu mais um episódio que merece virar post. Aliás, quando comentei com as pessoas do ocorrido, foi a frase que eu mais ouvi: "essa tem que ir pro blog". Por isso, cá estou.

Mayroca já não é uma pessoa muito tranquila, ou melhor dizendo, que fique muito tempo parada, sem aprontar alguma coisa. Pegando o embalo desse meu ritmo de vida, fui me divertir numa festa famosa em Brasília, da escola Vivendo e Aprendendo. É gente que sai pelo ladrão, duas pistas de dança e um povo pra lá de bonito. Lá fui eu, marcar minha presença.

Tudo começou quando resolvi visitar um banheiro químico. Depois de terminado meu serviço, ao lado do rolo de papel eu encontrei uma carteira perdida. Isso mesmo. Alguém esqueceu ou deixou cair uma carteira "Cartier, Paris" (sim, sim, sim) com tudo dentro e devia estar louco à procura, pensava eu.

(Nota mental: por que as pessoas insistem em sair pra balada com todos os documentos, cartões, talões de cheque e carteirinhas de mil coisas diferentes? Principalmente quando sabem que vão encher a cara, deveriam deixar o máximo possível de coisas em casa pra evitar maiores dores de cabeça provenientes não apenas do álcool.)

Guardei a carteira na minha bolsa e procurei uma seção de Achados e Perdidos na festa. Não encontrei. Mas confesso que também não procurei com tanto afinco, pois estava mais empenhada em dançar que qualquer outra coisa. Pensei: "amanhã eu dou um jeito de localizar essa pessoa e devolvo tudo pra ela". Ok.

Acordo no domingo e lembro que tinha uma boa ação a ser feita. Reviro a carteira do cidadão à procura de qualquer pista que me ajudasse a entrar em contato com ele. Descobri que cursou Contabilidade na UnB, frequenta bons restaurantes (comprovantes de cartão hoje só servem pra isso, pra alguém saber melhor da sua vida e deixar a carteira mais gorda) e que passa muitos cheques (canhotos e canhotos). Nada aparecia pra facilitar a minha vida. Eis que encontro um pedaço de guardanapo escrito em letras tortas "Karina" e um telefone rabiscado. Mas aí eu pensei: "E se essa Karina foi alguém que ele conheceu na night e mal conhece? E se ela não quiser que ele ligue de volta? Pior!! E se eu ligar e ela achar que eu sou a mulher louca do cara querendo tirar satisfações?". No way! Deixei o papel ali de stand by e continuei minha busca por outra forma de contato.

No meio disso tudo, me arrumo pra ir pro Pontão do Lago Sul, complexo de restaurantes e área de lazer que reúne a maior concentração de carros de bacanas por metro quadrado em Brasília. Peguei um táxi e fui encontrar uns amigos, já que meu destino era uma cervejaria e provavelmente eu não passaria num bafômetro na volta pra casa. Pouco antes de sair de casa, tenho a brilhante idéia de jogar o nome do infeliz proprietário de uma carteira perdida no Facebook pra ver se descubro alguma coisa. Bingo! O cara tava lá! O nome completinho!! Consegui mandar uma singela mensagem: "Oi, achei sua carteira na festa da Vivendo, me liga". Aliviada, decidi levar a carteira comigo, caso ele ligasse e já quisesse me encontrar pra resgatá-la. Ufa!!

Cheguei no Pontão no começo da tarde e saí de lá no começo da noite. Esse cidadão NUNCA me deu notícias. Ou não está preocupado com o que perdeu ou então é um desligado mesmo. Porque se fosse eu, já tinha acessado tudo o que eu pudesse pra saber se alguém estava com meus documentos. Ema, ema, ema, cada um com seu problema. Da cervejaria fui pra outro restaurante encontrar meu irmão e amigos, onde rolava um sambão. Dancei, me diverti e cansei. Peguei outro táxi pra casa, rumo aos braços de Morfeu.

Segunda-feira eu acordo e vou me preparar pra mais uma semana que começa. Dia longo no trabalho e muita coisa pra fazer. Pego minha bolsa pra ir trabalhar e... cadê a carteira do rapaz que estava aqui? O gato comeu!!! Isso mesmo, minha gente, eu perdi!!! E não adianta brigar comigo porque quem perdeu primeiro foi ele. Ora essa... Não estava na minha bolsa, não estava na minha casa e eu só posso pensar que deve ter caído no meio do samba ou no táxi (que eu peguei no meio da rua). Fiquei completamente alucinada procurando por ela e nada. Então relaxei e tive um momento Pollyanna: antes a dele do que a minha, bora combinar?

Nunca o termo "achados e perdidos" fez tanto sentido! Essa carteira criou pernas desde sábado e hoje já é terça. Até agora, ninguém se preocupou com ela, a não ser eu. E tô aqui fazendo mentalização pra que esse cidadão não me ligue nunca, porque eu até agora não sei o que vou dizer... "Oi... errr.... pois é, sua carteira tava comigo e agora não está mais! Veja que coisa!". Só fico na torcida pra que alguém com a mesma boa intenção que eu (ah, eu tentei, néam?) a tenha encontrado e consiga devolvê-la sã e salva. Porque achar uma carteira na Asa Norte e perdê-la no Lago Sul é uma coisa que só Mayra Cunha consegue fazer!

Beijinhos de quem tá até agora pensando que isso é uma pegadinha.