terça-feira, maio 31, 2011

Eu só queria entender!



Eu só queria entender. Nada mais que isso. Somente entender porque Brasília, capital do país, não possui hoje um cinema dedicado ao circuito alternativo. Com a "morte" da Academia de Tênis, filmes cult que andam ganhando prêmios por aí e que sempre tiveram público cativo na capital federal, não têm mais onde serem exibidos. Eu só queria entender o porquê disso.

Não, eu não consigo compreender porque uma cidade hoje com porte de cidade grande, com títulos de terceiro pólo gastronômico do país ou o quarto lugar do Brasil em número de barcos, não investe em cultura. Ou melhor, não prioriza o bom cinema, dirigido a poucos e sucumbe aos blockbusters.

Longe de mim menosprezar o cinema comercial, eu mesma assisto ao que passa nas grandes salas. Mas eu só queria entender porque salas como o Embracine, instaladas em um shopping de luxo da cidade, acumulam dívidas e vai fechar suas portas. Um lugar que tinha como proposta em sua abertura, o mix de filmes pops, cults e nacionais. Sim senhor, a idéia era essa. Aqui o que não me deixa mentir:

As oito salas de cinema estão no CasaPark com o objetivo de atingir um público exigente, que gosta de conforto e qualidade e uma programação variada. A Embracine traz salas de alto nível técnico com 1500 lugares e a programação passa por uma curadoria rigorosa que inclui desde os sucessos de Hollywood, Cannes e Berlim até a cinematografia escandinava, brasileira, latino-americana, asiática, européia, além de mostras temáticas, sessões comentadas, projeto cinema-escola e programas de curtas metragens.

Alguém consegue me explicar - porque eu realmente não entendo - como a capital brasileira não tem onde abrigar com qualidade, o cinema que se faz pelo mundo? O cinema que muitas vezes nos diz o que as produções norte-americanas procuram esconder? Os clássicos que fazem parte da formação cultural de qualquer pessoa comum que tenha um mínimo de interesse pelo assunto? Justo uma cidade onde crescem os cursos de cinema em faculdades, não oferece programação diversificada? Será que estamos fadados a engolir o cinema comercial goela abaixo enquanto não aparece quem queira mudar isso?

Eu fico aqui me perguntando como é que estamos em 2011 e Brasília não possui um lugar destinado ao cinema alternativo. No início dos anos 90 (olhem que estou falando em vinte anos atrás), era possível assistir a bons filmes no Cine Brasília (cadê suas mostras de cinema de várias partes do mundo?), no Cinema da Cultura Inglesa (uma salinha pequena onde pude assistir alguns dos filmes mais importantes que já vi) e em outros lugares afins. Por que raios hoje não há um empresário ou quem-quer-que-seja, com condições de bancar isso, pra investir nas salas pequenas, fora dos shoppings, como Espaços Unibanco, UOL ou Itaú? Quem foi que disse que só em São Paulo e Rio de Janeiro há apaixonados pela sétima arte? Hein? Hein?

Eu tinha uns 15 ou 16 anos quando ia com minhas amigas, todo santo-domingo, de ônibus, ao Cine Brasília acompanhar a mostra que tivesse em cartaz. Hoje estou com 35 e não tenho essa opção! Tive o privilégio de conhecer a fase mexicana do cineasta espanhol Luís Buñuel, assistir clássicos como Casablanca, Encouraçado Potemkin e Psicose na telona. E na maior parte das vezes, de graça!!! Hoje... nem pagando!! Conheci o cinema dinamarquês quando não se falava em Dogma, tive acesso aos cinemas asiático e indiano (o famoso "Bollywood"). Foi nessa mesma época que pude descobrir, por mim mesma, que achava Godard um saco e que amava o Fellini mais do que tudo.

Hoje eu tenho uma irmã de 18 anos que estuda cinema e vez ou outra me pergunta onde encontrar esse ou aquele filme-referência pras suas pesquisas. E não falo só dos clássicos, mas do que é produzido hoje, que participa de festivais internacionais e não chega a Brasília porque não tem onde ser exibido. A opção é ir contra todas as teorias politicamente corretas contra a pirataria e baixar da Internet (Oi? Tô errada??). Porque nem as locadoras estão sobrevivendo pra ajudar a contar essa história. Quem tem uma resposta pra isso? Eu, honestamente, só queria entender.

Bejinhos revoltosos.

sexta-feira, maio 06, 2011

Envelhecer é perder amigos


Aviso logo: este não é um post divertido. E digo também: essa história de perder pessoas não é legal. Não mesmo. Eu queria saber porque desde que eu me entendo por gente se diz que o brasileiro não é educado culturalmente pra entender a morte e ninguém faz nada pra mudar isso. Hello? Os orientais e os mexicanos estão aí pra nos ensinar algumas coisinhas. Vamos tentar aprender com eles?

No último mês duas pessoas muito queridas se foram: um colega de trabalho e um dos melhores amigos do meu irmão, que eu via em casa desde que eram moleques. E quer saber? Doeu. E ainda dói. E a dor vem por vários motivos. É a revolta por terem morrido cedo (36 e 27 anos, respectivamente). É a impotência de não poder fazer nada pra mudar isso. É a raiva de uma doença diabólica como o câncer, que ninguém consegue prevenir ou dar jeito depois que ela chega e toma conta. É a esperança perdida depois de um traumatismo craniano causado por um acidente de carro bobo, razão de uma imprudência. É a sensação de querer voltar no tempo pra rever os sorrisos deles e dar um último abraço e ter que engolir seco a triste realidade.

No meu trabalho o clima entre os que conheciam nosso amigo foi o pior de todos. Comoção geral. Em casa, um irmão está com o coração despedaçado com sua primeira perda de verdade. E eu queria poder fazer alguma coisa além de sentir uma dor profunda e muita vontade de chorar quando revejo fotos ou se toca no assunto. Só posso dar meu alento.

É necessário saber lidar com a morte. É importante tentar entender como tudo isso acontece e que a vida segue, por piores que sejam as circunstâncias. É difícil controlar os sentimentos e a dor que toma conta da gente. Esses acontecimentos tristes me fizeram lembrar de uma aula de literatura em que o professor explicava a frase célebre de Fernando Pessoa: "Navegar é preciso, viver não é preciso". Nada mais impreciso que a vida. Nada mais complicado de se definir, criar regras e conduzir do que o ato de viver. E é por isso que a gente deve aprender a dizer o que o coração sente, abraçar quem a gente ama, transmitir e mostrar todo o carinho e amor que a gente sente pelas pessoas queridas. Ao menos nos dá a sensação de que elas foram em paz sabendo que não passaram por aqui em vão.

Infelizmente, eu não tive tempo de fazer isso com essas duas novas estrelinhas que estão no céu. Mas esses momentos fazem a gente refletir e ter vontade de mudar alguma coisa, nem que seja a forma de sofrer e de dar amparo aos que ficam.

Como dizia um conhecido que também já se foi: "Envelhecer é perder amigos". Uma pena que isso seja uma verdade tão dura de se aceitar.

Beijinhos consternados pra vocês. Sintam-se todos abraçados e beijados por mim hoje.